Autoral: retratos à la Chambi e Joey L

Admirador de Martín Chambi (1891-1973), o paulista Rodrigo Cardozo passou uma temporada no Peru, em dezembro passado, justamente para fotografar ao lado de Teo Chambi e Andres Fernando, respectivamente neto e bisneto do famoso retratista indígena. Fotógrafo de moda, Rodrigo desenvolveu alguns trabalhos comerciais que considerou importantes por lá. Porém, não poderia encerrar a viagem sem produzir algumas imagens inspiradas no mestre, célebre fotógrafo dos camponeses peruanos.

“Em um dos trabalhos que fiz, conheci uma cidade chamada Andahuaylillas, pela qual peguei um carinho especial e senti que devia fazer algo ali”, explica o fotógrafo de Santa Bárbara do Oeste, que dedicou o último domingo de sua estada no país para retornar ao “pueblo”, distante 37 quilômetros de Cuzco, e realizar uma série de retratos.

Rodrigo montou um estúdio ao ar livre e se pôs a “conquistar” seus retratos. Como seu objetivo era conseguir as fotos na conversa, sem propor pagamento (embora, ao final, os tenha gratificado com algum dinheiro), ele precisou de muita lábia para convencer os reservados populares.

“O que mais gostei durante as abordagens foi que, além de contar um pouco de mim, me contavam um pouco sobre eles”, afirma – embora nem sempre a conversa tenha fluído muito bem, como no caso da senhora que o ouviu atentamente, mas, quando foi a vez dela de contar sobre si, desatou a falar em quéchua, o idioma nativo, e Rodrigo não entendeu absolutamente nada.

O aparato utilizado constituiu de uma câmera Canon 7D, lente 24-70mm 2.8, um flash Canon EX II equipado com uma sombrinha difusora e uma placa de papel pintada de preto para o fundo. Todos os retratos foram feitos ao estilo de fotodocumento, tendo por referência o trabalho do fotógrafo canadense Joey L.: “O objetivo era que houvesse apenas um plano, não queria um segundo plano que pudesse chamar a atenção. Queria que o observador pudesse concentrar toda a sua atenção no retratado”, explica.

Como estava chovendo naquele domingo, Rodrigo não pôde persistir muito tempo – obteve apenas oito retratos, os quais batizou de Andahuaylillas – Retratos de um povo. São poucos para se fazer uma exposição, então ele espera utilizá-los em algum projeto futuro. Também representam uma possibilidade de retorno, de reencontro: “Quero voltar lá, tanto para retratar mais pessoas quanto para entregar um quadro com o retrato para cada um deles”, projeta o paulista.

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