Você já deve ter ouvido coisas como “não é a câmera que faz o fotógrafo”, “o importante é o olhar, não o equipamento” e outras frases desse tipo. Tudo isso é bem verdade. Porém, não elimina o fato de que você, caso queira fotografar, terá necessariamente que usar uma câmera fotográfica – ou qualquer outro dispositivo que fotografe.
Um amador pode até se contentar em tirar suas fotos de um iPhone ou similar. Mas, se você pretender algo mais sério de sua fotografia, então terá forçosamente que pensar mais sobre o assunto. Com efeito, um aspirante a profissional tentará conseguir o melhor equipamento que seu dinheiro puder comprar. Só que há uma variedade de opções no mercado, além do fato de que cada segmento fotográfico guarda suas particularidades.
Por exemplo, se o objetivo for fotografar esportes, velocidade de disparo contínuo e capacidade de manter o foco no objeto são características importantes. Se o mercado em vista for o de publicidade, resolução de imagem já é um quesito mais desejável. Isso sem contar a ótica e alcance das lentes, estas sim mais importantes que a câmera em si.
Pensando nessas dificuldades, o Photo Channel pediu orientação a alguns profissionais, tendo por pressuposto a relação custo-benefício. Afinal, quem está começando nem sempre dispõe de um bolso muito folgado.
“Sendo objetivo na resposta e levando em consideração valores, qualquer câmera (de preferência, full-frame) com uma lente zoom 24-70 milímetros”, nos disse Angelo Pastorello, fotógrafo paulistano de publicidade, retrato e moda, a quem perguntamos especificamente sobre fotografia de retratos. “E pode ser tudo [equipamento] usado”, acrescenta, citando como exemplo a Canon 5D. Sobre a lente, reconhece que uma zoom não é a opção de melhor qualidade, mas tem a vantagem de fazer o trabalho de mais de uma objetiva. Para ele, ideal mesmo seria dispor de duas: uma 50mm e uma 85mm.
“Mas, para quem quer realmente aprender e se desenvolver baseado na melhor qualidade e nas diversas possibilidades, eu indico algumas câmeras analógicas. Os preços dessas câmeras e lentes usadas são bem interessantes”, destaca Angelo, listando as seguintes opções:
– Sinar 4×5 com lentes Schneider 210mm e 150mm: “Para quem quer muita qualidade e todas as possibilidades dos movimentos de báscula, e aceita back digital”;
– Hassel com lentes 120mm e 80mm: “Muita qualidade com médio formato (também aceita back digital)”;
– Leica R com lentes 90mm e 50mm: “As melhores câmera e lentes 35mm que eu já usei”;
– Canon ou Nikon com lentes 85mm e 50mm: “Câmeras usadas de baixo valor”.
Uma recomendação final: “Não existem ‘regras’ e ‘rótulos’ para fotografar retrato. Cada fotógrafo deve pesquisar e desenvolver seu próprio estilo, estudar luz e interpretação da luz, estudar ângulos e perspectivas, combinados com as diferentes lentes e suas características. Para quem quiser resultados mais personalizados, use filmes e fuja das automatizações do Photoshop!”, alerta.
Ainda com o pé no estúdio, porém pensando em moda, questionamos Sergio Borelli, que também atua nesse segmento em São Paulo (mais eventos e retrato). Ele nos informou: “Pensando em relação custo-benefício, para moda, a melhor opção seria a Nikon D7000. Te entrega um bom tamanho de imagem, suficiente para impressões em revistas (editorial ou publicidade), seu ISO até 1600 é bom, e é barata: cerca de 1.500 dólares”.
Trata-se da câmera que ele usa. Já seu kit de lentes inclui as seguintes:
– Nikon 20mm 2.8D: “Grande-angular clara e bem nítida. Comprei usada e não me custou mais de R$ 900”;
– Sigma 30mm 1.4: “Lente superclara, ótima para detalhes e relativamente barata, uns R$ 1.500. O foco não é preciso, mas é uma boa lente”;
– Nikon 50mm 1.8G: “Essa é obrigatória para qualquer iniciante, qualquer que seja a área de atuação. Bem clara, nítida, compacta e leve. Se alguém me perguntasse com qual equipamento iniciar, diria uma D7000 e uma 50mm”;
– Nikon 105mm 2.8 Macro: “Uma das melhores lentes que já tive: clara, supernítida e tem o tamanho ideal. Não tão barata, mas vale cada centavo”.
Portanto, se o orçamento estiver apertado, o melhor investimento, segundo Sergio, seria o par D7000 mais lente “cinquentinha”. “Mas, se puder gastar um pouco mais, pode pensar em pegar uma D700, que saiu de linha, mas você ainda acha por um bom preço, e uma 24-70mm. Tenho acompanhado umas sessões dos grandes fotógrafos de moda nacionais atualmente e uma coisa que reparei é que eles trabalham 90% das vezes só com a 24-70mm”, observou. Ele aproveita ainda para dar um toque sobre equipamento de iluminação: “Meu estúdio inteiro é Made in China, então não posso falar dos nacionais, só sobre o Mako 3003DC, que é um gerador a bateria com duas tochas. Resolve o problema tanto em estúdio como em externa. Já tive um e me arrependi de ter vendido”.
Sua dica final: “Eu acho que o pessoal que está começando na moda tem que estudar bastante e se preocupar com equipamento depois. Você pode ter um kit básico e, quando fechar um trabalho, alugar as lentes que vai precisar. Isso é uma maneira de economizar, ainda mais no começo de carreira. Assim como abrir um estúdio: você não precisa, por enquanto pode alugar um quando precisar. Só vai abrir o seu próprio quando estiver gastando mais com locação de estúdio do que com as contas de um, se tivesse”.
Saindo do estúdio e entrando em uma área que é visada pela maioria dos iniciantes, a fotografia social, pedimos a opinião de Julio Trindade, fotógrafo estabelecido em Florianópolis (SC) e colaborador do Photo Channel. Ele começa advertindo: o mercado não está para amadores. “Antigamente, o sujeito não dava certo em nenhuma profissão, daí tinha a ideia de virar fotógrafo. Obviamente, o modo mais rápido de entrar no mercado era a fotografia social. Hoje, ao contrário, é um dos mercados mais valorizados e competitivos no ramo da fotografia”, avalia.
Dito isso, Julio põe em questão a relação câmera-objetiva: melhor ter uma baita câmera ou uma excelente ótica? O fotógrafo mesmo responde: “Basta pensar que o que faz a foto é fundamentalmente a ótica. Claro que um sensor de qualidade irá reproduzir melhor as cores e os detalhes, porém, às vezes, vale mais a pena investir em uma câmera DX (cropada) e investir em lentes de melhor qualidade, como as fixas 50mm 1.2 ou 1.8, 35mm 2.0, 24-70mm f/2.8, 85mm f/1.8 etc. Eu particularmente prefiro as lentes fixas, são melhores e mais leves”.
A favor das lentes, ele lembra, há o fato de que duram para sempre – desde que bem cuidadas. “Ainda hoje utilizo lentes fixas antigas que funcionam perfeitamente e têm uma ótica totalmente diferenciada das lentes mais modernas, que possuem uma construção mais frágil, ou com um conjunto de lentes mais elaborado, o que diminui o recorte da imagem final. Obviamente recomenda-se que se adquiram as marcas top de mercado, mas algumas marcas paralelas, como Sigma ou Tokina, têm boas opções para quem pretende iniciar na fotografia”.
No que diz respeito às câmeras, Trindade oferece algumas sugestões:
– Nikon Dx (D90, D7000): “Uma ótima câmera, com um sensor moderno e ISO alto, de baixo ruído”;
– Nikon Fx (full-frame): “A nova D600 é uma boa alternativa de relação custo-benefício. A tradicional D700 eu garanto, pois já a utilizo há alguns anos, e a nova D800, com seus 36 megapixels, ótima para estúdio e externas”;
– Canon Dx (7D);
– Canon Fx (full-frame): 5D Mark II e 5D Mark III.
Por fim, seu o seu interesse recai sobre a fotografia de natureza, o gaúcho Zé Paiva, especialista no assunto, tem a dizer que o primeiro passo é definir qual aspecto desse segmento se deseja explorar. Afinal, natureza abraça diferentes especialidades: fotografia de paisagem, fauna, flora, macro etc.
“Eu diria que qualquer câmera com lentes intercambiáveis serve para pelo menos um desses temas, o que vai delimitar mais o tema são as lentes. Por exemplo, para fauna é necessário uma lente de pelo menos 300mm ou uma 80-200 e um teleconverter 1.4 (que a deixará com 280mm). Para macro, uma lente que aproxime do tema e, para paisagem, uma boa grande-angular”, explica Zé. “Minha sugestão para um iniciante seria lentes das linhas conhecidas como prosumer, intermediárias entre amador (consumer) e profissional. São lentes mais escuras que f/2.8, mas ainda assim muito boas, ainda mais que hoje temos a possibilidade de usar ISO mais alto e compensar a luminosidade mais baixa da objetiva. Eu mesmo uso uma Nikkor 80-400mm f/4-5.6 com excelentes resultados”, afirma.
Para saber mais sobre câmeras e lentes:
Dpreview: lançamentos, testes de equipamentos e comparativos (em inglês);
Ken Rockwell: um dos maiores bancos de dados sobre equipamentos, mantido por um entendido no assunto (em inglês);
Nikon: site da fabricante
Canon: site da fabricante