De NY: Motoboy fotógrafo x fotógrafo profissional

Morando em Nova York e trabalhando em vários lugares dos Estados Unidos como correspondente e fotógrafo internacional, dono da Eclipse Photo Agency New York e da VIPs (Volotão Images & Photos Studios), fotografando praticamente todos os dias, sem tirar férias ou folgas, foi com esse pique nova-iorquino que resolvi vir ao Brasil para ver como estavam as coisas depois de quinze anos sem pisar na minha terra – pensando em ficar, inclusive.

Liguei para um amigo, um dos grandes editores de fotografia, que trabalhou em um dos maiores e melhores jornais do Brasil e estava no momento como editor de duas grandes revistas. Fiquei feliz em saber notícias e novidades dos amigos de profissão.

Mas, para meu espanto – e pensando que estava até brincando – ele afirmou que eu teria que voltar em grande estilo, com fotos maravilhosas publicadas em jornais e revistas, e o ideal seria fotografar a “Luma com o bombeiro”, ninguém tinha as fotos dos dois, pegar algo assim seria o máximo…

Rindo, perguntei: “Quem?” Ele respondeu: “A Luma!”, e falou sobre ela. “Mas ela não é importante, nem o assunto, isso para mim é fofoca, seria essa a minha volta em grande estilo?”, questionei. Ele respondeu que seria um ótimo caminho.

Vi que as coisas tinham mudado – e muito. Ele não era mais o editor que eu conheci e o sistema deve tê-lo engolido. Agora era preciso vender, acima de qualquer coisa: ideologia, técnicas, currículo e outras que acho importantes.

Comentei que, se essa seria a minha maneira de voltar em grande estilo ao Brasil, iria abandonar a fotografia, comprar uma carrocinha de pipoca e ficar passeando no calçadão de Ipanema e de Copacabana, parando para tomar um chopinho e vendo o pôr do sol todos os dias no Arpoador. Ele não gostou da resposta e mudou de assunto.

Mas a coisa piorou: disse ao meu amigo que tinha visitado outras redações no Rio e que as revistas estavam contratando os antigos motoboys, que trabalhavam com os fotógrafos pegando os memory cards e levando para as redações. Falei com alguns deles, e estes disseram que foram incentivados pelos editores de fotografia a comprar uma câmera digital qualquer, pois poderiam pegar algo durante essas idas e vindas ou nos plantões.

Meu amigo confirmou a informação, e que isso estava acontecendo em várias publicações. Argumentei que, em algumas, os fotógrafos profissionais estavam sendo afastados e os “boys” entrando em seus lugares. Nova confirmação.

Continuei com meu espanto: “Mas isso é um absurdo! Eles não entendem nada de fotografia e nem fizeram um curso, seus equipamentos são precários!” A justificativa foi: “Volotão, as pessoas têm que ter chances na vida, independente de serem motoboys ou não”.

Vi que as coisas realmente tinham mudado e que ser fotógrafo profissional, ter um currículo, ter publicado e trabalhado em várias redações não importava mais para algumas editoras, e sim receber salário baixo e trazer as fotos rapidamente, pois os “motoboys fotógrafos” usam motos e estão economizando também em carro e motorista, que é o normal de toda redação.

Uma coisa é certa: que saudades do tempo antigo! Se fosse para fazer com negativo ou cromo isso não aconteceria. Só que, na era digital, temos “fotógrafos” em toda esquina. Acho que vou virar “tricicloboy”. Abraços fotográficos.

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