No estúdio ou na rua? Prós e contras

A sessão externa está dominando alguns segmentos da fotografia comercial. Ensaios de noivos, books de gestantes, de modelos, fotos de família… uma boa parte disso está sendo feita na rua, e há bons motivos para que isso ocorra: pessoas que não são alvo frequente das lentes profissionais sentem certo desconforto em posar diante de um fundo infinito. De quebra, o cenário natural ajuda bastante na composição e é mais simples lidar com a luz do sol que montar uma série de luzes de estúdio. É infinitamente mais barato, também.

Claro que, se chover, a sessão pode ir para o espaço. E existe a questão da segurança: não é em qualquer lugar que se pode fotografar impunemente. Esse foi um dos motivos que levaram Primo Tacca Neto a optar pelo estúdio.

Natural de Xanxerê (SC), Tacca atua em Brusque, cidade catarinense do Vale do Itajaí. Com 32 anos de idade, está há cinco no mercado. Formado em sistemas da informação, optou pela fotografia após tentar a sorte como guitarrista de uma banda de pop rock. Foi assim: “Um dia eu vi uma foto e pensei: ‘Eu acho que consigo fazer igual’. Comprei uma câmera digital normal eu comecei a treinar. Mas eu notei que a transpiração era mais ligada ao talento do que ao conhecimento. Aos poucos, a fotografia foi tomando forma e eu deixei o meu trabalho para me dedicar totalmente à fotografia”.

Fotógrafo de moda e books, o catarinense admite preferir externas. Mas vê o trabalho render melhor no estúdio. Especialmente quando se trata de uma modelo experiente.

“Outra grande vantagem do estúdio é o fato de você conhecê-lo e saber tudo o que funciona nele, ou seja, é um ótimo lugar para criar, você tem todas as ferramentas ao seu alcance, a criatividade flui melhor”, destaca.

A questão financeira pesa na hora de abrir um estúdio (Tacca estima um aporte inicial de R$ 50 mil), mas ele credita também essa baixa popularidade a uma mudança de perfil. Não faz muito tempo, o fotógrafo entrava na profissão como assistente em estúdio. Atualmente, é comum o sujeito dispensar esse aprendizado. Isso tornou o lugar um ambiente estranho ao novo profissional.

Primo Tacca Neto: satisfação de ter um local para criar vale cada centavo

“Eu passei por isso quando comecei a fotografar em estúdio. No estúdio tem muito mais fatores que influenciam na qualidade da foto. Você trabalha com flash, fotometria, fundos diferentes, tempo de reciclagem dos flashes. Outro fator é que, em estúdio, a iluminação algumas vezes tem um ponto que você posiciona a modelo e ela tem que trabalhar ali; se ela virar o rosto, você perde a luz certa, então você precisa estar atento à direção”, avalia Tacca, para depois resumir: “Se o fotógrafo se acha bom em fotografia externa, vai descobrir que não sabe nada de estúdio quando entrar num”.

Apesar das dificuldades que impõe, o estúdio pode ser considerado um passo decisivo na carreira. Um divisor de águas, na opinião de Primo Tacca Neto, pois implica a adoção de uma postura empresarial: abertura de empresa, pagamento de impostos, contratação de funcionários, emissão de notas, planilhas de custos etc.

“Estúdio não necessariamente precisa ter equipamentos, mas o indicativo da profissionalização é ser visto com postura corporativa, ter um espaço para atender aos clientes e tudo mais. Fotógrafos de casamento não precisam ter estúdio, mas um espaço para atender os casais, por exemplo”, acrescenta o fotógrafo, que apresenta um último argumento em favor dessa decisão: “No final, a satisfação de ter um espaço somente seu para criar, receber os clientes, atender como você gostaria de ser atendido e levar a fotografia a outro nível vale cada centavo”.

DVD – Embora tenha começado na “cara e na coragem”, ou seja, fora do esquema ideal de assistente de estúdio, Primo Tacca Neto é um sujeito que batalha pelo mercado (“não quero que passem o que eu passei”, diz). E o recente lançamento de um DVDsobre books em estúdio pode, também, ser creditado a esse esforço.

O material é sua primeira iniciativa no campo dos conteúdos didáticos. E a julgar pelo retorno que tem recebido, não deve ser a última – por acaso, o tema mais solicitado é externas. Primo explica que, embora trate de técnica, a mensagem mais importante do DVD é: o fotógrafo precisa saber o que realmente vai fotografar. “Muitas pessoas me procuram para fazer um ensaio pessoal por diversos motivos, e antes de dar qualquer clique eu preciso saber qual a real motivação que a fez entrar no meu estúdio para fotografar. Uma pessoa pode ter vencido uma fase ruim ou doença e só quer se sentir bem e escolhe a fotografia para registrar isso. É aí que entramos”, afirma, ressaltando que essa percepção “é muitas vezes mais importante do que 50 mil reais em equipamento”.

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