Jonathan Jones, crítico de arte do jornal britânico The Guardian, na última semana meteu a mão num vespeiro que há muito tempo as pessoas deixaram de mexer. Sabe aquela conversa sobre o valor artístico da fotografia? A velha oposição entre pintura e foto? Jones cutucou a velha ferida num artigo intitulado “Porque fotografias não funcionam em galerias de arte”.
Concedendo que fotografias são um milagre do mundo moderno e ficam “fascinantes” nas páginas de livros e monitores de computador (“como deixar de se encantar com as primeiras fotos da superfície de um cometa feitas esta semana?”), Jones, que também é jornalista, parte para o ataque.
“É estúpido quando uma foto é emoldurada e exibida em uma mostra. Uma fotografia em uma galeria de arte é uma substituição sem alma e superficial de uma pintura. É um desperdício de espaço, enquanto curadores poderiam ceder iPads e nos deixar navegar em galerias digitais que poderiam ser tão bonitas quanto impressões caras”, justifica.
O articulista continua, contando que esteve numa recente exposição no Museu de História Natural de Londres, do prestigiado concurso internacional Wildlife Photographer of the Year, e ficou admirado com o fato de as pessoas ficarem tanto tempo olhando uma fotografia, enquanto ele “não conseguia olhar por mais que uns poucos segundos”.
Jones não resiste a fazer a velha comparação entre fotografias emolduradas e pinturas. Enquanto estas são resultado de “tempo e dificuldade, complexidade material, talento e arte”, as fotografias só têm “uma camada de conteúdo. Está tudo na superfície”, considera. Ele ainda critica o fato de a imagem vencedora do prêmio Taylor Wessing de retratos ter sido classificada como inspirada em Caravaggio pelo jornal Evening Standard. E desafiou os leitores a comparecerem na National Portrait Gallery, onde a exposição do Taylor Wessing está ocorrendo, e depois correr até a mostra de Rembrandt na Galeria Nacional. “Se você vir um milionésimo da vitalidade dos retratos de Rembrandt em algumas das fotos da National Portrait Gallery, nós teremos que concordar em discordar”.
Como era de esperar, o artigo repercutiu. Aqui no Brasil, o blogue Entretempos, da Folha, foi um dos sítios que rebateram os argumentos de Jones. “O jornalista erra ao menosprezar a complexidade de uma fotografia e as possibilidades que surgem ao ver grandes impressões de perto. Mostras como a do americano Gregory Crewdson, em cartaz há pouco tempo no MIS, e do canadense Robert Polidori, em 2009, no Museu da Casa Brasileira, são lembranças rápidas que facilmente derrubam as opiniões do britânico”, apontam Daigo Oliva e Cassiana Der Haroutiounian, que assinam a coluna.
Seu artigo, porém, concorda que há limitações na forma de exibir fotografias em paredes. “Com a crescente ‘era de ouro’ dos fotolivros, ficou cada vez mais estranho e desconexo visitar mostras que apenas sequenciam obras em um fundo branco e asséptico. Não é exagero dizer que, cada vez mais, artistas pensam seus projetos, prioritariamente, na forma de publicações impressas”.
O site Meiobit também deu seu pitaco na polêmica. Mas Gilson Lorenti preferiu desconsiderar a opinião do jornalista: “Não temos mais tempo para tamanha discussão sem sentido e, do mesmo jeito que ele critica a fotografia, poderia eu também criticar muito do que se está produzindo na pintura contemporânea. Acho que uma coisa deve ficar bem clara: fotografia não é arte, é um processo, mas ele pode e deve ser utilizado para fins artísticos”, defende.
“Jones anda visitando as mostras erradas”, concluiu o Entretempos. “Tempo de produção nunca deveria ser o parâmetro para avaliar a qualidade de nenhuma obra. Mas o britânico acerta ao apontar a falta de alma de algumas exposições. O foco do melhor da produção de fotografia contemporânea está nos fotolivros e não em exposições anêmicas e tradicionais como as de pintura”.
E você? De qual lado está?