Bê-á-bá da fotografia newborn: Iluminação
Quase sempre que se começa a falar de fotografia do ponto de vista técnico, a primeira providência é explicar a origem da palavra. Pois bem, vamos começar assim aqui também. “Fotografia” tem origem grega e vem da junção de duas palavras: photos (luz) e graphien (desenhar, escrever). Ou seja, significa “desenhar com luz”. Assim, o elemento básico, a matéria-prima da fotografia, é a luz.
Dessa forma, entender as características e como a luz se comporta e ainda treinar “como ver a luz” são aptidões importantes para um fotógrafo. A fim de facilitar a compreensão, quando se fala de luz costuma-se dividir o tema em diferentes aspectos: direção, natureza (suave ou dura), intensidade (bem-exposta, subexposta, superexposta) e cor.
Vou procurar explicar um pouquinho de cada característica e como aplicar esse conhecimento na fotografia newborn, mas gosto sempre de lembrar que um estudo mais aprofundado do tema é sempre interessante. Para se tornar um fotógrafo notável é importante dominar o conhecimento da luz. Assim, uma boa pesquisa em livros didáticos (há tantos deles muito bons no mercado), cursos em escolas de fotografia e workshops com profissionais gabaritados que sejam direcionados ao assunto, entre outras fontes de informação, sempre valem o investimento.
Da mesma forma que um poeta deve conhecer gramática e ortografia para transformar em poesia emoções, experiências e sentimentos, um fotógrafo deve conhecer sobre luz e composição para fazer uma bela foto – esta última, aliás, será o tema do próximo artigo.
Comecemos pela direção da luz, pois é algo bem simples de se entender e fácil de se perceber. E tem importante função no resultado estético de uma imagem.
A luz pode vir de cima, de baixo, dos lados, pela frente, por trás (contraluz). Seu posicionamento em relação ao assunto fotografado é que vai dar a relação das sombras. E é a sombra que vai dar a sensação de volume. Isso quer dizer que, quando transformamos um mundo que tem três dimensões no retângulo 2D que é nosso frame na fotografia, a relação de luz e sombra é o principal elemento que nos ajuda a perceber os contornos e as formas, construindo assim a sensação de volume e a percepção da textura das coisas, quer o assunto seja uma pessoa, um objeto, ou uma paisagem.
A luz frontal produz sombras atrás do objeto. Do ponto de vista do fotógrafo, elas ficam muito pouco visíveis. Tudo é iluminado por igual e resulta em pouca informação sobre a forma e a textura. É por essa razão que a luz frontal é bastante usada em fotografia de beleza (beauty). Nessa situação, pouco se percebe da textura da pele de uma mulher que parece, então, ter pele de pêssego! Essa iluminação uniforme não cria dificuldades na exposição e produz cores profundas. No entanto, uma de suas características é “chapar” o assunto exatamente por não criar contornos através das sombras.
Não há nada de errado em usar esse tipo de luz para iluminar os bebês. Se, além da escolha da direção frontal, a fonte de luz for rebatida (sombrinha) ou filtrada (softbox), tudo vai ficar iluminado por igual, dando a sensação de claridade e suavidade. No entanto, essa escolha torna a iluminação “plana” demais.
Uma maneira de tornar a foto mais interessante é mover a fonte de luz um pouquinho para o lado, gerando sombras que irão criar o contraste necessário para se entender melhor, por exemplo, como é o formato do nariz do bebê, se seus lábios são carnudinhos, suas bochechas fofas, os pés gordinhos, salientar as covinhas no dorso nas mãos etc.
Se você está usando a luz de uma janela como fonte de iluminação principal, me parece bastante óbvio que não vai poder movê-la! O que você vai poder mudar é a posição do bebê (e a sua!) em relação à janela.
Uma fonte de luz lateral que esteja posicionada de forma que venha um pouquinho de cima é uma boa opção de escolha para a fotografia newborn.
Quanto mais para o lado a fonte de luz estiver, mais sombra vai gerar. Então, para se evitar um aspecto muito dramático na foto (não que isso seja errado), é mais interessante deixar essa luz 45 graus em relação ao bebê. Eu, particularmente, gosto de um ângulo menor do que esse. E isso nos faz lembrar que, quando falamos em gostar, estamos falando de algo que é subjetivo e não do que é “certo” ou “errado”.
É importante notar, no entanto, que não por ser o “certo”, mas por se tratar de algo que nós estamos acostumados a ver, é mais natural para nós e, portanto, mais agradável vermos pessoas iluminadas de cima para baixo – já que o sol está no céu, as lâmpadas quase sempre no teto e mesmo os abajures que estão mais baixos do que os lustres costumam nos iluminar de cima para baixo, já que nessa situação quase sempre estaremos sentados confortavelmente num sofá.
Assim, nossa mente consciente e subconsciente está acostumada a ver as sombras caírem para baixo ou para o lado do nariz e não para cima, ao contrário da iluminação de uma fogueira, que vem de baixo para cima e provoca sombras que consideramos bizarras e até associamos a filmes de terror. Aliás, essa é uma das ferramentas de linguagem usadas nesses filmes justamente por causar certa estranheza nas formas e principalmente por parecer desfigurar o rosto e feições dos personagens. Talvez, na época do homem das cavernas, fotografar, se isso fosse possível, com a luz posicionada dessa forma, fosse mais usual do que é para nós hoje!
Brincadeiras à parte, procure apenas observar se aquelas fotos em que, por alguma razão, você “sentiu” que algo estava estranho, mas não sabia dizer exatamente o que era, não pode ter alguma relação com a posição das sombras.
Outra característica importante na sensação que temos ao ver a fotografia de um bebê é dada pela natureza da luz – na verdade, de suas sombras: se são duras (contrastadas) ou suaves. E isso depende do tamanho e da distância da fonte de luz em relação ao modelo.
Se você posicionar o bebê bem perto de uma janela grande, a luz cria sombras suaves. E se você afastar o bebê da janela vai reparar que, quanto mais longe ele estiver, mais intensas serão as sombras. Isso vale para qualquer fonte de luz, seja luz contínua ou um flash com modificadores para torná-la suave, como um softbox (luz filtrada) ou uma sombrinha (luz rebatida).
À medida que você afasta a fonte de luz do assunto fotografado, é como se ela ficasse “menor”. Dessa forma, é fácil lembrar: fontes de luz grandes geram sombras suaves, fontes de luz pequenas geram sombras duras. Prestando atenção nesse detalhe, você pode posicionar melhor seu flash (equipado com um softbox ou uma sombrinha) ou o bebê da janela e assim conseguir a luz que deseja.
Aqui peço que notem que estou mencionando a natureza ou tipo de sombra que a fonte de luz vai gerar (dura ou suave), e não a intensidade da luz. Mas é importante saber que, quanto mais perto a fonte de luz estiver, mais intensa será a luz. É por isso que, ao aproximar ou afastar a fonte de luz do assunto fotografado, é preciso refazer a medição da luz (fotometria) e fazer os ajustes na câmera para que se obtenha uma foto com a exposição correta.
Aqui se aplica uma equação – chamada Lei de Lambert – que diz que a intensidade luminosa de uma superfície iluminada por uma fonte puntiforme é inversamente proporcional ao quadrado da distância da fonte de luz. Traduzindo na prática, é o seguinte: se você dobrar a distância da fonte de luz para o modelo, a iluminação é reduzida para 1/4 da intensidade original. Entretanto, se você reduzir a distância pela metade (isto é, se você aproximar a fonte de luz), a intensidade da luz dobra.
Assim, você começa a controlar a forma como a luz incide no bebê e a “lapidar” sua fotografia.
O primeiro passo é saber o que você deseja, para então posicionar sua fonte de luz. E como em tudo o que sempre falamos em fotografia e estética, tudo é uma questão de preferências pessoais e não de certo ou errado. Aprender a ter esse controle faz você conseguir a fotografia que deseja e não obtê-la por acaso.
Em fotografia de bebês e crianças, uma luz que seja suave, que ilumine bem o assunto e não produza contrastes muito altos é agradável e passa a sensação de delicadeza que combina com a mensagem que se quer transmitir.
Se você tiver uma janela grande, posicionar o bebê a aproximadamente um metro dela, a um angulo de 45 graus ou próximo disso, produzirá uma luz interessante. Mas lembre-se sempre que, ao usar uma fonte de luz natural, deve estar atento às suas mudanças de intensidade e cor – quando uma nuvem entra na frente do sol, por exemplo, ou quando as horas vão passando e o sol já não está mais na mesma posição no céu. Essa, aliás, é uma das vantagens de usar luz de estúdio – tanto a luz contínua quanto o flash. Sua intensidade e cor não vão mudar durante a sessão a não ser que você queira fazer isso.
Assim que você posicionar o bebê no pufe, observe como a luz incide sobre ele, principalmente no rosto, e então vá girando o pufe até conseguir o ângulo que proporcione sombras nos lugares que tornam a imagem mais interessante.
Leva um tempo para você aprender a ver certas sutilezas. Treine seu olhar e principalmente inspire-se em trabalhos de fotógrafos que você admira e se identifica. São referências para sua pesquisa e não cópias de um trabalho. Pesquise, olhe, olhe, olhe… Procure saber de onde está vindo a luz a partir das sombras que vê na imagem e então pratique.
Uma boa forma de fazer isso é usando bonecas que tenham o tamanho aproximado de um bebê (como nas fotos acima). Assim você faz seus estudos com calma e, quando chegar para a sessão de fotos com um bebê, já vai saber bem o que deseja e como fazer para conseguir isso.
Uma das formas de iluminação que torna a fotografia de bebês muito agradável e bonita é a iluminação conhecida por fotógrafos de estúdio como “padrão Butterfly” (borboleta), que tem esse nome por causa da forma da sombra que ela produz logo embaixo do nariz e se assemelha a uma borboleta.
Mas preste atenção num detalhe: se estivéssemos fotografando uma pessoa em pé, essa luz estaria posicionada bem alta e atrás da câmera. No entanto, como os bebês estão geralmente deitados, para conseguir esse efeito de sombra no narizinho deles, você precisa posicionar a luz acima da cabeça do bebê – o que significa que ela estaria vindo de lado (como uma janela, voilà!). Então, se desejar esse tipo de iluminação, procure sempre olhar para onde a sombra do nariz está caindo e então girar o pufe até chegar na posição que produzirá esse efeito.
Falaremos mais sobre iluminação no próximo artigo. Até lá.
Adorei a matéria ,e de extrema importância essas dicas,meu muito obrigada.Abs Tânia Silva.
Muito bacana sua matéria, é de grande valia principalmente pra quem esta iniciando assim como eu, Parabéns pelo seu lindo trabalho.
Ótimas dicas vou aproveitar bastante. Gostaria de saber que tipo de tecido é esse que sempre vejo enrolando os bebês. Abraço.
Chamamos esse tecido de wrap – palavra em inglês que quer dizer embrulhar, enrolar.
É um tecido importado com características especiais: é suave ao toque, possui certa elasticidade. Podemos deixar o bebê enroladinho mas sem prender a circulação dele e sem marcar a pele.
Dê uma olhadinha nos artigos anteriores e nos posts que lá tem uma referência aos wraps e dicas de onde comprar.
Oi Carla,
Excelentes dicas sou seu fan!
Quando puder passa lá no Blog!
Abs
Leo Castro
Marketing Para Fotógrafos1
Obrigada Leo!
Sim, vou dar uma olha lá sim! Claro!!!! 😉
Comecei a ter essa percepção qnto. a iluminação de uns tempos p/ cá, e agora pude constatar nessa excelente matéria minha intuição certeira. Fico feliz, pois mostra minha sensibilidade qnto. a leitura de fotos. Parabéns e Obrigada Carla!!!
Carla, excelente artigo, mais uma vez! Gostaria de saber se esse boneco que vc usa é o que chamam de reborn e se vc comprou fora ou no Brasil. Sabe de algum lugar bacana que vende no Brasil? Muito Obrigado!
Olá!
Gostaria de saber quais equipamentos usar para fotografar newborn em estúdio com luz contínua (luz de led, fresnel etc).
Agradeço.
Olá, adorei o post, parabéns! gostaria de saber que equipamento de iluminação preciso comprar para tirar fotos newborn na casa da cliente.
Excelente matéria de suma importância para todos nós parabéns!!!
Perfeito! Parabéns e obrigada! ?
Olá Carla,
Adorei a matéria!
Ao fazer fotografias de newborn, você prefere a luz continua ou flash? E qual tamanho de soft box você acha ideal para esse ensaio?