Entrevista: Danny Bittencourt e a fotografia Fine Art como estilo de vida

O “Fine Art” é uma expressão muito comum na fotografia, algumas vezes é utilizado para explicar um processo de impressão e o mercado de colecionadores. Mas o termo significa mais do que isso, é uma prática fotográfica que não possui viés comercial e é caracterizado pelo tom fantasioso e por dar lugar a experiência do autor e suas condições psicológicas.

A fotografia Fine Art no Brasil ganha cada vez mais representatividade, a prova disso é o livro Fotografia Fine Art, de Danny Bittencourt que comemora um ano de publicação. Mas a autora deste livro também está de aniversário, sua carreira fotográfica completou uma década de muitas experiências, conquistas e compartilhamento de conhecimento. Em uma entrevista exclusiva Danny contou um pouco sobre a sua mudança pessoal com a fotografia, e a transição nesses dez anos.

Comecei depois de uma crise. Tive que escolher uma faculdade antes de entender quem eu era. Como acontece com tantos adolescentes, fui pressionada a escolher uma faculdade ao término no colégio. Meu gosto pelo mundo subaquático me levou para a Biologia, faculdade que cancelei logo depois do primeiro semestre. Aí vem as incertezas, cobranças e frustrações. Uma crise geral. Mas como eu acredito que toda crise nos movimenta, fui logo saindo do meu quadrado e decidi que precisava viajar pra me conhecer melhor. Trabalhei  meses em um restaurante, juntei minha graninha e fui pros EUA. Lá eu entendi que o mundo era muito maior do que o meu quarto! Voltei com a certeza que queria cinema e fotografia, e também que precisava me movimentar constantemente. Percebi então a minha inquietude. Logo que voltei para o Brasil em 2006 já emendei em curso de fotografia e depois entrei na graduação. Começava então minha história com a fotografia.

Muito diferente de quando comecei e certamente diferente de amanhã. Essa movimentação pessoal se aplica diretamente à fotografia. Comecei aprendendo a técnica, descobrindo áreas, mas só há 5 anos atrás entendi a fotografia como ferramenta de expressão, como linguagem artística. Uma nova crise me permitiu essa mudança de olhar e isso ampliou minha noção da fotografia e de suas vertentes. Eu sigo estudando diariamente, por isso noto que mudo as nuances do meu olhar constantemente. Acho absurdamente incrível a capacidade que a fotografia tem de se reinventar, de fazer refletir, de promover mudanças, de permanecer sempre viva.

O mesmo que alguns passos em uma estrada que não tem fim. Me sinto mais madura com o meu interesse na fotografia mas o que eu aprendi não dá conta. É preciso continuar em movimento, sempre aprendendo, compartilhando e entendendo que não existe certo e errado na fotografia e sim pontos de vista e experiências diferentes.

Eu não acredito muito em essência, acho que tudo muda, porque a gente muda. Os interesses e urgências mudam. Eu acredito em camadas, de vivência, de aprendizados que vão se sobrepondo e virando outra coisa. Me sinto assim nesses dez anos, adicionando camadas e contando com os vestígios daquelas que estão embaixo.

Todas as minhas exposições (8 no total) foram muito importantes pra mim, pois é uma exposição não somente visual mas também de quem eu sou e de como enxergo o mundo. A exposição em Veneza foi importante pois levou meu trabalho para um outro contexto cultural e eu acho essa mistura sensacional. Eu sempre acreditei muito na troca, e o livro certamente foi a conquista que mais me proporcionou isso, pois os leitores puderam através das técnicas abordadas no livro, construir suas fotos e me mandar. Esse processo todo é muito importante pra mim, eu acredito muito que vivemos através das sementes que plantamos nesse mundo, para mim esse livro é uma das minhas sementinhas. A possibilidade de lançar um novo livro é totalmente estimulante e desafiador, faz com que eu busque ser cada vez melhor (como pessoa e como profissional).

A minha relação com a fotografia não é de técnica mas sim de estilo de vida. Para mim fotografia é experiência. Por isso não consigo responder essa pergunta pois ela não muda em mim, ela muda comigo.

Meu processo sempre foi controlador obsessivo, o que mudou foi eu entender e aceitar isso. Eu gosto de entender e construir meu conceito antes da execução da imagem em si, por isso minha fotografia começa a ser construída meses antes do clique. Eu roteirizo todas as imagens e é um processo agonizante onde fico sem comer e dormir por dias. O momento do clique é sempre muito rápido e leve. Quanto mais experiência eu acumulo mais entendo que esse processo continua denso e agonizante.

Tudo. Eu gosto de viver tudo que pretendo passar para eles, por exemplo se vou dar uma aula sobre cianotipia, eu fico semanas fazendo testes e estudando para passar tudo que deu certo ou errado, nessa lógica, se vou ensinar a fotografia artística, me parece óbvio ter uma produção artística com inserção no mercado e seus desdobramentos. Cada técnica e reflexão que incorporo no meu trabalho certamente estará nas aulas que ministro.

Aprendendo. Não quero parar de estudar nunca, pois entendi que assim consigo manter minha fotografia viva, ativa e em movimento. Movimento este que me levou até a fotografia há 10 anos atrás e que faz eu me apaixonar diariamente por essa ferramenta tão rica. A fotografia está viva em mim e pulsa como nunca.

Para comemorar os dez anos de carreira a fotógrafa criou um projeto intitulado “Ensaios Poéticos” que foi aberto ao público e teve uma ótima recepção. Confira algumas imagens.

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