Patricia Prado: para falar de books

Foto: Patricia Prado/Photolounge

Quando comecei a fazer books, estava fotografando muitas festas de quinze anos e, como consequência, fazia sempre os books das adolescentes (adoro!). Donas de uma personalidade muitas vezes difícil, sempre consegui a confiança delas e – por que não dizer? – sua cumplicidade…

Sim, é isso mesmo que você entendeu. Certa vez, recebi uma mãe que tinha uma filha completamente punk e a mãe – pasmem – queria fotografá-la com uma roupa de bailarina…

Não preciso dizer o stress que aquilo estava causando no estúdio e o desconforto de ver ambas discutindo. Foi então que sugeri à mãe ir dar uma volta e deixar a menina comigo, pedido que foi prontamente atendido.

Comecei a trocar uma ideia com ela e descobri que amava teatro. Então, a menina que tinha as unhas pretas, piercing no nariz e aquele estilo todo diferente, concordou em fazer um personagem para agradar à mãe, que de certa forma estava se projetando naquele desejo. Psicologia… Nada foi imposto.

Quando a mãe chegou, tínhamos tirado todas as fotos e, no final, seu slide teria uma dose de graça e, para a menina, um tom de ironia, característico da sua personalidade.

Assim fui desenvolvendo esse meu lado sensível de observar e não querer bater de frente, deixando minhas “aborrescentes” super à vontade, o que é bom para todo mundo!

Foto: Patricia Prado/Photolounge

Quando criei o ensaio sensual para mulheres comuns, descobri que podia criar em cima de cada uma alguns personagens. Com certeza, a cada ensaio que faço aprendo mais e mais do ser humano, amo essa troca e acredito que não estou fazendo apenas um book, mas quem sabe resgatando a autoestima e o desejo em uma relação.

É muito gratificante quando elas nos dão um feedback do impacto que aquelas fotos causaram e, claro, vejo no brilho dos olhos o bem que indiretamente consegui fazer.

Há mais ou menos cinco anos resolvi fazer casamento e propor o ensaio de boudoir para as noivinhas. Na verdade, ainda ninguém usava esse nome, mas eu já sugeria, com aquilo que tínhamos no dia, umas fotos mais ousadas para presentear o parceiro. Atualmente, sou chamada para fazer em alguns casamentos dos quais eu não sou a fotógrafa principal.

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Segundo o Aurélio, boudoir é uma palavra francesa que significa “quarto de senhora, adornado com requinte”; ou ainda “decoração inspirada no que era usado no século XVIII” e também “o estilo de vestir, considerado muito feminino, à base de peças de
renda e lingeries finas”. O ensaio manteve essas características e faz uso de transparências, rendas e lingerie.

Algumas dicas

  • Naturalidade
  • Não pose, encoraje sua modelo a “atuar”
  • Use tons suaves, rendas, pérolas…
  • Quanto menos pessoas no local, melhor
  • A principal diferença da imagem verdadeiramente erótica para a sensual é o mistério

Fica um ensaio mais romântico, mostra-se bem menos e procuro usar essas referências acima. Não deixa de ser um sensual, só que menos picante…

Acredito que, em qualquer book, tratando-se de mulher comum, há que se observar muito o estilo da pessoa. Sempre trabalho com uma produtora na equipe e é fundamental sabermos o que fazer e usar para não criar muito um “personagem”.

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Todo esse cuidado é fundamental para o uso da maquiagem, das roupas, sempre mantendo o feeling de até onde posso ir, pois, caso deseje colocar um pouco da minha visão, tenho que saber como e até onde posso chegar.

Algumas vezes, a pessoa que vou fotografar tem um gosto completamente diferente daquilo que gosto e, se tratando de um book pessoal, devo ter muito tato para respeitar e conseguir “impor” um pouco mais do meu olhar, que é muito editorial. Acabo muitas vezes usando aquilo que a “modelo” (cliente) deseja, mas com alguma desconstrução sutil para que eu não me influencie pelo fato de não me identificar com o estilo e ter mais liberdade de criação.

No próximo post, continuaremos a falar de books. Até lá.

 

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