Diagramação de álbuns: menos é mais
Não importa a linha de trabalho do fotógrafo: se mais espontânea ou mais focada no clássico. Não importa se o ensaio será um trash the dress na praia, se haverá making of ou uma sessão em trajes casuais. O certo é que tudo acabará, muito provavelmente, num álbum fotográfico. Independente das novas mídias, do espaço que a cinegrafia tomou para si, o álbum do casamento continua imbatível como registro desse momento importante na vida do casal. E, para que seja uma lembrança duradoura, resistente tanto aos efeitos do tempo quanto aos modismos, quem os faz garante: menos é mais.
“Um álbum clean é atemporal”, afirma Fernanda Ferraro. Carioca atípica (“não gosto de praia nem de calor”), 31 anos de idade, Fernanda fotografa desde 2010. Ela abraçou a profissão após desistir da advocacia. E investiu alto na nova carreira, fazendo cursos de primeira linha e divulgando seu trabalho numa feira de noivas com um material para lá de exclusivo: “Era um folder com uma faca especial, feito pelo publicitário Eduardo Gudelevicius, da Levicius Comunicação Integrada, feito num couché especial, ficou lindo e impressionava”. A estratégia deu resultado, um cliente foi sucedendo o outro e Fernanda fez seu nome no mercado.
Responsável pela diagramação de seus álbuns, a carioca gosta de sentar com o cliente para definir o layout das páginas (ou lâminas). “Quando isso não é possível, peço para o cliente escolher as fotos sem escolher a diagramação, senão geraria um retrabalho sem fim”. Embora saiba que há programas mais apropriados para a função – como o Adobe InDesign – prefere diagramar no Photoshop, tendo também por regra produzir sempre álbuns panorâmicos (“gosto de fotos grandes no meu álbum”).
O fato de acumular as funções lhe dá uma vantagem, pois Fernanda pode fotografar já pensando em como a imagem ficará no layout. Outros profissionais, por razões diversas, delegam a tarefa a um designer ou estúdio especializado em diagramação. Renata Bitencourt, 35 anos, natural de Curitiba (PR), é sócia do estúdio paulistano Book2u, que produz em média quinze álbuns de casamento por mês. Criado em 2008 com foco no público amador, ainda no primeiro ano a empresa ajustou o perfil da clientela e hoje tem 90% dos negócios voltados aos fotógrafos profissionais. Destes, 50% atuam no mercado de fotografia social.
“Quando o fotógrafo contrata apenas nosso serviço de diagramação, o prazo é de dez dias úteis para entrega da prévia do layout. Quando somos responsáveis por todo o processo, adicionamos a esses dez dias o prazo de impressão e/ou encadernação. Nesta etapa, o prazo depende do material escolhido. Tem modelos de álbuns que são impressos em dez dias úteis, enquanto os de encadernação artesanal podem levar até trinta dias úteis”, informa Renata, acrescentando que o preço do trabalho gira em torno de R$ 1.200 (para um álbum 30x30cm de 50 páginas).
Segundo ela, um complicador do bom resultado do trabalho está na propensão de alguns clientes a querer encher as lâminas de fotos, “poluindo” o layout, ou quando não entendem a necessidade de deixar áreas brancas para criar contraste: “Em geral, os clientes finais desconhecem alguns conceitos importantes para uma boa diagramação. A dica é explicar essas questões mais comuns no momento da contratação da cobertura fotográfica e apresentar um portfolio de acordo com a diagramação que será enviada ao cliente. Assim não haverá surpresa no recebimento da prévia do layout”, sugere.
Cleber Sousa tem por base usar quatro imagens por lâmina. “Um álbum com trinta lâminas, para ficar com uma edição bacana, teria que ter no máximo 120 imagens”, estima o designer gráfico natural de São José do Rio Preto (SP), 25 anos de idade. Possivelmente o primeiro profissional dessa área a expor numa feira de fotografia (na PhotoImageBrazil), Cleber começou sua trajetória em 2003, quando teve seu primeiro contato com o Photoshop. Atualmente, atende fotógrafos em mais de quinze cidades brasileiras e já “exportou” trabalhos para os Estados Unidos, Argentina e Portugal. Seu carro-chefe são os álbuns de casamento.
“A forma que trabalho é bem simples: o profissional envia as imagens por FTP, correios ou outro meio que for mais cômodo para ele, eu faço a edição do álbum em dez dias úteis e envio por e-mail em baixa resolução para ser aprovado. Depois de tudo aprovado, envio o álbum em alta resolução ou tenho a opção de entregar o álbum pronto a ele. Sessenta por cento dos clientes preferem pegar o álbum já encadernado”, detalha Cleber, que edita em média 40 álbuns por mês.
Tanto ele quanto Renata e Fernanda concordam: quanto mais “limpo” o layout, melhor.
“Tenho muita preocupação quanto aos meus álbuns saírem de moda no futuro, então procuro fazê-los mais tradicionais e em capa de couro ecológico, que é mais durável que a capa fotográfica”, destaca Fernanda, que evita falar sobre “certo e errado”, pois uma variável que serve para quase tudo também se aplica aqui: “A minha principal dica é não escolher muitas fotos, para não poluir visualmente o álbum. Mas gosto é gosto, né? Cada um tem o seu”.
“O álbum precisa contar uma história e enaltecer a beleza das fotografias. Não há necessidade de utilização de elementos que possam distrair e desviar o foco do assunto principal. Mas temos clientes que gostam de utilizar elementos gráficos e cores nos álbuns. Nesses casos, procuramos buscar cores derivadas das próprias imagens, elementos gráficos que estejam relacionados com o evento ou com a identidade visual do fotógrafo”, explica Renata, reforçando a importância das áreas de “respiro” das páginas: “As tão questionadas áreas brancas são essenciais na diagramação. Criamos uma área de descanso para os olhos do expectador. Elas também interagem com as áreas preenchidas do álbum e criam contrastes importantes que atraem o olhar de quem está apreciando a fotografia. O contraste é essencial para orientar a forma como o ‘leitor’ irá perceber as imagens no álbum, dando mais ou menos importância para algumas imagens em detrimento de outras”, justifica.
“Gosto de comparar a edição a um tapete”, diz Cleber. “Tem quem goste de tapetes de uma única cor, somente para compor o seu ambiente, e tem quem goste de tapetes com inúmeros detalhes e cores, tudo é questão de gosto. Uma coisa que já reparei é que clientes de cidades grandes têm uma facilidade maior de aceitar álbuns mais limpos, os de cidades pequenas ainda têm a mentalidade de achar que um espaço em branco na lâmina é desperdício de espaço”.
A exemplo do que faz Renata, o paulista procura orientar seus clientes a “sincronizarem” o portfolio ao seu estilo de trabalho. O objetivo é evitar que os clientes destes comprem gato por lebre: “No início foi um tanto complicado passar essa visão para os fotógrafos, mas depois de muita conversa eles foram se ajustando. Hoje os clientes finais (noivos) estão mais exigentes, eles não são mais totalmente leigos a respeito de fotografia”. Para o designer, é importante trabalhar em sintonia com o fotógrafo, mas sem comprometer o estilo pessoal: “Depois que formei meu estilo de trabalho, tive um resultado melhor e isso foi trazendo clientes cada vez melhores. Clientes cientes do que queriam, sabendo que poderiam enviar o álbum para eu fazer e que sairia um trabalho bonito, com um padrão de qualidade bacana, sem perder a característica de suas fotos”.
Questão de estética ou de gosto, a tarefa de quem diagrama é manter a memória do casamento fresca a cada nova folheada no álbum, não importa por quanto tempo ele fique guardado no armário. Para isso, é preciso que a edição não ofusque o aspecto fundamental desse trabalho: as imagens. “Elementos gráficos que façam parte do contexto do evento são bem-vindos e não ficam ultrapassados”, assegura Renata. Seus exemplos são: monograma do casal, logo do casal, grafismos utilizados na comunicação visual do casamento. “Evite utilizar elementos somente com a intenção de decorar o álbum. Nesse caso, o elemento só irá desviar o foco da fotografia”, adverte.
No mais, é caprichar na manufatura do produto e garantir que o álbum sobreviva a tudo – até mesmo ao sonho do qual ele derivou.
Bom gosto, criatividade e excelentes resultados. Este é o caminho. Entretanto, há que lutar (ainda) para convencer alguns clientes de que espaços em branco (como já citado acima) são necessários para a composição da página. Esta é uma luta que acredito não terá fim. De qualquer forma, parabéns pelo trabalho, muito obrigado pelas dicas (valiosíssimas) e viva a boa e velha FOTOGRAFIA!
Achei a matéria bacana demais. Mas acho também bacana dizer que é bacana ter uma equipe dentro do estúdio na edição de imagens. que se possível fora até o casamento. Nada contra aos designers, mas acho lindo também um álbum de casamento ser editado por quem esteve por lá. Mas entendo que as vezes o volume nos obriga a editar externo também.
Olá bom dia.
Festejamos os 15 anos da minha filha em 2011 e até então não confeccionei os álbuns. estou pensando em dar a ela de Natal, desta forma gostaria de ver a possiblidade de realizar um orçamento.
Podem me enviar as orientações e quais informações são necessárias para orçar um valor?
Fico no aguardo de um contato.