“Ei, topa posar nua?”

Diante de uma pergunta dessas, feita por uma desconhecida, qual seria a sua reação? No começo, Maíra Morais temeu que a resposta fosse, com uma frequência maior do que ela gostaria, um sonoro “não”. Não tem sido assim, entretanto, e a jovem de Brasília (DF), 24 anos, formada em jornalismo pela UnB, vem desenvolvendo um projeto de fotografia de nu que usa como modelos garotas que ela encontra pela rua, considera interessantes, e convida, na lata, a participar.

“Comecei a falar com as garotas que via no shopping, até em show corri atrás de desconhecida!”, diz Maíra, que não tem a fotografia como profissão, mas sim como seu “antidepressivo”. O ensaio, que ela vem publicando no Tumblr, é seu segundo projeto fotográfico: há dois anos ela desenvolveu o Vestido de dez reais, para o qual fotografou diversas mulheres usando um mesmo vestidinho comprado em brechó por dez reais. Na entrevista a seguir, Maíra conta um pouco mais a respeito dessa sua experiência, acompanhe:

Maíra Morais: susto ao fotografar numa casa abandonada (foto: André Cruz)

Há quanto tempo você fotografa?  Tem cinco anos que fotografo. Impressionante como voa! Minha primeira experiência como fotógrafa foi com uma câmera analógica que pertenceu ao meu avô. Na época, estava fazendo um trabalho na UnB para a disciplina introdutória de fotografia. Lembro perfeitamente da minha expectativa em relação às primeiras fotos. Estava me sentindo superprofissional… até ver as fotos reveladas. Todas estouradas. Não salvou uma sequer! Tive que refazer tudo. Acho um barato fotografar com filme por conta da expectativa em relação à revelação.

Fotografa profissionalmente? Bom, eu não diria que fotografo profissionalmente. De quando em quando, aceito fazer algum book ou ensaio para lojas, mas estou gastando a maior parte do meu tempo estudando para concursos. A fotografia é minha válvula de escape, meu antidepressivo, o ombro amigo quando não estou mais aguentando a rotina. Fotografo mais para mim mesma. Tenho dois projetos. Um que comecei em agosto do ano retrasado e já acabou, O vestido de dez reais (www.ovestidode10reais.blogspot.com.br), e o tumblr que começou no meio do ano passado.

Como surgiu a ideia de interpelar moças na rua e propor os ensaios de nu? E como foram as primeiras reações? Comecei a fotografar nus para o tumblr em junho do ano passado, mas a vontade de produzir algo assim era mais antiga. Quando o projeto do Vestido começou, em agosto do ano retrasado, eu já pensava em fazer fotos de nu ou sensual feminino. Via um bocado de referências, sonhava com as possibilidades, mas tinha muito medo da reação das meninas que eu fosse convidar e das pessoas que veriam o resultado. O Vestido me ajudou muito em relação à questão de autoconfiança. Além disso, construí um acervo grande de imagens que podia mostrar para as meninas quando as convidava. Na época que estava prestes a terminar o blog (do Vestido), já estava super acostumada a abordar desconhecidas e, por isso, foi mais fácil colocar em prática o projeto do tumblr. Comecei a falar com as garotas que via no shopping, até em show corri atrás de desconhecida! As primeiras reações costumavam ser de estranhamento no início, mas eu explicava o projeto, mostrava fotos que havia feito, pelo celular, e elas acabavam topando.

Como são desenvolvidos os ensaios e qual o objetivo dessas imagens? Geralmente desenvolvo minhas ideias para os ensaios em um caderninho. Vou à locação escolhida na véspera das fotos e fotografo os locais que pretendo usar, com o celular. Chegando em casa, revejo as fotos e começo a rascunhar algumas ideias de poses e enquadramentos (com aqueles homenzinhos de palito mesmo. Sou um zero à esquerda no desenho). É basicamente isso. Mas tento não me prender tanto às referências. Algumas das melhores fotos saem quando a modelo está distraída, arrumando o cabelo, em um lugar que eu nem tinha visto. O objetivo das imagens é explorar a beleza feminina de forma que agrade as próprias mulheres.

Seu cachê proposto às modelos são impressões das imagens. Como as pessoas reagem a isso e qual a reação ao ver o resultado dos ensaios? O “cachê” são as fotos em alta resolução gravadas em um CD. Não é um pagamento, mas uma troca. Eu amplio meu portfolio, e elas também. Se não forem modelos, ganham um book. Ninguém nunca me disse que achava injusto ou algo do tipo. Até hoje, felizmente, nenhuma menina ficou insatisfeita com o resultado das fotos. Ou, pelo menos, disfarçou muito bem! Mas, sério, uma das melhores partes desses ensaios é quando sento com a modelo para ver as fotos tratadas. É inexplicável a sensação que tenho quando vejo que a menina gostou.

“Acho essa questão da confiança uma das partes mais bacanas de qualquer projeto fotográfico”

E como escolhe as locações? Teve um episódio curioso numa sessão num local abandonado, que não estava tão abandonado assim… Como foi isso? Já fiz alguns ensaios em locações sugeridas por amigos, mas, pra mim, o jeito mais comum de escolher uma locação é passear de carro! Já achei vários matagais e construções nos caminhos que faço no dia a dia. A maioria dos ensaios é feita em locais inóspitos. Acho que deve ser um resquício da minha época de estágio em fotojornalismo! O resultado disso são algumas surpresas! Uma vez, fotografando em uma casa abandonada, apareceu o mendigo que morava lá. A menina estava seminua e de meia-calça. Saí correndo para a porta do cômodo onde estávamos, tentando esconder a modelo, e desatei a falar. Eu estava supernervosa, não me lembro de metade do que disse! Só sei que, em algum momento, expliquei que estávamos fazendo um ensaio e queria saber se poderíamos continuar. Poderia ter acontecido algo bem pior, mas, felizmente, ele foi para fora da casa e lá ficou até o fim das fotos. No fim do ensaio, agradeci e conversei bastante com ele. Desde então, passo lá de vez em quando para levar comida. Em outra casa abandonada, fui picada por um inseto e não vi. Só fui reparar quando meu dedo começou a inchar e, em seguida, minha mão inteira. Terminei o ensaio e fui direto para o hospital! Tive que tomar antialérgico, anti-inflamatório e antibiótico por uns dez dias.

Você tem experiência com modelos profissionais? Nesse caso, como é fotografar pessoas sem experiência diante das câmeras? Como você faz para obter delas a interação necessária ao ensaio? Grande parte das meninas que fotografo não são modelos. Por conta disso, acabo tendo que fazer umas gracinhas para descontraí-las. Mas não faço nada de especial. Costumo pedir pra que comecem a posar olhando para baixo, para os lados, que não me encarem diretamente até se acostumarem com minha presença, com a ideia do ensaio. Também me preocupo em abaixar a câmera em alguns momentos e conversar. Já falo muito por natureza, então costumo pensar que é como se estivesse em uma mesa de bar ou no banheiro com uma amiga. Falo sobre minha vida, sobre coisas corriqueiras com as quais ela possam se identificar. Além disso, faço questão de mostrar algumas das fotos que fiz para que se sintam mais seguras e saibam que podem opinar. Acho essa questão da confiança uma das partes mais bacanas de qualquer projeto fotográfico. Por isso, faço tanta questão de falar um pouco de mim para elas. Elas se expõem tanto pra mim, confiam tanto. Como em qualquer outra relação, tem de ter alguma reciprocidade.

Ao que parece, não há dificuldade, pelo menos para uma fotógrafa, em arregimentar voluntárias para ensaios, ainda que sensuais. Você acha que essa predisposição das pessoas em se expor num ensaio fotográfico seja algo recente? E a que se deve isso, em sua opinião? Algumas meninas não aceitaram meu convite. E seria prepotência achar que todas topariam. Pra falar a verdade, logo no começo, imaginei que não iria conseguir modelo nenhuma e saí chamando um monte de meninas. O raciocínio era algo como: “das quinze que eu chamar, umas duas devem topar”. Felizmente, das convidadas, apenas duas ou três não quiseram participar. Fiquei surpresa! Imaginava que seria bem mais complicado. Não sei se essa questão da tranquilidade em relação à exposição é uma coisa recente. Acho que não. Ainda hoje, tenho várias dificuldades ao explicar o projeto para algumas pessoas e já tive várias dores de cabeça com algumas meninas que, depois do ensaio feito, desistiram das fotos. A mudança que eu vejo está na facilidade com que temos acesso às informações. Graças à internet, muitas garotas veem meu trabalho e entendem que não é pornografia ou um nu agressivo. Resumindo, não é que seja mais fácil fazer fotos de nu atualmente. Depende de como o fotógrafo vai abordar o tema. Minha preocupação não é mostrar peito ou bunda. Se isso acontecer, vai ser porque, naquele determinado ensaio, teve a ver com o contexto e com o estado de espírito de quem eu estava fotografando.

Que outros projetos você tem em mente? Por enquanto, nenhum. Fica complicado iniciar outros projetos com minha atual carga horária de estudo, mas pretendo continuar o tumblr por tempo indeterminado.

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11 Comentários

  1. Já tentei muito realizar um projeto assim, parabéns por conseguir, sua facilidade em conseguir modelos femininas não profissional por ser fotografa e não fotografo. Persigo uma foto de uma modelo que tenho em meus sonhos até hoje e não vejo a mínima chance de realiza-la. Já fiz nudez inspiradas em um fotografo americano Edward West que foi base de meu T.C.C, mas nada fácil e não saiu exatamente como queria. Como você mesma disse fotografar e com desafios torna o click bem interessante. Parabéns muito importante seu projeto !!!

  2. as fotos são tão lindas que dá até vontade de se candidatar a ser modelo rs. Parabéns pelo trabalho.

    1. Concordo, Clara. Existe um certo padrão nas suas modelos? Me interesso em posar nua e ninguém nunca me convidou, rs.

  3. Trabalho lindo, mas só tem menina magra, branca e de cabelo liso. É esse o pré requisito pra ser sua modelo? Seria ótimo você fotografar diversidade, tanta gordinha com curvas maravilhosas, sem falar nas negras com seus cabelos invejáveis. Ruivas também são lindas. Enfim, gostei do trabalho, mas me senti incomoda porque não me identifiquei, afinal, eu não “me vi” nas fotos…

  4. Ela faz questão das diversidades! Poderíamos pesquisar um pouquinho mais sobre o trabalho da moça pra constatar isso … Quem já conhece o trabalho viu! Parabéns pela projetos!!

  5. Lindas fotos, exelente trabalho, sempre tive muita vontade d ser modelo fotografica, sou bem elogiada,e bem desnibida, mas ainda nao tive a chance, tdos falam q ja passaram d hora d alguem me descobrir sou negra e me amo muito, dizem q eu tenho uma beleza exotica,mas nunka tive a chance de ser convidada a fazer fotos, ensaios, sonho sim, em sair na tv, poster revistas, entrevistas,etc…..espero q um dia realizo meu sonho de fikar bem conhecida atraves, da minha beleza negra.