Dirigir uma modelo ou uma cliente durante um ensaio exige, antes de tudo, conhecer o corpo feminino. Exige saber como a mulher se sente diante de uma câmera. Exige aprender como se comunicar de forma direta com uma menina de quatorze anos, uma mulher segura de 25, uma jovem senhora de 48.
Conseguir extrair o que há de belo na mulher, principalmente das que nunca foram fotografadas, é mais complexo do que parece. Se você já sabe disso, provavelmente estará sorrindo agora, lembrando o branco que teve ao não saber mais nenhuma pose para dizer para a sua cliente durante o ensaio. Para evitar isso, vamos a algumas dicas bem práticas:
Tenha um guia de poses – a cada ensaio que você fizer, separe as poses de que mais gostou. Não fez muitos ensaios? Olhe revistas de moda, portfolios de outros fotógrafos que o inspiram. Procure por padrões de pose na posição das mãos, ombros, joelhos etc.
Importante: fuja dos guias de poses que existem aos montes na internet. Em geral, são de gosto altamente duvidoso e com poses bregas ou antigas.
Envie poses à modelo antes do ensaio – se a modelo for inexperiente, enviar algumas poses antes do ensaio fará com que ela não precise aprender a pose durante a sessão de fotos. Ela aprenderá em casa, conhecerá melhor o seu corpo em frente ao espelho do quarto. No dia das fotos, ela estará mais preparada para fotografar e você terá menos trabalho em dirigi-la.
Com modelos experientes não há essa necessidade.
Decore três poses por ensaio – decorar 20 poses de uma só vez é impossível. Decore três poses para o seu próximo ensaio. No seguinte, decore outras três. Com seis poses, você já consegue muitos resultados. E assim vá fazendo, até chegar a um bom número de poses, que o deixará seguro em qualquer trabalho.
Seja objetivo, claro, direto – pode parecer besteira, mas ser claro e objetivo aumenta muito a produtividade do ensaio, reduzindo ruídos na comunicação.
Um exemplo de direção errada: “Vire para o lado”.
Qual lado? Só a cabeça? Só o olhar? Só o ombro? O tronco inteiro?
Exemplo de direção correta: “Traga o seu ombro direito para a frente, mantendo o queixo alinhado. Mova a perna esquerda sobre a direita. Mova só a cabeça para a esquerda, mantendo o olhar no mesmo ponto”.
Todas essas instruções são objetivas, detalhadas, e fazem com que a modelo entenda perfeitamente o objetivo.
Quando estiver trabalhando com modelos mais experientes, provavelmente você não terá que dar todos esses detalhes. Você só dará o sentimento da foto, o clima, e ela fará a pose conforme o pedido. Exemplo: mais sutil, mais sensual, mais natural etc.
Descanse a modelo – a cada pose, normalmente faço umas quatro ou cinco fotos com variações de composição. Fazer a modelo ficar muito tempo na mesma posição (10 segundos já é bastante tempo) faz com que ela vá “desmontando” a pose. Quer mais fotos? Peça para ela desfazer tudo e refazer. Aproveite e faça uma piada ou brincadeira nesse momento. Aumentar a intimidade ajuda a modelo a ficar menos tensa na frente da lente.
Mostre algumas fotos – comece o ensaio e vá clicando, dirigindo a modelo sem muita preocupação com detalhes. No começo, faça fotos bem abertas, que mostrem pouco a expressão – pois ela estará tensa – ou com uma lente tele ou 85mm, mais de longe, para não assustar tanto. Quando fizer uma foto que tenha gostado ou que seja impactante, mostre. Ao ver a foto e gostar do resultado, a modelo vai ganhar confiança no seu trabalho e nela mesma, se soltando mais a cada foto.
Erros mais comuns – braço hiperestendido e tríceps tensionados. Dá a sensação de que o braço quebrou ou que a modelo tem braço masculino. Ocorre normalmente quando a modelo está apoiada sobre o braço, sentada ou deitada. Como corrigir: evitar que ela se apoie com todo o peso sobre o braço.
Abaixo, algumas ideias que costumo executar nos ensaios (repare na posição dos ombros, direção do olhar, joelhos e pernas).
E, abaixo, a sequência de fotos a qual pertence a foto do começo do post:
LUCAS CAVALHEIRO é fotógrafo há sete anos e atua no mercado de moda e publicidade. É professor e sócio fundador da Escola de Fotógrafos, com sedes em Porto Alegre e São Paulo.
