Ao mestre, com carinho
A eles confiamos a instrução dos filhos (muitos, inclusive, a educação). De alguns, guardamos uma recordação carinhosa, uma lembrança nostálgica de bancos de escola. Operários do futuro, professores preparam o alicerce de uma sociedade próspera e justa. A julgar pela forma como os valorizamos, fica fácil entender porque o País avança a passos de lesma.
O que não nos impede de celebrar o 15 de outubro, Dia do Professor, e enaltecer o papel que desempenham em nossas vidas. Especialmente porque, no que diz respeito à fotografia, muito há a ser creditado na conta de quem se dedica a passar à frente o conhecimento acumulado em quase 200 anos de escrita com a luz. Embora seja uma arte sujeita ao empenho pessoal e aprendizado per se, não inventaram ainda modo mais eficiente de aprender algo que pela mão de um mestre. É importante destacar, no entanto, que o ensino da fotografia no Brasil é fenômeno recente. Hoje temos cursos de graduação e pós-graduação na área, escolas de ensino da fotografia, congressos e oficinas em todas as regiões. Porém, o primeiro curso de nível superior foi criado apenas em 1999, pelo Senac (aliás, foi o primeiro da América Latina).
Para Altair Hoppe, um dos mais renomados profissionais da área fotográfica, ensinar fotografia e suas vertentes é um processo que teve um novo fôlego nos últimos quinze anos: em 2004, ele e sua equipe montaram um tour pelo Brasil para ensinar fotógrafos a trabalhar com o Photoshop, software de edição de imagens. Por anos, essa permaneceu sendo a única iniciativa de ensino com abrangência nacional, algo absurdo para o potencial do país. “A partir desse projeto, pudemos estruturar ações de ensino mais amplos e, em 2008, montamos congressos de estúdio e casamento que provocaram uma revolução na fotografia”, relembra.
A sede de evolução e desejo de promover a educação fez com que, em poucos anos, a forma de ensino de Altair Hoppe evoluísse e possibilitasse à fotografia nacional evoluir junto: hoje é comum fotógrafos brasileiros sendo premiados nos mais diversos concursos internacionais. E ainda que congressos e workshops sejam apenas uma vertente curta e rápida de ensino, Altair guarda a certeza de que sejam tão eficientes quanto os demais métodos.
O surgimento do primeiro curso superior, pelo Senac, teve por motor a iniciativa do fotógrafo e professor Thales Trigo, que fomentou e coordenou a criação da primeira faculdade de fotografia da América Latina, sediada inicialmente em São Paulo. Ao longo dos anos seguintes, essa iniciativa começou a despertar interesse de outras universidades e hoje o Brasil tem uma rede razoável de instituições que oferecem graduação e pós-graduação em fotografia.
Ainda há muito trabalho pela frente quando o assunto é o ensino de fotografia nas escolas: “Hoje, temos escolas de fotografia basicamente nas principais capitais. Grande parte das cidades do interior não dispõem de nenhuma opção. E isso cria um abismo no acesso ao ensino extensivo. A ideia de que para fotografar basta comprar uma câmera não é sustentável e enfraquece o mercado. Temos que pensar de forma sistematizada, que leve em conta questões técnicas, culturais e econômicas”, explica Altair. Segundo ele, não se pode evoluir a densidade da fotografia replicando apenas conceitos e fórmulas. Mais do que nunca, acredita, a imagem é um meio poderoso de comunicação em massa e precisa de qualidade visual e intelectual para contribuir com a sociedade, social e economicamente.
A educação e o ensino libertam as pessoas, criam novas perspectivas. “Eu vi de perto, nos cantos mais remotos do Brasil, o que a informação e o conhecimento fazem de bom na vida das pessoas. Ao mesmo tempo que, como educadores, temos uma grande responsabilidade de formar o mercado, ensinar é uma missão única, inspiradora e transformadora, onde a cada dia temos a chance de mudar a nossa percepção sobre a vida, o mundo e as pessoas”, finaliza.