Como usar molduras na composição de suas fotos?

Uma grande gota d’água caiu do teto sobre o rosto do homem que dormia no chão, envolto em peles de animais. Acordou assustado, podia ouvir as batidas do seu coração, abafando o ruído dos demais pingos d’água se espatifando no chão. O dia anterior tinha sido extenuante e triste. O grupo tinha caminhado o dia inteiro em busca de comida, mas não conseguiu nenhuma caça. Além disso, um membro da comunidade morreu envenenado pela picada de uma serpente. Um suave raio de luz, repentina- mente, adentrou a caverna, iluminando alguns apetrechos de caça que estavam junto da parede, fazendo com que o homem tomasse uma decisão. Silenciosamente, ele se levantou e foi despertar os demais companheiros. Após alguns minutos, eles todos caminharam em direção à entrada da caverna. Nesse instante, puderam observar, através da moldura que a entrada proporcionava, a paisagem da savana com cor amarelada, assim tingida pelos primeiros raios solares.

Foto: Stijn Dijkstra / Pexels

Em fila indiana, desceram a encosta na direção do riacho próximo. A espera por uma eventual presa poderia ser longa. Volta e meia eles afastavam os arbustos, formando uma pequena janela, permitindo, dessa forma, espreitar algum possível animal. Instintivamente, esses homens primitivos utilizaram as primeiras molduras composicionais…

Foto: Tobias Bjørkli / Pexels

Ou seja, definiremos como moldura todos os recursos usados para direcionar o olhar… Vale a pena lembrar que, ao olharmos o mundo através da máquina fotográfica, estaremos utilizando para isso o visor, que em última instância é uma moldura… O nosso cotidiano foi invadido por dezenas de objetos que, de tão corriqueiros, passam despercebidos como molduras. Podemos citar os espelhos retrovisores dos automóveis ou até mesmo o nosso velho espelho, no qual nos olhamos todas as manhãs. Se essas molduras são tão importantes na nossa sociedade, como aplicar esse conceito na fotografia? Essas molduras têm o formato de letras do alfabeto. As mais usuais são “L”, “U”, “O” e “V”. Sua finalidade é conduzir o olhar do espectador para o ponto de interesse da foto. Conclusão: as molduras composicionais conduzem o olhar do espectador para o centro de interesse da foto, eliminando distrações e gerando mais impacto. Vamos aos exemplos e analisar a composição com molduras.

Captei essa foto durante um período de férias. Tínhamos terminado o treinamento para emergências no deck 5 do navio, quando minha atenção foi despertada pela seguinte cena: uma senhora cuidava dos seus afazeres atrás de uma série de aberturas existentes na estrutura do navio. O que despertou meu interesse foi a angulação da cabeça, que praticamente tangenciava a aresta da abertura posterior. Esse fato gerava um retrato emoldurado pelo ritmo das estruturas e pela letra “L” invertida. Rezando para que a cena não fosse desfeita pelo movimento da citada senhora, me aproximei e, usando uma câmera compacta, realizei a foto. Foto: Ernesto Tarnoczy Junior

Este texto faz parte do livro “A arte da composição, volume 2”, do fotógrafo Ernesto Tarnoczy Junior que está disponível na loja online da iPhoto Editora: www.iphotoeditora.com.br.

A foto acima foi captada na Ilha Vitória, em Bariloche, na Argentina. Nesse caso, aproveitei as duas árvores para compor a imagem e formar uma moldura. O que me chamou a atenção, no caso, foi a tranquilidade que a cena transmitia. Foto: Ernesto Tarnoczy Junior

Muitas vezes, a própria luz cria molduras interessantes. É o caso dessa foto. Numa manhã de abril, aproximadamente às 8h30, ao chegar no clube, caminhando em direção ao vestiário, descobri a cena da foto1.9. Uma menina caminhava numa das alamedas. À sua frente, distante seis metros, projetava-se a sombra de um dos arcos cobertos pelas trepa- deiras. Percebi que a perspectiva formada pela alameda e a sombra do arco geravam uma moldura. Ajustei a câmera, aguardei a menina atravessar o portal em direção à luz, e realizei a foto, tomando o cuidado de colocar a menina no ponto áureo superior esquerdo. Foto: Ernesto Tarnoczy Junior

A visita a um dos “cerros” rendeu essa foto. Ao longe via-se um vulcão chileno. Notei que as cadeias de montanhas do primeiro plano serviam de moldura para a paisagem ao fundo. Usei uma lente zoom 70-300, que achatou a imagem, tornando-a quase abstrata. Com o auxilio do Photoshop, transformei a imagem em PB, tomando o cuidado de gerar todos os tons de cinza. Foto: Ernesto Tarnoczy Junior

Leia um capítulo inteiro, gratuitamente, do livro “A arte da composição, volume 2” e conheça todo o seu conteúdo no site da iPhoto Editora: www.iphotoeditora.com.br

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