Ensaios de noivos com temas inusitados estão na moda, especialmente fora do país, onde os fotógrafos têm aplicado ao conceito Trash the dress diversas referências para encenar situações que remetam ao estilo dos clientes. De esportes radicais a séries de tevê, tudo tem sido usado para satisfazer o gosto nem sempre muito convencional do público.
No Brasil, essa moda (ainda) não pegou. Por aqui, o romantismo ainda dita o ritmo das produções e há pouca concessão para ensaios mais ousados, do ponto de vista da concepção – mesmo quando se trata de um trash the dress. Volta e meia, porém, um ou outro trabalho foge ao roteiro estabelecido.
Foi o que ocorreu com o fotógrafo de Campinas (SP) Bernardo Coelho, de 25 anos de idade. Por sugestão dos noivos, a sessão prévia do casamento foi realizada em um canteiro de obras em Jundiaí, tendo como cenografia o maquinário de terraplanagem que estava no local. A escolha do aterro se deu pelo fato de o noivo ser o dono da empresa responsável pela preparação do terreno que irá abrigar uma série de prédios, ao passo que a noiva, designer de interiores, é filha de construtores.
“Quando me sugeriram esse canteiro de obras, não imaginei que seria um espaço tão grandioso”, confessa o campineiro, que foi cumprir a tarefa “às escuras”: conheceu a locação apenas no dia do ensaio. “Acreditei no bom gosto deles, eles acreditaram na minha ideia de retratar mais fielmente quem são, e só descobrimos na hora da sessão o quão bacana iria ficar a junção de tudo! É o risco que se corre pra ter algo um pouco mais diferente do convencional, né?”
Bernardo aceita a condição de haver imprevistos durante uma sessão, embora procure reduzir ao máximo as chances de isso ocorrer. No caso desse ensaio, tudo correu da melhor maneira possível. “O tempo estava ótimo, com sol e vento fresco, o que proporcionou um belo céu azul e clima gostoso. Alguns elementos foram superimportantes pra que alcançássemos o objetivo: as roupas, o local em si, o amor, as brincadeiras, os balões, pois tudo isso trouxe à tona as características deles, além, claro, de suas profissões e dia a dia”, avalia o fotógrafo, que é formado em publicidade e faz pós em administração.
Para realizar o ensaio, ele contou com a ajuda da namorada, Lay Voos, seu braço direito nas coberturas sociais, de um empregado do noivo, que ficou responsável por manejar a retroescavadeira, e mais o irmão da noiva e sua namorada, que também deram uma mãozinha. Bernardo fotografou tudo com sua 5D Mark III e uma zoom 24-70mm. “Gosto dela, pois é muito versátil. Aliás, é uma Tamron. É uma excelente lente pra quem quiser comprar, pois, segundo reviews que li na internet antes de adquiri-la, estava ‘pau a pau’ com a da Canon. Mas, tem uma diferença: a Tamron é mil dólares mais barata. Já tive um probleminha com ela no autofoco, mas enviei para os EUA novamente e dentro de uma semana eles já tinham arrumado e nunca mais deu problemas… Tem garantia de seis anos. Tomara que chegue logo a especializada Tamron no Brasil!”, torce.
Ele também chama a atenção para a abertura do diagrama. Para condições como a do ensaio em Jundiaí, realizado num dia limpo e ensolarado, ele recomenda usar a menor abertura possível. “Usei em torno de f/7.1. Digo isso pra evitar o desfoque na máquina ou neles [os noivos], pois as imagens têm um quê de minimalismo, ou seja, nessas condições fica fácil perder o foco, ainda mais em se tratando de uma full-frame”.
Em seus quatro anos como profissional, Bernardo não tem dúvidas de que foi seu ensaio mais inusitado. Porém, ele não gosta muito dessa ideia de radicalizar nos temas, como tem ocorrido, pois sente nisso cheiro de modismo. Aliás, ele sequer concorda com a classificação que demos ao seu trabalho (Trash the dress), pois acha que isso também é coisa que passa.
“Acho que não tem certo ou errado. Tudo vai de cada fotógrafo. Só não concordo com modismos sem muito fundamento, pois pode ficar ‘legalzudo’ pela proposta, mas, e para o cliente? Ele vai olhar essas fotos daqui 20 anos e gostar delas ainda? Ou ele vai olhar e achar que aquele ensaio já não se adequa, já está fora de moda e realmente não faz parte do que eles viveram? A essência pra mim é a história, é o casal, e não o fazer por fazer porque um ‘gringo locão’ iniciou o negócio”.