Ana Telma Furtado está prontinha para zerar o cronômetro. Assim que acioná-lo novamente, começa a valer o prazo para virar uma fotógrafa “full-time”. No momento, ela ainda divide o tempo com outra ocupação (é funcionária pública), mas o futuro está cheio de possibilidades: um novo site, com mais fotos de casamento, um workshop que pretende ministrar em breve, um “escritoriozinho fofo” para receber os clientes… Ana não vê a hora.
Mais fotos de casamento porque a “carioca da gema”, quase 32 anos (completa-os amanhã – parabéns, Ana!), moradora de Petrópolis, na serra fluminense, tem feito mais fotos de família. Não que isso seja uma coisa ruim, pelo contrário. Mas se trata de uma questão de mercado, necessária a quem, como ela, planeja o futuro profissional.
“Os casamentos que faço são de pessoas que se identificam extremamente com o meu estilo e são casamentos muito especiais para mim. Normalmente são indicações de pessoas que já são meus clientes ou então pessoas que me acharam na internet e gostaram do meu estilo. Isso me traz um reconhecimento que me orgulho muito, pois me mostra que estou no caminho certo”, avalia Ana, cujo primeiro casamento foi o de um amigo.
Também foi de uma amiga (ex-cunhada, diga-se) a primeira sessão com gestante. “Depois de muito enrolar (eu achava que era muito chato e difícil esse negócio de tirar foto de gente!), ela me imprensou na parede e disse que, ou eu faria as fotos ou ela ia ficar sem. Daí fui, pesquisei tudo o que eu podia, arrumei tudo para o dia e fizemos as fotos dela num estúdio improvisado na sala do meu apartamento. Passamos o dia todo nos divertindo e fotografando e eu descobrindo o que era fotografar um casal grávido”. Outra revelação que saiu daquele exercício foi a de que Ana, que havia pensado em ser arquiteta, professora, apresentadora de tevê e escritora, descobriu o que realmente queria fazer.
“Comecei a fotografar outros amigos e daí foi um passo até as pessoas me perguntarem ‘quanto eu cobrava para fazer tais fotos’. No início não tinha a menor ideia de quanto cobrar e os valores bastavam para cobrir os gastos que eu estava fazendo – fui comprando material de estúdio, outros equipamentos, tecidos etc., e aos poucos vi que aquilo poderia dar certo como uma profissão. Daí comecei a estudar na internet e a fazer workshops mais completos e em áreas específicas, como casamento, edição e tratamento de imagens, famílias etc.”, conta.
Entre os ensaios com família e as fotos de casamento, difícil é eleger uma preferência. “Cada trabalho tem sua carga de adrenalina e satisfação diferente. Os ensaios são mais tranquilos, divertidos e leves, e os casamentos são mais agitação, adrenalina e responsabilidade. Nos ensaios, a tarefa maior é captar a emoção e a personalidade da pessoa. No casamento, tem isso também, mas o peso maior está em não perder nenhum momento e nenhum detalhe”, percebe.
Ela acha curioso que, com tanta gente fotografando, haja tanta procura por fotografia profissional. Seria frustração de ver que as fotos caseiras não saem tão legais? Ou seria porque quem fotografa necessariamente não está nas fotos? “Esses, na minha opinião, são os dois maiores motivos pelos quais uma pessoa contrata um fotógrafo. A vontade de ter fotos bonitas para guardar, fazer álbuns, quadros etc., e a vontade de estar nas fotos, junto com os filhos e a família, e não só tirar fotos deles. É exatamente a popularização da fotografia digital que trouxe a valorização do profissional da fotografia”, raciocina.
Outra curiosidade é que, em Petrópolis, a preferência da clientela recai sobre as fotos em estúdio, ao contrário do que ocorre em outros lugares, onde a externa predomina. Do mesmo modo, as noivas preferem fotos mais clássicas, e por isso procuram os fotógrafos mais tradicionais. Isso leva Ana Telma a encontrar mais clientes na cidade do Rio de Janeiro do que em sua cidade, pois seu estilo é mais espontâneo. E seus ensaios, sempre ao ar livre – opção dela, que ainda tem a tralha de estúdio em casa, mas prefere não usar. “Fica mais bacana e mais dinâmico do que as fotos em estúdio”, justifica.
Assim, sua receita inclui três ingredientes: alegria, personalidade e luz natural. “Acho que a minha marca pessoal, aquela característica que todos comentam sobre o meu trabalho, é que consigo retratar as pessoas como elas são e consigo passar, através das imagens, o sentimento que foi vivido naquele momento”. A inspiração vem de sites de colegas e também páginas de decoração, casa, design e outros. “Às vezes vejo uma foto bacana em um site de DYI ou em uma revista de crianças e procuro uma maneira de fazer uma releitura daquele trabalho, incorporando ao meu estilo”, explica.
Para ela, não é complicado conseguir boas ideias a cada novo trabalho, pois a história e as referências do cliente são o ponto de partida: “Fazendo isso, é impossível cair na mesmice e ter um ensaio igual ao outro. As fotos mostram quem é aquela pessoa, o que ela valoriza, o que ela gosta… Procuro trazer a personalidade de cada um para as fotos. Se a pessoa é mais tímida, as fotos serão mais introspectivas, se é mais extrovertida, serão mais divertidas, se o casal é super carinhoso, as fotos serão mais melosinhas… O jeito dos meus clientes é que dá o tom do meu trabalho. E isso acaba que está sempre movimentando novas ideias”.