Vanessa Atalla: mensagem para você

Imagine se você recebesse um e-mail de alguém (que acha que não conhece) falando sobre aquilo que você deveria ter feito (e não fez) ou sobre aquilo que você fez (mas que não deveria ter feito) quando começou a trabalhar com fotografia.

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Pois eu imaginei. E tenho muita certeza de que esse e-mail começaria assim, ó:

– Olá, Vanessa, tudo bem? Aqui quem fala é você (sim, você mesma) depois de alguns anos. Lembra quando você cursava fotografia e, numa aula sobre luz dura e luz suave, preferiu deixar o professor falando sozinho porque, pra você, esse era o tipo de assunto “deixa-pra-lá”? Pois é. O que você ainda não sabia é que, se tivesse ouvido um pedacinho da explicação, descobriria que aquele seu primeiro ensaio sob o sol do meio-dia, com um bolo derretendo, foi uma ideia pra lá de errada.

E naquela sua primeira festinha infantil como fotógrafa? Você lembra? Aposto um brigadeiro que sim. Hora dos parabéns. Que hora mais feliz. Você deixa todos os convidados se posicionarem em frente à mesa para só depois procurar seu espaço. Bom, nem preciso dizer que você demorou quase uma vida até conseguir um cantinho na frente da mesa, né? (e só chegou na metade dos parabéns…).

E esta cena aqui em outra festinha infantil:

CONVIDADOS: – …nesta data querida, muitas felicidades e muitos anos de vida!

VANESSA: – Quem foi que apagou a luz? A luz! Acendam a luz, pelamordedeus!

Não foi isso que você pensou quando o seu flash de última geração (e que você achava que tinha pilhas que duram-para-sempre) pifou?

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Bom, a boa notícia é que hoje você aprendeu a lição. Você leva pilhas extras, pilhas recarregáveis, pilhas assim, pilhas assado, carregador para essas pilhas, bateria extra, câmera de backup – e ainda assim reza para a Nossa Senhora do Flash sempre te iluminar, literalmente.

Ah! E a fotografia da hora dos parabéns? Você ainda teve sorte. Lembrou daquela aula sobre o tal do ISO que aprendeu no curso de fotografia e aumentou. E aumentou. E aumentou. E quis se convencer de que aquele efeito granulado até que era bem legal. Aí pensou mais um pouco e viu que não estava tão legal assim. Lição aprendida.

Próxima: aquele bendito dia em que você decidiu estrear a nova sapatilha que ganhou do marido num ensaio família que acabou durando mais horas do que você pensava. Para cada clique na câmera, uma bolhinha no pé.

Lembra também daquele dia em que você confirmou um ensaio no parque sem antes conferir a previsão do tempo? E choveu um céu inteiro de água? Bom, depois desse dia você aprendeu que, além de fotógrafa, é preciso ser a Garota do Tempo. Em tempo integral.

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Também teve o dia em que você quase infartou. Lembra? Na correria do final de semana, depois de quatro ensaios, dor nas pernas, já não sabendo nem seu nome mais, você achou que aquelas fotos do cartão de memória já tinham sido passadas para o computador e formatou o bendito. Aí sentou em frente ao computador na segunda-feira e, vixe!, cadê as fotos? Depois de muito desespero, lembrou que estavam em uma outra pasta. Ufa, o susto foi grande.

Foi nessa que você aprendeu que não importa o tamanho do seu cansaço e nem o que você vai fazer depois daquele dia corrido: a primeira coisa a fazer assim que chegar em casa é passar as fotos para o computador e fazer o backup na mesma hora para um HD – e ainda conferir se elas estão ali mesmo onde deveriam estar. E nunca subestime um cartão formatado (sério!).

Agora, você também fazia coisas por instinto e que deram bem certo.

Lembra que todos os dias você saía pra fotografar feliz? Você já sabia que quando se faz o que gosta as pessoas percebem. Aliás, mais do que isso: elas passam a gostar junto com você.

Você também nunca fez cara feia, nem pra gente pequena que te beliscava e nem para gente grande que falava: “Ah, é tão fácil ser fotógrafo, é só apertar um botão, um botãozinho e pronto”.

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E sempre respirou fundo. Contava todas as estrelas do céu e sorria para quem pedia para sorrir. Clap, clap.

Também aprendeu que trabalhar de graça, nem de graça. E não estou falando das primeiras festinhas e ensaios que você fez para adquirir experiência e segurança. Você fez muito bem em não cobrar por algo que ainda estava aprendendo a fazer.

Estou falando daqueles ensaios que vêm bem depois. Aqueles quando você já está no mercado e aparece um cliente pedindo primeiro um descontinho, depois um desconto e depois um descontão. E aí você dá, dá e dá o tal desconto e só depois percebe que seu trabalho ficou bem desvalorizado. Hoje você entendeu que cliente bom é aquele que sabe não só o valor da sua fotografia, mas o valor das lembranças que você ajuda a construir.

E quer saber? Pra mim, você sempre esteve no caminho certo. E isso nunca significou nascer sabendo tudo desde o primeiro clique. Significou, sim, aprender descobrindo, ouvindo. Lembre-se que todo mundo tem um céu cheio de estrelas sobre a cabeça. É só encontrar as suas e seguir feliz.

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