Se perguntarem ao fotojornalista Odair Leal onde fica o centro do mundo, a resposta virá com naturalidade: fica no Acre. E antes que alguém se espante com isso, dirá que é a partir desse estado amazônico que ele irradia seu trabalho para o resto do planeta. Da sua aldeia para o global. Na outra semana mesmo, Odair apareceu entre os vencedores de um concurso internacional promovido por uma associação de fotógrafos chinesa. Participou a convite da entidade, depois que uma reportagem com fotos suas sobre a situação dos índios ianomâmis chamou a atenção da agência Reuters. E pensar que Odair tinha “trauma” de fotografia…
Tudo por causa da separação dos pais. Quando seu pai saiu de casa, levou a única foto que o garoto possuía. A ação ficou associada à ruína do núcleo familiar, daí seu desconforto com relação a isso. Mais tarde, Odair decidiu romper a barreira: adquiriu uma camerazinha Love e saiu a fotografar. Em 1997, fez curso no Sesc e sentiu aptidão para o fotojornalismo. “Essa ideia ficou no meu coração. A vida continuou, servi ao Exército, minha atuação no quartel era na fotografia, como um dos fotógrafos do 7º Batalhão de Engenharia de Construção. Fui pegando corpo na profissão e, certo dia, passando em frente ao jornal A Semana, pedi estágio sem remuneração. Ali tudo começou de fato”, conta o acreano de 38 anos, funcionário dA Gazeta, principal jornal do estado, e colaborador da agência Folhapress.
Na redação, Odair lida com o trivial, pautas dos cadernos de política, economia e cidades. Suas coberturas mais significativas, porém, fogem ao factual. Estas, ele procura vender às agências, divulga em seu blog ou publica como livro. Tem um sobre os sem-terras da Amazônia e outro de uma viagem que ele fez aos Andes. “Este ano fui fazer cobertura de uma festa de uma santa apócrifa no meio da selva, na fronteira com Peru e Bolívia”, informa o fotógrafo, acrescentando que tudo é feito por conta e risco. O que indica que os melhores recursos não ficam exatamente no “centro do mundo”.
“Nesta região é tudo maravilhoso, mas para a fotografa aqui é muito complicado, pela logística, a distância, é tudo muito dispendioso, financeiramente falando”, reconhece. Apesar disso, e também porque temas relacionados à floresta amazônica costumam chamar a atenção da opinião pública internacional, ele vem contabilizando êxitos. O mais importante, sem dúvida, foi o Humanity Photo Awards (HPA), categoria Performance, concedido pela China Folklore Photographic Association (CFPA) com apoio da Unesco. A matéria que deu origem ao prêmio foi realizada em outubro de 2012. Odair acompanhou a repórter Elaíze Farias, do jornal A Crítica de Manaus (AM), onde então trabalhava, até a reserva Ianomâmi, cujo território sofre com a ameaça do garimpo. Depois que saiu no jornal, a história foi divulgada pela Reuters.
“Teve várias etapas as quais fui conquistando”, diz Odair sobre o prêmio, recebido também por outros 100 fotógrafos nessa mesma categoria. “A primeira foi ser escolhido para a pauta, numa editoria com doze fotógrafos, e ser escalado para fazer a viagem. Segundo, ter as fotos publicadas na Reuters. Em terceiro, ser convidado a participar do concurso (só por meio de convite), pois até então nunca tinha ouvido fala em HPA”.
Para ele, um reconhecimento pelo esforço: “Estou buscando sempre fazer o melhor na minha profissão. Sempre buscando uma boa luz, ângulos e conceito à minha fotografia. No jornal, fiz algumas coberturas especiais, duas delas renderam prêmio: um Embratel Regional em equipe (‘A maior cheia do Amazonas’) e um de ensaio individual, por ‘Nação Ianomâmi’. Mas sempre dou graças a Deus por me proporcionar conquistas. De um trauma na infância ao reconhecimento internacional, só Deus mesmo…”