Boudoir: a diferença está nos detalhes

Foto: Kelly Oliveira

A fotografia sensual – cuja expressividade está mais no que sugere do que naquilo que, efetivamente, revela – tem se mostrado um segmento promissor. Não importa a idade, não importa se casadas ou solteiras, mulheres dos mais variados perfis estão cada vez mais receptivas a um ensaio fotográfico numa linha mais ousada.

Na esteira desse interesse, surgiu o “boudoir”. Sua diferença para o ensaio sensual clássico está principalmente na aura romântica que o envolve. “Algumas pessoas rotulam o ensaio boudoir como sendo o ensaio sensual de noivas, mas não é bem assim”, explica Kelly Oliveira, fotógrafa carioca que atua em Rio das Ostras, na Região dos Lagos. “Na realidade, o boudoir seria o ensaio sensual de uma forma mais romântica, com certo ar ‘vintage’, dando muita ênfase aos detalhes e não necessariamente ao corpo”, classifica.

A palavra, francesa, foi usada originalmente para designar os quartos que as mulheres usavam para se vestir no século 19, ou ainda a penteadeira (ela diz que há divergências na tradução), por isso o ensaio remete ao momento em que a mulher está se arrumando, e por aí temos a associação com as noivas.

“De fato, as noivas se encantam muito com a possibilidade de ter esse ensaio e presentear o futuro marido com uma revista onde ela é a capa e todo o conteúdo interno”, concede a fotógrafa. “Como eu também trabalho com casamentos, o bacana é que, no momento em que algumas pessoas têm que deixar o quarto para que a noiva se arrume, eu permaneço e, nesse caso, o ensaio boudoir é feito com a noiva se preparando para o seu futuro marido. Por conta dessa possibilidade, as noivas costumam abraçar mais facilmente a ideia”, constata, destacando que, embora ainda pouco explorado por aqui, o boudoir está em alta.

Kelly fotografa profissionalmente há quatro anos. Como desde o início manifestou interesse em fazer ensaios sensuais, foi em busca de uma linguagem que se encaixasse melhor no seu estilo, um pouco mais sutil, de abordar o tema. Foi assim que descobriu o boudoir. Na época, ela trabalhava em São José do Rio Preto (SP). Divulgando o trabalho num site, foi logo conseguindo clientes. “Voltei a morar no Rio e desde então tenho crescido e apresentado a ideia por aqui”, informa.

Ideia que é baseada no uso intensivo das rendas, joias e outros acessórios. E na escolha do cenário. Kelly utiliza vários: pousadas, motéis, a casa dos clientes ou mesmo externas. A opção dependerá de uma conversa prévia, na qual as preferências da cliente (inclusive gosto musical) estarão em pauta: “O começo do ensaio geralmente é para nos conhecermos melhor, portanto brinco bastante, elogio cada coisa bacana no corpo e, conforme, eu for descobrindo, vou dando dicas de como ela fica mais bonita, ou o que fazer pra arrancar um suspiro maior do marido, e isso traz mais confiança a ela. Mostro uma ou outra fotografia do ensaio, para que ela veja como é linda e como realmente está arrasando”, detalha a carioca, cujo repertório inclui algumas piadas para obter sorrisos mais facilmente.

“A direção [da modelo] acontece de uma forma mais natural que parece, pois meu objetivo é que não tenhamos muitas poses feitas. É como se eu fosse um vouyer e, nesse caso, são poucos os momentos em que elas olham pra mim. Quando as coloco em alguma posição, é entre um movimento e outro que sai a foto perfeita. É o que ela desenvolve nessa posição que traz a perfeição”, considera Kelly, que coloca a música para tocar, dança e brinca para deixar a sessão a mais descontraída possível. “Ao final do ensaio, quando elas me olham, já me olham como modelos”, garante.

A sessão é feita sempre que possível sob luz ambiente. Quando necessário, Kelly recorre a um flash dedicado fora da câmera. “Tenho aqueles mini acessórios que fazem as vezes de acessórios de estúdio, como o mini softbox, por exemplo. Mas priorizo ao máximo a luz natural, ressaltando alguma coisa ou outra com o rebatedor”. Sua lente de trabalho é uma 50 milímetros: “Uso também uma tele, mas a ‘cinquentinha’ é ótima. Por toda a sua claridade e seu desfoque, faz toda a diferença”.

Talvez a ousadia não seja exatamente uma marca do boudoir, embora Kelly mesma já tenha feito alguns que descambaram para o nu. Segundo ela, interessa mais “brincar” de esconder e mostrar. Daí a importância de se focar nos detalhes, de se obter enquadramentos fechados. O ângulo é a chave para o ensaio ficar de bom gosto e sutil, acredita: “Me posiciono de forma a pegar ângulos que ressaltem a beleza e a sensualidade dela sem ser invasiva. Tenho fotos perfeitas em que nem mostro o rosto da modelo, em que a composição da pose e o foco em detalhes bem femininos é que deram a sensualidade”.

Isso reforça a importância de não se perder de foco a sensibilidade. São mulheres muito diferentes, mas cheias de expectativas, que se submetem ao olhar do fotógrafo. Com isso, vale atentar ao conselho final de Kelly: “Enxergue a beleza que cada mulher tem, pois temos mulheres magrinhas, gordinhas, longas, baixas, a questão é o que as fazem ser diferentes das outras magrinhas, gordinhas… Cada uma tem o seu diferencial e isso é que as tornam tão especiais”.

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