Imagine que você está em uma reunião de família, daquelas onde o almoço vira café da tarde, até chegar na janta. Trocam-se os pratos e talheres, o café é passado algumas vezes e a prosa continua longa e envolvente. É assim que nos sentimos ao assistir o documentário “Revelando Sebastião Salgado”.
O lançamento ocorreu em 2013, mas as histórias e o aprendizado com esse material é atemporal. A intimidade no documentário aparece de duas maneiras: com as histórias de vida contadas por Salgado, e pela fotografia e imersão na casa do fotógrafo e de sua esposa Lélia Wanick. E é ao abrir a porta para as câmeras que podemos passar a chamá-lo de Tião.
Salgado conta as aventuras de sua carreira e ao longo dessa conversa há muito o que se aprender sobre fotografia. “Eu adoro fotografar, eu adoro ter uma máquina no meu olho, a dinâmica que cria no meu quadro da fotografia, adoro encontrar soluções pra luz, encontrar soluções pra composição, encontrar todas as variáveis que entram no meu quadro fotográfico, nesse momento eu passo a viver de uma maneira muito forte a fotografia, e passo a ter um prazer muito grande com toda a dinâmica criada pela câmera fotográfica” diz o fotógrafo no início do documentário.
Ao apresentar um pouquinho de sua casa Salgado conta sobre o prazer em visitar exposições, e a sua relação com pinturas da escola holandesa. “Eu tenho a impressão que me influenciou muito na maneira de desenvolver a luz, é uma luz que coincidia muito com a luz que eu vi quando era criança no vale do rio doce. tinha uma luz forte o fato de eu ser muito branquinho, eu saia no sol, tinha que sair de chapéu se não meu nariz queimava e feria, então a gente tava sempre meio na sombra, então tudo que a gente olhava era da sombra pra luz, então eu acho que isso desenvolveu uma parte da minha fotografia que é interessante eu…esse domínio da luz, contra a luz. E quase toda a minha fotografia é feita contra a luz.”
O modo como Salgado nos apresenta sua concepção de fotografia vai muito além de técnica. Existe a observação, a filosofia e a imersão no que realmente significa esta arte. É preciso análise dentro do quadro fotográfico, alinhando sentimento e conhecimento, fotografia é literalmente o que Cartier-Bresson disse uma vez. “Fotografar, é colocar na mesma linha, a cabeça, o olho e o coração.”
PS: texto da jornalista Eliza Doré atualizado pela equipe do iPhoto Channel.