Autoral: o grito de Marlon de Paula

Quanta angústia pode caber numa captura fotográfica? Quanto desse sentimento seria possível exorcizar a cada disparo do obturador? Questões como essas permeiam o trabalho autoral de Marlon de Paula, jovem fotógrafo que há três anos achou na fotografia uma forma de “gritar” e agora vive um momento de afirmação da sua arte.

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“Sinto que recentemente consegui maturidade para me encontrar na fotografia, principalmente após cursar, dentro do jornalismo, disciplinas que me fizeram adquirir uma bagagem dentro da linguagem fotográfica, além de realizar uma série de experiências com outros fotógrafos com quem convivi e tive a oportunidade de me desenvolver”, analisa o mineiro natural de Timóteo, que este ano teve seu trabalho exposto paralelamente ao festival Foto em Pauta, em Tiradentes, além de ter uma obra selecionada por uma plataforma francesa de fotografia contemporânea (Worbz) e contar com a participação numa coletânea de fotógrafos de Minas.

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Marlon de Paula: fotografia como catarse

Marlon tem 20 anos de idade e vive em São João del Rei desde 2012. Na nova cidade, o estudante de jornalismo passou por algumas turbulências, mas encontrou na fotografia sua válvula de escape. “Por um processo de absorção de angústias, percebi que, regurgitando aquilo que me degenerava interiormente, estava criando algo que me ajudava a conviver e se voltaria para constituir meu olhar fotográfico”, ele explica a sua difícil catarse.

Fotógrafo freelancer, Marlon faz alguns trabalhos comerciais junto com o coletivo Sem Eira Nem Beira, mas é o seu trabalho autoral que obtém maior relevância. Um exercício que é, para ele, carregado mais de dúvidas que de certezas, e que o mineiro acha estar marcado pelo “invisível”: “Quando realizo uma foto, tento transpor algo que me parece impossível em sua plenitude, a compreensão do ‘eu’ pela ‘imagem’, e me pergunto: ‘Teria a foto a capacidade de aprisionar em todo potencial a angústia de um ser?’ Essa pergunta reverbera por todo o meu trabalho. Algo me faz acreditar que não, mas isso não impede de tentar estabelecer uma comunicação com meu mundo subjetivo”, diz Marlon, que no começo se preocupava em promover uma conexão com o espectador, até perceber que, embora intimista, seu trabalho tinha um caráter universal.

“Falar de minhas angústias é necessariamente falar direta ou indiretamente do coletivo, estou mais consciente dessa inserção que realizo no mundo. Estou em um conflito muito maior do que posso calcular, vivo dentro de uma sociedade e sou submetido às últimas consequências disso. A partir do momento que percebo que fotografar minha existência é falar do mundo, automaticamente estou perante as angústias mais humanas”, reflete.

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