Antoine D’Agata e o registro cru da realidade

Sombras, vultos, violência, espontaneidade, e experiências vividas podem ser apenas algumas palavras que resumem o trabalho de Antoine D’Agata, membro da agência Magnum. Suas fotografias e ensaios são o resultado de uma imersão no tema, sendo a vida marginalizada sua escolha. As imagens produzidas por D’Agata talvez agradem poucas pessoas, já que não são todas que podem entender o que acontece naquele cenário sombrio.

Foi no México que seu estilo de vida “em excesso” lhe rendeu boas fotografias que mostravam a vida de prostitutas e usuários de drogas. A aproximação com o assunto e forte tema retratado chamou a atenção de professores da International Center of Photography (ICP) de Nova York que convidaram D’Agata para estudar na escola.

As fotografias de D’Agata são um exemplo do que poucos fotógrafos conseguem fazer. A melancolia é visível em imagens que traduzem o estilo de vida do fotógrafo. D’Agata começou a fotografar depois de viajar pela Europa e Américas, e usar da fotografia como uma forma de manter-se em controle, já que passava por um período difícil, em que via seus amigos morrerem de AIDS.

Em uma entrevista para a revista Emaho, D’Agata explica porque acredita que suas fotografias tocam as pessoas de uma forma diferente. “Acredito que a razão pela qual meu trabalho vai tão fundo se deva ao usual da fotografia, tão formatada, bonita, limpa e segura que, quando surge algo que não é normal, pronto para ser consumido, isso provoca reações fortes, machuca as pessoas, faz com que elas pensem, sintam as imagens”.

Quando D’Agata afirma, durante uma entrevista à revista Gomma, que o que faz não é “fotografia pela fotografia” fica claro o seu sentimento e crítica. “Não acredito na fotografia como uma arte ou um trabalho. Penso nela como linguagem, e acredito que uma linguagem deva ser usada para expressar o que alguém tem a dizer. Portanto, tudo o que tenho a dizer sobre a minha vida e o que sei do mundo é a forma como vejo as coisas”.

A violência faz parte das fotografias de D’Agata, que diz ser parte fundamental do processo, e que há outras violências piores do que a física. O fotógrafo levou algumas punhaladas enquanto estava no México, em 2015, apanhou muito quando tentaram roubar sua câmera no Brasil, e perdeu um olho quando brigou com a polícia e levou três tiros. D’Agata acredita que a essência da fotografia é explorar e mudar a percepção sobre o mundo, mas que andamos esquecendo isso.


 

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