Como fotografar uma Lolita?

A história do livro e depois filme “Lolita” todo mundo sabe:  o romance  entre uma adolescente e um homem de quase 40. Ele  é inquilino da casa de Lolita e depois vira seu padrasto. Ele se apaixona por ela e sua então esposa, ao descobrir, fica transtornada e, numa fatalidade do destino, acaba morrendo atropelada. O homem não pensa duas vezes e, tendo a guarda legal de Lolita, vai buscá-la no acampamento da escola e ambos partem para uma viagem, quicando de hotel em hotel, hospedados como se fossem pai e filha.

A história é polêmica e traz à tona o tema da erotização precoce e do fascínio de um homem mais velho por uma ninfeta. Fotografar uma modelo seguindo essa linha de pensamento é quase sempre um grande risco pois pode-se cair no vulgar ou no profundo mal gosto.

Recentemente, um grupo de fotógrafos que eu acompanho pediu para eu  preparar um ensaio inspirado nessa Lolita, porém que seja ousado e sofisticado ao mesmo tempo.  Acho interessante compartilhar com vocês os elementos que estou estudando para compor este ensaio a partir da sugestão do grupo:

  1. A Locação: Como eu já escrevi antes aqui , sempre que penso em um editorial ou pauta para um ensaio, começo por conseguir a melhor opção de locação. Avalio as condições, a distância do centro e as infinitas possibilidades que o local possa me oferecer, até mesmo se chover. Como vamos fotografar no Rio de Janeiro, a nossa opção foi recorrer a um sítio que nos traga um pouco de referência rural e também de época. É importante aqui ter o ícone gramado e a sala escura, como no filme.
  2. As Referências: Não dá para fotografar Lolita sem ler pelo menos trechos do livro ou ver o filme. Além disso fiz um mosaico de fotos do filme e outros editoriais que me lembram a temática. O objetivo aqui é já pensar na pós edição, no tom de cor e na composição de todo o ensaio.
  3. A Moda: É o mais simples, mas não menos importante. Vai de shorts, blusas, vestidinhos, tudo que fui buscar nas minhas pesquisas. Não encontrei nada de lingerie ou roupas vulgares como pode povoar o imaginário coletivo. Por isso é importante a pesquisa de referências.
  4. Os Modelos: Eu escolho os modelos só no último momento, mas já tenho a ideia de onde seguir. Para isso, tenho contato com as agências de modelos e já reservo até alguns perfis que eu imagino que possam funcionar para esse tipo de ensaio. Para dar mais veracidade para essa cena, decidi que vamos trabalhar também com um modelo mais velho e que provavelmente terei que achar em agências de elenco, figuração ou atores.
  5. Direção: Reservo uma parte de improvisação, mas de novo, sempre recorro à minha pesquisa para elaborar um catálogo de poses que eu vou sugerir para os modelos na hora H.
  6. Termino aqui com um trecho do livro que me  inspirou construir a minha pesquisa:

“E fiquei olhando para ela, sabendo, tão lucidamente como sei que vou morrer um dia, que eu a amava mais do que tudo o que jamais vi ou imaginei neste mundo, ou que possa esperar em qualquer outro. Ela era apenas um traço fugaz de perfume, o eco de uma folha morta, quando comparada à ninfeta sobre a qual eu rolara outrora gemendo de prazer; um eco à beira de uma ravina acobreada, com uma floresta longínqua sob o céu lívido, folhas marrons sufocando o riacho, um derradeiro grilho nas ervas ressequidas… mas graças à Deus, não era apenas esse eco que eu venerava. Aquilo que eu costumava acariciar entre as vinhas emaranhadas de meu coração estava reduzido a sua essência: todo o resto, o vício estéril e egoísta, fora abolido, amaldiçoado. Podem zombar de mim, ameaçar de evacuar o tribunal, mas até que eu seja amordaçado e semi-asfixiado continuarei a proclamar aos brados minha pobre verdade. Insisto em que o mundo saiba o quanto amei minha Lolita…”

Para quem se interessar em fotografar esse tema ou outros tantos que realizamos seguindo essa linha de produção é só acessar o site do Office I’m Shoot.

 

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