Adolescente negro vira ‘suspeito’ em grupo de WhatsApp após tirar fotos no bairro

Nem todo mundo que ama fotografia é um fotógrafo profissional. É comum a gente começar na fotografia como hobby, o bom fotógrafo amador. Temos nossa profissão do dia-a-dia, mas sempre que sobra um tempinho pegamos nossa câmera, seja compacta, semi-profissional ou até, atualmente, a câmera do celular e vamos pra rua fazer uns cliques. Normal, né? Geralmente sim. Mas não para o jovem Gabriel Souza, de 18 anos. 

Segundo Gabriel, que trabalha com seu pai numa borracharia no bairro Eloy Chaves, em Jundiaí (SP), o mal-entendido aconteceu quando, durante o horário de almoço, saiu para fotografar alguns pontos do bairro com sua câmera. “É um equipamento novo que eu havia ganhado há pouco tempo, então decidi testar durante o meu horário de almoço. Um dia após as fotos serem feitas, no horário de almoço, saí para comprar um refrigerante próximo à borracharia. Percebi vários olhares de reprovação pela rua, mas achei que fosse por conta da roupa suja de graxa, então não dei importância”, lembra o adolescente.

Postagem dos moradores no Facebook alertando sobre a presença do adolescente suspeito

Gabriel conta que só entendeu o que estava acontecendo quando um cliente e morador de um condomínio próximo mostrou a ele as fotos e áudios que estavam circulando na internet, especialmente num grupo de WhatsApp alertando sobre a presença do rapaz e aconselhando os moradores, se o vissem no bairro, para acionar a Guarda Civil Municipal. Um áudio do vereador da Câmara de Jundiaí Antônio Carlos Albino (PSB), que também é integrante do grupo de moradores, reforçava o alerta: “Boa tarde! Se vocês virem esse indivíduo na rua, por favor, já liguem 153, porque a viatura da Guarda está tentando achar ele no bairro. É um suspeito de estar filmando e tirando fotos das casas.” 

Ao saber das postagens dos moradores, Gabriel tentou registrar um boletim de ocorrência em dois distritos policiais da cidade, mas não teve sucesso. “O delegado de um dos distritos comentou que não havia crime para registrar boletim de ocorrência. Já outro delegado pediu que eu escrevesse meus dados em uma folha sulfite e fizesse uma foto para que eu pudesse ser investigado posteriormente, queria me fichar.” Posteriormente, a Polícia Civil chegou a investigar o caso de Gabriel e apurava a suspeita de injúria e preconceito racial, mas o caso foi encerrado e encaminhado à Justiça.

Além de procurar a polícia, o adolescente postou um desabafo na internet para reclamar do episódio. Na postagem ele publicou as fotos que tirou no bairro e que causaram a preocupação nos moradores. Após sua postagem nas redes sociais, o vereador compareceu até a borracharia para esclarecer a situação e publicou uma mensagem no Facebook dizendo que havia sido um mal-entendido. “Ele veio até a borracharia e logo percebeu que toda a situação tinha sido um engano, quando todos os áudios, imagens e até a Guarda Civil já estava atrás de mim. Ele ligou para o administrador do grupo e pediu que apagassem as fotos, pediu desculpas e ficou por isso”, explica.

Fotos que Gabriel estava fazendo no bairro para testar sua câmera

Todo esse episódio aconteceu há 3 meses e apesar de ficar chateado com o pré-julgamento e preconceito dos moradores, Gabriel não desistiu da fotografia. Ele está finalizando um curso profissionalizante em fotografia e já começou a fazer alguns ensaios fotográficos. Gabriel faz o curso nas horas vagas quando não está trabalhando na borracharia com seu pai. “Sempre tive um apreço muito grande pela área e desde pequeno despertava curiosidade. Então, a partir dos 12 anos comecei a treinar o olho para isso. Hoje, gosto de pegar cenas inusitadas e fotografar a natureza. Adoraria trabalhar com isso, ser fotógrafo nessa área”, diz.