O que você precisa para se tornar um fotógrafo autônomo?

Neste artigo, que não tem a pretensão de completar “Como criar o portfólio perfeito de fotografias”, não vamos falar da montagem dos portfólios, que já foi objeto daquele texto. Vamos dizer algo do dia-a-dia de um profissional que vem se firmando cada vez mais para atender as necessidades de um mercado que exige cada vez maior participação.

Assim, disciplina, tempo para contatos, organização de arquivos, uma agenda que funcione e controle de sua contabilidade são funções que o fotógrafo tem que assumir inicialmente, até arranjar quem o ajude, se pretende viver de forma autônoma – é o freelancer de marketing.

De portfólio na mão, cheio de criatividade, imaginação e muita garra, sai o fotógrafo autônomo para vender o seu trabalho. Pequenos e médios empresários formam o seu alvo. Ele é o propagandista daquilo que faz e é também um profissional que tem consciência de sua capacidade. E o que ele pretende? Basicamente, convencer aquele público da vantagem em ter em mãos um bom material que possa ser usado nas mais diversas formas de divulgação. E suas fotos são esse material… 

Foto: José Américo Mendes
Foto: José Américo Mendes

Todavia, não basta ser um bom fotógrafo, nem dominar com perfeição a técnica. Ao visitar seus possíveis clientes, saiba que é comum que eles peçam para ver as fotos que já foram vendidas, pois gostam de saber quem já usou o seu trabalho. Por isso é bom ter em mãos uma relação de clientes, com as fotos já utilizadas em seus comerciais, caso não a tenha, seja sincero e não comece a sua vida profissional com mentiras e enrolações. Ofereça então imagens que, por sua qualidade, possam compensar essa falta, com algo mais genérico, como paisagens, fotos de detalhes de arquitetura, de cenas urbanas, de movimentações fabris, etc. A maioria a cores, muito embora possa haver uma ou outra em preto-e-branco.

Isso, meu caro, é o seu portfólio, através do qual seu trabalho será avaliado. Em “Como criar o portfolio perfeito de fotografias” analisamos sua montagem, mas não custa lembrar que embora haja uma diversidade de medias, como veremos adiante, o que ainda pesa na hora “H”, junto aos empreendedores e pequenos industriais, é a foto impressa.

Os contatos oscilam muito nas duas extremidades do convívio profissional: se há aquele cliente receptivo (e raro), de mente aberta, que reconhece a importância e a conveniência do material que lhe é oferecido e aceita um trabalho sobre os produtos que vende, o freelancer vai tomar, na maior parte das vezes, um chá-de-cadeira e, no fim, uma negativa.

Mas há também um outro elemento, que incomoda bastante – o que pressiona!

Foto: José Américo Mendes
Foto: José Américo Mendes

São clientes querendo o trabalho para ontem, jamais satisfeitos com os resultados, sem entender nada de fotografia e sempre reclamando do preço. Mas é preciso saber lidar com isso, já que a atividade passa a ser uma opção de vida. Assim, ser freelancer é, sem dúvida, uma forma de realização pessoal e profissional…

Com relação ao amadurecimento na carreira, o que se constata é que alguns profissionais, pela repetição de um mesmo tema, acabam dominando o assunto, quase uma especialização, seja em gastronomia, joias, perfumes, roupas, objetos de arte, etc., enquanto outros são atraídos justamente por propostas sempre diferentes, enfrentando situações diversas. Ambos os caminhos levam a uma dedicação acentuada, muitas vezes criada pela realização continuada de fotos para um mesmo cliente, formando quase um vínculo profissional, que termina invertendo a ordem das coisas: quem corria atrás de clientes, passa a ser procurado…

O Mercado de Trabalho

Agências de publicidade, editoras, ou empresas jornalísticas, mesmo que possuam seus quadros de profissionais, eventualmente se servem de fotógrafos autônomos, seja em uma emergência, seja para matérias específicas. Mas há um setor que vem ganhando importância pelo uso que faz, a cada dia, desses profissionais: é o e-commerce, que está em pleno desenvolvimento no Brasil, no qual pequenos e médios empreendedores buscam divulgar seus produtos sem o aparato e os custos de uma agência, além de usar a penetração da internet.

Foto: José Américo Mendes
Foto: José Américo Mendes

As fotos, que devem ser sempre de ótima qualidade, desempenham o papel central uma vez que atendem a uma grande diversidade de produtos, para uso nos mais diversos veículos e em contextos distintos. Com isso as principais características de um freelancer são a versatilidade, o  conhecimento técnico e a capacidade de improvisação, que lhe permite encontrar sempre as melhores soluções e os resultados mais satisfatórios.

À primeira vista o mercado pode parecer saturado, mas estudos mostram que, com a adoção do e-commerce, na realidade ele guarda enormes possibilidades, com um vasto campo a ser explorado, que ultrapassa os seis milhões de possíveis clientes. Hoje a figura do pequeno e médio empresário ocupa um lugar importante no mercado, buscando oportunidades de crescimento e expansão graças a iniciativas do governo, como a facilidade de crédito nos bancos oficiais e os programas do SEBRAE.

Tudo isso incentiva a busca por instrumentos de divulgação que se traduzem na criação de folhetos, catálogos, folders, banners, painéis, calendários, brindes diversos e espaços na Internet, com um largo emprego de fotografias, já que o foco do mercado está intimamente ligado à divulgação da imagem e à sua valorização como o elemento mais completo na linguagem visual, principalmente nas redes de franquia.

Em um passado não tão distante, a carreira de um fotógrafo autônomo apresentava enormes dificuldades: os espaços em estúdios eram poucos, assim como os laboratórios que revelavam o filme Ektachrome, da Kodak, que produzia os positivos, conhecidos como “cromos”, implacáveis com os erros, e que por sua vez iriam compor os fotolitos necessários à impressão a cores. Assim, ser chamado por uma editora para uma foto era algo a ser comemorado!

Foto: José Américo Mendes
Foto: José Américo Mendes

Hoje a praticidade é enorme com a fotografia digital, onde o profissional conta com o tratamento das fotos através de programas específicos, como o Photoshop, o Corel Draw, o Illustrator e tantos outros. Isso deixa o fotógrafo com pleno domínio de corte, enquadramento, realce de cores, sobreposição de imagens e o que mais necessitar, mas caso não consiga dominar toda essa tecnologia, até mesmo por uma questão de custos, já há quem faça esse tratamento de imagens a preços módicos.

Como entrar no mercado de trabalho

Algumas medidas devem ser tomadas para um ingresso tranquilo no mercado de trabalho, muito embora elas sempre venham a sofrer adaptações pelas características diárias.

A primeira delas é criar um arquivo de fotos, que não precisa ser muito extenso, mas que deve ser variado: paisagens, fotos industriais, alguns “still life” (fotos de produtos, em tradução livre), que podem ter as concepções mais diversas como produtos de toucador, joias, gastronomia, etc., e que mostrem a criatividade e versatilidade do profissional. É com esse arquivo que ele vai montar o seu portfólio…

Foto: José Américo Mendes
Foto: José Américo Mendes

As fotos, hoje mantidas no computador, podem dispor de novas formas de exibição, como CDs e tablets, com verdadeiros shows de montagem. Mas, ainda assim, durante o último Salão de Franchising, no Riocentro (RJ), entre quase 200 expositores, 84% deram preferência às fotos impressas para a avaliação dos trabalhos e isso traz de volta o book, onde se destaca um elemento que raramente é lembrado, apesar da importância da sua escolha para a impressão da foto –  o papel.

Os papéis fotográficos são apresentados em uma boa variedade de tipos e marcas, como a Epson, a Pimaco, a Data Jet (uma das mais extensas), a Spiral, a Syspaper (com sua linha couchê), a Sistem (com sua linha Inkjet) e outras menos votadas.  O tipo brilhante (cuidado com as digitais ao manuseá-lo), semi mate e mate têm a preferência, mas fuja do convencional, pesquise outros tipos nas lojas, e não se esqueça de algo muito importante: o papel deve ser compatível com a capacidade de trabalho de sua impressora.  Não adianta comprar um papel muito sofisticado, ele não passar pelos roletes da máquina e ter que fazer a impressão fora…

Os trabalhos depois de montados poderão compor books, ou lâminas, para formar o seu portfólio (veja “Como criar o portfolio perfeit de fotografias”). O importante é que o cliente se interesse por vê-los e projete a sua necessidade naquele material que lhe é apresentado. 

A segunda medida é buscar a clientela. Dificilmente o freelancer chegará ao diretor de marketing de uma grande empresa que, normalmente, já tem uma agência para produzir todo o material necessário, além de uma secretária feia, meio alucinada e difícil de driblar. Em compensação, na outra ponta da corda, estão os pequenos e médios empresários. São os empreendedores, que necessitam divulgar seus produtos levados pelo princípio de que “se você não mostra o que faz, ninguém vai saber que você existe”…  Dentro desta linha de raciocínio, muito embora possa parecer ultrapassada como meio de divulgação, já que o retorno é considerado baixo, a mala direta ainda é mais usada do que se possa pensar, mesmo porque na maioria dos casos é o meio mais seguro de se chegar ao responsável pela área de marketing da empresa. Mesmo que não haja uma resposta imediata, aquele folder (mas que não seja em P&B como este!) junto  ao cartão, vai servir como referência quando a necessidade chegar…

Foto: José Américo Mendes
Foto: José Américo Mendes

A terceira iniciativa é comparecer às grandes feiras. São Paulo e Rio possuem um calendário bastante variado onde se destacam a Feira de Utilidades Domésticas e o Salão do Automóvel no Anhembi, assim como a Feira da Providência, no Riocentro e o Salão Náutico, na Marina da Glória, onde sempre se consegue um bom número de endereços.

Recolha o máximo de impressos distribuídos pelos expositores e analise depois, com calma, o tipo de material de promoção apresentado nos stands, com a sua qualidade, com as suas falhas e que por vezes mostra uma outra opção para aquele trabalho ser muito mais proveitoso para esse provável cliente. Pode não parecer, mas essa análise ensina muito, e facilita uma posterior abordagem…

Foto: José Américo Mendes
Foto: José Américo Mendes

Como um adendo a esta última iniciativa, vale seguir nos jornais as novas tendências de mercado e procurar aqueles que estejam inseridos nelas. A lista de possíveis clientes é algo que só tende a aumentar, porque constantemente outros prováveis contatos serão anexados a ela, e mesmo aquele que recusou um serviço hoje pode vir a ser um cliente amanhã, e merece ser revisitado…

Mas há também um detalhe, que tenho sentido nos últimos anos: em princípio, com a entrega das fotos o trabalho estaria terminado, mas a coisa às vezes se prolonga com uma tendência a cobrir outras áreas de interesse de ambos os lados, ou seja, o profissional não encerra sua participação apenas com a entrega das fotos. Não raro ele preenche espaços, como o controle de qualidade da impressão do material (afinal são suas fotos que estão ali!), enquanto o cliente se sente mais seguro em um terreno que não é o seu. Esse desdobramento  amplia a participação do profissional e se traduz em melhores salários.

Os Custos                      

No passado, o preço de uma foto demandava todo um cálculo complicado: era a produção da foto com modelos, pessoal de produção, acessórios e locações, o trabalho de laboratório (às vezes, tudo tinha que ser refeito), o aluguel do estúdio, a luz, o telefone, até o tamanho das fotos e uma série de outros componentes.

Hoje, embora ainda possam ocorrer alguns custos extras em uma foto, eles são raros e podem acontecer, por exemplo, pela necessidade de transporte do equipamento do estúdio ao local do trabalho. Isso, por certo, contribuirá para o preço final e esse detalhe deve ficar bem claro ao cliente, constando do contrato.

Foto: José Américo Mendes
Foto: José Américo Mendes

Caso o profissional tenha condições de pesquisar os preços cobrados no mercado, a coisa fica mais fácil; do contrário, apele para o bom senso e não escalpele o freguês. Considere seus custos, inclua neles seus gastos pessoais e ponha um percentual cabível, que pode estar em torno de trinta por cento. Na Internet, há alguns programas que ensinam a calcular custos e definir valores. Mesmo com eles, não deixe de ver “Cinco Dicas Sobre Quanto Cobrar”, um vídeo do Armando Vernaglia Jr. que trago logo abaixo. Inteligente como sempre, ele esclarece dúvidas e desmistifica o preço. Também não tenha medo, ou vergonha de dar o seu , cobrando um valor razoável, para com isso prender o cliente, todavia, não faça fotos a preço de banana! Valorize o seu trabalho, a sua arte, a sua técnica, o seu conhecimento, e durante a carreira os preços irão se tornando mais equilibrados pela experiência adquirida. Como diz o Vernaglia, construir uma carreira leva tempo.  No mais, meu caro: boa sorte…

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14 Comentários

  1. Muito inteligente o artigo que acaba por completar o anterior, dando uma visão completa do que fazer para vencer na profissão.

  2. Um artigo difícil de encontrar nos blogs que só fazem traduzir matérias que nunca serão usadas por nós. É disso que precisamos: algo dentro da nossa realidade, parabéns!

  3. Depois deste, fui buscar o artigo anterior e achei ótimas as orientações. Parabéns pelas fotos e pelos conselhos.

  4. Adorei a abordagem. O caminho não é fácil, mas como foi mostrado já se sabe que atitudes tomar. Amei a foto do ovo!

  5. Muito inteligente o artigo que acaba por completar o anterior, dando uma visão completa do que fazer pra viver como free lancer

  6. Gostei muito da secretária feia e alucinada. Já topei com uma peça dessas.O artigo está muito bom e as fotos estão ótimas, continue assim, parabéns.

  7. Leio com atenção seus artigos e espero cada publicação ansioso pelo próximo assunto. Se possível, fale alguma coisa sobre filtros. Quais os melhores, como usá-los e quais são os mais usados. Dá para fazer? Um abraço.

    1. Eduardo, o assunto está na relação dos artigos a serem publicados. É só uma questão de tempo, porque o assunto é vasto e daria até uma apostila…

  8. Este artigo e o outro foram sob medida para mim que tenho pensado muito na carreira. Texto, fotos e vídeo é tudo que precisamos, por que é tão difícil de encontrar?

  9. Não é de hoje que namoro suas fotos, mas não sei o que há com as minhas, que não saem em foco, por maisque eu tente. Será defeito da máquina?

    1. Talvez o problema não esteja na sua câmera, mas nos seus olhos. Tente ajustar o foco em qualquer objeto através do controle de dioptrias, uma rodinha que fica próxima ao visor da câmera. Esse controle consegue equilibrar o foco se a defasagem visual não for muito acentuada, caso contrário, minha cara, o jeito é ir ao oculista.