O fotógrafo Regivaldo Freitas, 42, cedeu ao amor. Deixou a vila de Jericoacoara, joia do litoral cearense, para morar em São José do Rio Pardo, no interior de São Paulo, pela namorada paulista. Não fosse por isso, talvez estivesse, não em Jericoacoara, mas em São Paulo, pois o cearense (de Fortaleza) está com seu novo projeto debaixo do braço, batendo em portas, em busca de patrocínio para publicar.
Morador é o nome do livro que Regivaldo tenta emplacar. Projeto vencedor do Prêmio Chico Albuquerque de Fotografia em 2012, é um registro do que ele viu e sentiu nos oito anos em que viveu em “Jeri”, um paraíso que atrai turistas do mundo inteiro. Criado em Belém, e por isso paraense com orgulho, Regivaldo levou na praia cearense uma vida ao sabor da brisa fresca e do ócio criativo apregoado por Domenico De Masi. Abriu uma loja de fotografia, a Vai-Vendo, e se dedicou à fotografia autoral. “Comercialmente, já fiz de tudo e acho que vou continuar fazendo”, acredita.
Na loja, o fotógrafo vendeu aos turistas de postais a monóculos, fine art e livros. Agora que saiu de lá, deixou alguns itens na loja de um amigo e trouxe o empreendimento na bagagem. “Só quem foi em Jeri sabe do que falo e só quem foi na loja em Jeri sabe também. Criamos afinidade com o espaço e o lugar: antes confabulamos, filosofamos e depois pensamos em negociar meus produtos”, explica a sua forma de trabalho.
Sem querer se julgar um cronista visual de Jericoacoara ou de qualquer outro lugar onde já esteve – seu trabalho anterior é Entorno, sobre a praia de Iracema, em Fortaleza – Regivaldo se assume como cronista visual da própria vida. “Apenas fotografo os lugares, as pessoas e a vida que levo. Minhas fotos falam de mim, de onde estou e de como vivo”. Mas é certo que ficou marcado pelos oito anos em que viveu em Jeri e isso aparece em Morador, ensaio no qual aplica o conceito de desaceleração do tempo que retirou das ideias de Domenico De Masi.
“O que me cerca eu fotografo, tudo no meu tempo e no meu estado de espírito, essa é minha forma de captar minhas imagens autorais, daí a prática do conceito de desaceleração do tempo. No meu primeiro livro, Entorno, já se percebia isso, mas as ideias ou conclusões vieram depois que li O Ócio Criativo”, fala, referindo-se à principal obra do sociólogo italiano.
Regivaldo quer publicar seu novo livro da mesma forma que o outro, independente e sem lei de incentivo. “Para mim é a melhor forma de se distribuir a arte, só que é muito difícil”, afirma, embora diga que já tenha alguns contatos comerciais encaminhados. “Acredito muito nesse projeto. As fotos comercializadas [em sua loja] são na grande maioria as do ensaio. Nessa última quinzena, vendi mais de 130 postais e 23 fotografias”, afirma, otimista que alguma editora compre logo a ideia.