A arte das coisas pela fotografia: o gosto (NSFW)

“O gênio e o gosto não vão juntos” – Helmut Newton

Assim começa o dilema do autor de como e se inovar ou mesmo apenas se atirar de cabeça e fazer…

“Eu odeio o bom gosto. É o pior que pode acontecer com uma pessoa criativa.” – Helmut Newton.

… piora, piora substancialmente. E agora? Como ter estética e não ter gosto? Estética?

Quando comecei a fotografar, em 1985, logo no meu primeiro trabalho tive a sorte de ter como diretor criativo e mestre do gosto António Alijó. Pintor, escritor, decorador, cenógrafo, louco militante e provocador de vocação, deu-me a conhecer profissionalmente o gosto que tanto defendia. Costumava dizer: “Não há pessoas sem gosto, porque senão dávamos-lhe um. Há é pessoas com muito gosto, mas muito mau”.

Esta frase acompanhou o meu trabalho e humor por muito tempo e foi o alicerce de muitos trabalhos.

“wave of love”, por João de Castro

Mas… Um dia acordei, perfeitamente aplaudido e reconhecido pelo meu trabalho, sentindo-me vazio… E pior, preso. Aquelas belas fotos possuíam-me e não me deixavam querer mais ou diferente. Tinha criado um bom gosto intenso e a minha vida à imagem das minhas imagens. A minha musa não podia ser humana, eu era um fotógrafo cheio de look e atitude, todas as modelos tinham de ser modelos… E mais uma série de disparates, egos e gostos.

Em perfeita crise, cheguei a acreditar que todo o meu mundo estava errado e que na realidade aquelas fotos eram apenas habilidades de extrema qualidade, em vez de almas e tempo.

“muse”, por João de Castro

Recuando à minha infância, está Helmut Newton, pois pela minha casa havia sempre na mesa da sala uma revista da Photo Francesa, onde o seu trabalho me enfeitiçava e hipnotizava. A ajudar, a minha mãe era linda e sempre muito ao bom gosto. Eu não tinha nenhum interesse por pegar numa câmera fotográfica, mas estava formado o fotógrafo com gosto que vim a ser mais tarde. Dilema de novo… Se para mim tudo tinha gosto e Helmut era um dos grandes responsáveis, como sair disso e ver as suas palavras?

Não sei… Nada disto aconteceu de uma forma consciente e só muito mais tarde constatei o que aconteceu. Explodi e avancei. Perdi o gosto e abracei a paixão. Provoquei-me (provocador, o Helmut), provoquem(-se) e acontece.

“le sexe”, por João de Castro

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