Ensaio: um balé de imagens

fotoSilviaMachado/onde dançam meus olhos

O percurso de um artista pode ser entendido como um processo de autoconhecimento. Ao compreender os próprios sentimentos e motivações, ele começa a dar sentido à própria arte, num laborioso processo que visa comunicar – nem sempre com palavras – aquilo que carrega dentro de si.  

Silvia Machado, natural de São Carlos (SP), ex-bailarina profissional e atual fotógrafa de espetáculos, segue esse roteiro. Com o olhar impregnado de passos de dança, pois ainda vive em torno do palco, nas coxias e camarins, a paulista decidiu que precisava incorporar esse universo ao seu trabalho autoral.

Tal esforço é a matéria de Onde dançam meus olhos, série de imagens em preto e branco que ela coleciona desde 2004, nos teatros onde ocorrem as apresentações.

Silvia descreve seu processo de criação como algo extremamente intuitivo. E cita um ensaio anterior, Paisagens nuas – com fotos de nu tiradas em cor (veja aqui) – para explicar: “Depois de cada sessão, olhava o material e tentava compreender o que aquele corpo, aquela luz e aquela pele me pediam, e então trabalhava as imagens até chegar onde precisava”.

Esse trabalho de “manufatura” diante do computador tem grande importância no método criativo da artista, que afirma ficar “horas no computador até chegar onde elas [as imagens] me levam”. Em Onde dançam meus olhos, ela empregou o expediente no sentido de obter um contraste alheio aos meios-tons, resumindo a imagem ao essencial.

fotoSilviaMachado/onde dançam meus olhos

“Adoro esses cortes muitas vezes profundos, adoro esse grão que aparece na foto mais antiga, na foto que tem o maior corte, tudo isso não me incomoda em nada, ao contrário, reforça que o instante é muito poderoso e eloquente”, observa Silvia, que usou diversos equipamentos no tempo em que foi juntando as imagens, das câmeras mais simples aos equipamentos mais sofisticados.

fotoSilviaMachado/onde dançam meus olhosPor que decidiu utilizar o preto e branco nessa série, é algo que ela não sabe precisar: “Acho que existem perguntas que não têm respostas. Tenho um prazer enorme nas fotos em PB. Mas quero deixar claro que isso não significa que eu não goste de cores. Gosto, e muito, adoro a profusão de cores de Walter Firmo e Steven McCurry, por exemplo, que preenchem todo o nosso ser com uma aquarela instigante de tons e mais tons”, pondera.

Onde dançam meus olhos é a tentativa da artista de captar os detalhes que percorrem o olhar num átimo, mas que, para ela, contêm a essência da dança: força, gesto, delicadeza, entrega. “Através dos recortes que fiz, levo a imagem para o que vejo e quero que seja visto, e tenho a oportunidade de interagir com cada imagem, improvisando com ela, dançando com meus olhos”, explica Silvia, que ainda não sabe bem o que fará dessas imagens – apenas sentiu necessidade de colocá-las no “mercado”, antecipando uma futura exposição.

De momento, sabe apenas que elas são parte de um percurso que ainda não concluiu. Não enquanto as imagens continuarem a dançar diante do seu olhar.  “Às vezes acordo pensando numa imagem que fiz há muitos anos e preciso achá-la e trabalhar nela até que me diga alguma coisa. Às vezes, estou fotografando um espetáculo e, pronto, ali está ela”.

fotoSilviaMachado/onde dançam meus olhos

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