A foto do guerrilheiro Ernesto Che Guevarra, feita pelo fotógrafo Alberto Korda, em 1960, se tornou um dos dos retratos mais icônicos da história da fotografia. Estampada em camisetas, broches, bandeiras de torcidas, pôsteres, boinas e bonés, o retrato de Che é considerada a fotografia mais reproduzida de todos os tempos. Mas qual é a história por trás dessa imagem?
No dia 4 de março de 1960, o navio cargueiro Le Coubre chegou a Havana com 76 toneladas de armas e munição para o exército cubano. Quando ele estava sendo descarregado ocorreu uma explosão dentro do navio que matou mais de cem pessoas e feriu outras centenas. Por isso, no dia seguinte, 05 de março de 1960, Fidel Castro realizou uma cerimônia pública para homenagear as vítimas da explosão. “Encontrava-me num plano mais baixo em relação à tribuna, com uma câmara fotográfica Leica de 9mm. Em primeiro plano estavam Fidel, Sartre e Simone de Beauvoir; Che estava parado atrás da tribuna. Houve um instante em que passou por um espaço vazio, estava numa posição mais frontal, e foi aí que em segundo plano emergiu a sua figura. Disparei. Em seguida, percebo que a imagem é quase um retrato, sem ninguém atrás. Volto a câmara na vertical e disparo segunda vez. Isto em menos de dez segundos. Che afasta-se então e não regressa aquele lugar. Foi uma casualidade…”, lembrou o fotógrafo Alberto Korda, que estava cobrindo o evento para o jornal cubano “Revolución”. Porém, nenhuma das duas fotos foi usada pelo jornal. Mesmo assim, Korda guardou as imagens em seu arquivo pessoal.
O retrato passou anos esquecido, sendo usado apenas em pequenas publicações cubanas, até que em 1967, o editor italiano Giangiacomo Feltrinelli apareceu no estúdio do fotógrafo precisando de fotos de Che Guevara para ilustrar a capa de um livro que ele estava planejando publicar. Alberto Korda lembrou do retrato feito sete anos antes e ofereceu ao editor italiano sem a cobrança de qualquer direito autoral. “Na época, o direito autoral havia sido abolido em Cuba. Che foi morto dois meses depois do meu encontro com Feltrinelli. Com o livro, ele vendeu um milhão de pôsteres da minha foto, a cinco dólares cada”, contou Korda.
Além de vender a imagem e o pôster através do livro, Giacomo Feltrinelli usou a foto como símbolo dos movimentos sociais de 1968 na Europa, não demorou para o retrato de Che aparecer em protestos nas ruas de cidades como Milão e Paris. Feltrinelli imprimiu a fotografia de Korda em milhares de cartazes que eram espalhados e colados em todas as ruas da Itália e outros países. Ainda em 1968, o artista plástico Jim Fitzpatrick criou uma imagem de alto-constraste a partir da fotografia de Korda. “Fiz alguns pôsteres dela, mas o que importa, o preto e vermelho que é familiar para todos, o mais emblemático, esse foi feito após o assassinato e a execução (de Che) como prisioneiro de guerra, para uma exibição em Londres chamada Viva Che. O Che é muito simples. É um desenho em preto e branco ao qual acrescentei o vermelho. A estrela foi pintada à mão de vermelho. Graficamente é muito intenso e direto, é imediato, e é isso que gosto nele”, revelou Fitzpatrick. Assim a imagem de Korda ganhou o mundo.
A foto de Alberto Korda, posteriormente, ganhou o nome de “Guerrilheiro Heróico”. O fotógrafo nunca reclamou direitos autorais sobre a imagem, mas em meados do ano 2000, a imagem apareceu numa campanha de marketing da vodca Smirnoff e Korda entrou na justiça contra a empresa. “Não me oponho que reproduzam essa imagem no mundo inteiro para fortalecer a sua memória e promover a luta pela justiça social, mas não posso aceitar que a usem para vender álcool ou denegrir a imagem do guerrilheiro”, disse o fotógrafo em entrevista a repórteres do jornal australiano Herald Sun. Korda ganhou o processo e, pela primeira vez, recebeu algum dinheiro com a foto, porém usou os recursos para comprar remédios para crianças de Cuba. Alberto Korda morreu no dia 25 de maio de 2001, aos 80 anos.
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