Invista na sua assinatura, por Angelo Pastorello – Parte 1

O interesse de Angelo Pastorello pela fotografia nasceu quando ele tinha 14 anos quando na sua escola ele fez um curso de laboratório fotográfico. No começo ele fotografava só para poder revelar e ampliar. A magia do laboratório e suas possibilidades infinitas de resultados o encantavam. “Eu não me preocupava muito com o ato fotográfico, não pensava em temas, séries e nem conceitos, apenas fotografava para ter o prazer de revelar e ampliar as fotos” revela Angelo. Então, um dia certo amigo emprestou uma Nikon F2 para ele! Foi a primeira vez que ele pensou em um “ensaio”, em uma narrativa.

Com 18 anos trabalhou de laboratorista da Fuji Filmes do Brasil durante seis meses. No ano seguinte foi ser assistente do estúdio Forster & Brehm que atuava na área still, arquitetura e decoração. Lá Angelo aprendeu o trabalho profissional. Melhorou suas técnicas de laboratório, inclusive colorido. Aprendeu a usar uma câmera de grande formato 4×5, com todos os recursos de báscula e as diferentes lentes. Aprendeu a elaborar a luz de acordo com cada situação e a pensar em tudo que envolvia fotografia. Depois de 2 anos de assistente neste estúdio, começou a fazer seus primeiros freelas. O primeiro foi para a Revista Casa Vogue, onde fez vários trabalhos fotografando eventos e coluna social. Com 24 anos surgiu a oportunidade de fotografar para a Revista Casa Cláudia, onde, durante um ano e meio, fez vários editoriais de arquitetura & decoração. Esta experiência lhe trouxe agilidade na iluminação e uma percepção na composição de luz natural conjugada com luz artificial, tanto contínua quanto Flash. A partir dos seus 27 anos eu começou a fazer ensaios com modelos e depois de seis meses fazendo um Portfolio, começou a fazer suas primeiras fotos para revistas. Nas suas próprias palavras “este foi o começo!”.

PhotoChannel – Muitos fotógrafos hoje buscam fórmulas para fotografar. Gostaríamos de saber o que você pensa sobre quais estudos e conhecimento necessários para ser um bom fotógrafo.

Angelo Pastorello Fotografar é fácil. Celular fotografa e câmera é como um eletrodoméstico, todos podem ter. Nunca se fotografou tanto no mundo. As pessoas se comunicam por fotos (instagram). Mas nunca se entendeu tão pouco sobre fotografia, e nem precisa entender, para quem não quer ser profissional.

Acredito que para ser um fotógrafo profissional, entender de fotografia e ter uma “assinatura” existe um caminho de médio a longo prazo. É uma construção de carreira que precisa de tempo, amadurecimento e principalmente ter cultura geral, que é a maneira como você vê o mundo.

A imagem é subjetiva, mas o conhecimento não. Fotografia não é só feita de técnica. Isto é um é um pré-requisito para um fotógrafo profissional! É bom saber as técnicas para poder “desprezar” quando o importante é o olhar, que também é subjetivo.

Não acredito em regras, rótulos e fórmulas, o conhecimento fotográfico permite qualquer foto. Vejo muitos cursos “vendendo” um estilo, fotografia de cachorro, fotografia de gato, fotografia de mulher de 15 anos, fotografia de mulher de 16 anos. Nas fotos de nu e sensual os rótulos são vários e, geralmente, ministrados por pessoas que nunca publicaram uma foto!

Me parece aqueles cursos de pintura que pessoas fazem para ocupar a tarde, e depois fazem uma exposição! Um fotógrafo pode passar a vida fotografando um único “estilo”, mas isso não o autoriza a dizer que existe uma fórmula ou uma regra para aquele estilo. Existe a experiência dele.

Um curso de fotografia pode ajudar, dependendo do curso, mas não faz do aluno um fotógrafo profissional. Vejo pessoas frequentando um curso de alguns dias e em seguida se intitulando fotógrafos, e em alguns casos passam até a dar aulas. Por favor, cheque a história desses professores, veja o que publicaram, para quais veículos, revistas, publicidade, exposições. Lembre-se que qualquer pessoa posta o que quiser na internet.

O problema é que estes cursos de fotografia não são relevantes profissionalmente. Vendem um glamour que não existe. Fotografar é um ofício, o mercado é mutante e tem que batalhar muito para conquistar um espaço. Ao decidir em qual área da fotografia você quer atuar, é importante pesquisar sobre este mercado, quais as reais possibilidades de ganho, quais serão seus concorrentes, qual a estrutura mínima que você precisa: equipamentos, estúdio, iluminação, como montar um Portfolio e para quem apresentar este Portfolio.

Fotografia é luz, escrita da luz. Estudar Zone Sistem, entender e interpretar a luz e suas infinitas possibilidades em cada situação, saber como tudo isso interage com captação, seja ela digital ou em câmeras de filmes, sensibilidade (iso, asa), o que cada lente oferece, o que cada diafragma resulta na imagem, profundidade de campo, enfim, os pré-requisitos básicos de fotografia, incluindo saber fotometria corretamente, que hoje muitos acabam dispensando, o que é um grande erro.

Entenda de fotografia e fotografe o que quiser. Busque o seu estilo, a sua assinatura. É muito importante saber o que fazer. Não é tão fácil como parece. Tomar a decisão correta durante um trabalho profissional, em relação ao que foi pedido por exemplo. Existe o cliente, existe uma equipe, existe uma decisão e o fotógrafo tem que ser seguro para coordenar tudo.

Outro aspecto importante é falar sobre direção.  Não acredito que alguém possa ensinar direção, pois direção está diretamente ligada à personalidade de cada fotógrafo.  Não faz sentido alguém repetir o que eu disse para uma modelo, pois as pessoas são diferentes, as situações também. A empatia é única entre as pessoas, o momento, a adequação, enfim, direção se desenvolve com a experiência, com a maneira única de cada um lidar com cada situação, e claro, ter segurança do que se quer fazer. Mais uma vez eu digo: não existem regras nem fórmulas, mas existe sim entender de fotografia e isso ajuda na direção. Além de luz, fotografia é perspectiva, ângulos e composição. Sabendo um pouco sobre estes itens você vai saber o que dizer para cada situação e cada pessoa que estiver sendo fotografada por você.

(Confira amanhã a segunda parte desta entrevista.)

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