Como vejo a fotografia que fiz dois, cinco, dez ou vinte anos atrás? O que mudaria hoje? O que sinto por ela? O que ela fala sobre mim? Vale investir um tempo para responder a essas perguntas, que são fundamentais e também o ponto de partida para entendermos quem fomos, quem somos e quem seremos, além de descobrirmos qual é o nosso estilo e onde está a nossa busca. Olho para fotografias que fiz há 20 anos e consigo me enxergar nelas, sentir inclusive o que sentia no momento em que cliquei. Revendo as imagens, vejo a preocupação e o desejo de que a fotografia ficasse linda e correspondesse às expectativas.
Quando ainda acompanhava os meses do bebê, preparava um cenário diferente para cada mês e, na época, o cliente comprava apenas uma fotografia, mas sempre tive comigo que não importaria se fosse uma, vinte ou cem imagens – daria o meu melhor em todas elas. Acredito ser assim que construímos a nossa história, minuto a minuto, dia após dia, ano por ano e, em cada fotografia, a confiança precisa ser conquistada em todo trabalho, seja ele pequeno ou grande.
Olho para minha fotografia do passado e tenho orgulho dela, pois a minha luz está ali. Hoje a vejo muito mais evoluída, o que é apenas a nossa obrigação – estar cada dia melhor –, mas, naquele momento, entendo que era o melhor que eu podia oferecer dentro do que eu conhecia, vivia e sentia.
Percebo, no decorrer das minhas experiências, que a simplicidade é fundamental. As imagens que continuam atuais através do tempo são as que possuem menos informações, são as mais limpas, as que não possuem brincos grandes, colares em excesso, flores, roupas de época, adereços desnecessários que poluem a fotografia.
Como disse Picasso, “cansei-me de ser moderno, quero ser eterno”. Devemos nos inspirar nesse pensamento e aprender a fotografar para a eternidade, pois esse é o propósito da fotografia. As tendências são passageiras e logo se tornam desatualizadas e farão parte do passado. Para mim, o importante é a pessoa, não suas roupas (a não ser que estejamos fotografando moda).
Certo dia, uma mãe entrou em meu estúdio e falou: “Simone, somente duas produções diferentes de roupas? É muito pouco!” (em meus pacotes são definidos previamente e claramente as seguintes opções: duas, três ou quatro produções de roupas. O cliente precisa trazer as roupas de acordo com seu estilo e cada uma das três opções possui valores diferentes).
Respondi a ela que desejava fotografar sua filha e não as roupas dela, e essa situação se tornou esclarecedora no decorrer da sessão tanto para ela quanto para mim, pois elas haviam trazido aproximadamente vinte produções de roupas e nelas estavam incluídas roupas de muitas amigas, mas, surpreendentemente, quando as selecionei, sem saber, escolhi somente as duas produções de roupas que pertenciam à menina, inclusive os adereços.
Você deve estar se perguntando por que estou contando essa história. Porque encontramos o que buscamos, e a minha busca é por uma fotografia verdadeira e original: mostrar a pessoa em sua essência, marcar época e estilo e o jeito de ser e viver. Para concluir o caso, a cliente, no final da sessão, surpreendida, perguntou se eu tinha uma bola de cristal, pois nada do que não pertencia à sua filha eu havia escolhido, e disse que havia entendido o real objetivo da sessão de fotos.
Nosso melhor é realmente o melhor quando conhecemos o nosso propósito, cuidamos de nosso corpo e alma, pois, cansados, com sono, mal alimentados, tristes e desanimados, o nosso melhor é pouco e se torna medíocre. Olhar para dentro de si, rever valores, buscar o autoconhecimento e a aprendizagem, se posicionar e se comprometer nos eleva, além de elevar a nossa fotografia, tornando-a moderna, mas principalmente, eterna!