Sempre que viaja e vê alguma locação interessante, Marcus Steinmeyer, 36 anos, seis de fotografia, imagina um ensaio de nu. A reação ele não sabe explicar, mas é fato que o nu está sempre na cabeça. Reflexo talvez de seus primeiros passos na área: o primeiro “trabalho”, ainda amador, foi atender ao desejo de uma amiga de posar sem roupa. Atualmente, Marcus desenvolve o projeto My Beauty, através do qual procura provar que mulheres comuns podem ser tão ou mais sensuais que as modelos de revista.
Marcus nasceu na capital paulista, mas vive em Campinas. Diferente da maioria que acaba fazendo o que ele faz hoje, não manifestava interesse pela fotografia. Era pela publicidade que o coração batia mais forte: “Quando tinha dez anos, eu dizia que queria ser publicitário”. E realmente foi, mas a rotina extremamente acelerada das agências não combinava com ele. “Sou da arte, não da pressão”, afirma. Ainda assim, ficou mais de uma década assumindo funções de direção de arte e de criação, por seu turno também pressionou, até que o encanto se quebrou. No vácuo, entrou a fotografia.
“A fotografia foi algo inusitado. Apenas comprei uma máquina [uma Sony H1]. Por impulso, nunca tive curiosidade pela fotografia, tanto é que tive aula na faculdade (sou formado em marketing) e não me interessava muito. Era apenas mais uma matéria. Depois precisei aprender a mexer na máquina, aí fui vendo tudo o que dava para fazer e fui me apaixonando. Tive que aprender na marra, Youtube (principalmente), workshops e perguntando para outros fotógrafos”.
Naquele ensaio da amiga, Marcus pediu para usar o estúdio de um conhecido, foi a primeira vez que pisava em um. Fez as fotos, outras colegas viram, gostaram, e a coisa se encaminhou: “Quando percebi, já estava no negócio de fotos sensuais e deixando a publicidade de lado. Depois de um ano fotografando só ensaios sensuais, senti a necessidade de ir para outras áreas. Foi quando conheci o retrato”.
E esse ficou sendo o seu estilo preferido de fotografia. “Amo, de verdade. Tanto é que, em 2011, fiz um projeto que se chamava Retratoria. Fotografei uma pessoa por dia desde o primeiro ao último dia do ano”, acrescenta Marcus, que comercialmente manifesta a mesma preferência: editoriais e perfis para revistas são o que mais gosta de fazer, pois oferecem liberdade criativa. Por outro lado, também fotografa para publicidade, o que não dá muita margem para criação, mas compensa financeiramente.
“Eu nunca pensei em qual seria meu estilo ou minha maneira de olhar. Mas no caso da publicidade não tem muito como escolher. Em retrato, eu já gosto de conversar bastante com a pessoa, gosto que o clima seja leve, descontraído, assim é mais fácil tirar o que quero da pessoa. O importante é conseguir fazer seu assunto baixar a guarda. Inclusive, retrato e fotografia sensual são bem parecidos nesse quesito”, compara.
Embora tenha o nu sempre em vista, ao ponto dos seus projetos muitas vezes descambarem inadvertidamente para isso, Marcus na verdade procura outro alvo: “Acredito sim que a nudez reforça a sensualidade, porém acho que o clima da foto é o mais importante, essa é minha maior preocupação, deixar um clima bacana de forma que quem observe a imagem se sinta bem e ache aquilo bonito. Só depois a pessoa se dá conta de que aquela menina da foto pode ser sua vizinha, amiga, colega, namorada”, explica.
Como, no caso de My Beauty, o desafio é extrair sensualidade de meninas que não têm como rotina posar para fotos sensuais, o autor não procura estabelecer uma linha, uma estética condutiva (salvo o fato de ser todo em PB). Vai depender da garota: “Tento fazer com que a modelo se sinta o mais à vontade possível, podendo escolher entre fotografar na própria casa, locação ou no meu estúdio. Ou seja, às vezes faço luz natural, às vezes flash de estúdio e às vezes misturo tudo”, diz. Também não há produção envolvida: maquiagem, roupas e acessórios ficam por conta das modelos, que são todas voluntárias (no site do projeto é possível obter mais detalhes e se inscrever).
Nos últimos meses, tem havido uma demanda por ensaios sensuais “ao natural”, com mulheres de todos os manequins e sem interferência de pós-produção. O projeto de Marcus Steinmeyer não se encaixa nessa categoria: “As imagens têm tratamento sim, inclusive o nome da pessoa que trata as imagens está no site. Eu procuro, sim, fotografar mulheres comuns e acho até que o meu projeto é mais voltado para mulheres do que para homens. Tento sempre pensar nisso quando estou fotografando. Sendo assim, as marcas de pele, como estrias, celulites, são retiradas, a pele, quando necessário, é suavizada, porém só isso. Procuro não mexer na estrutura física da pessoa”, esclarece o paulistano, que relativiza a questão do retoque, lembrando que isso sempre existiu, mesmo na época do filme. Como não é um purista, prefere não entrar em polêmicas: para ele, ditadura da beleza (“sou contra”) e Photoshop são assuntos divergentes. Porém, ele exerce a sua ética: “Tento fotografar de maneira a deixar a foto mais próxima do resultado final possível. Isso funciona pra mim”, conclui.