A fotografia Yanomami da brasileira Claudia Andujar | Grandes Fotógrafas da História
Claudia Andujar é uma fotógrafa e ativista suíça naturalizada brasileira que dedicou sua vida à proteção dos índios Yanomami. Durante as décadas de 1970 e 80, a fotógrafa mirou suas lentes para captar o espírito desse povo enquanto lutava pela preservação de sua cultura. Suas fotos estão em alguns dos principais museus e galerias do mundo, como o Museu de Arte Moderna de Nova York, na Fundação Cartier de Arte Contemporânea em Paris, na Pinacoteca de São Paulo e no Instituto Inhotim em Belo Horizonte.
Claudia Andujar nasceu Claudine Haas, em 12 de junho de 1931, em Neuchâtel, Suíça. Filha de mãe suíça e pai húngaro, morto no campo de concentração de Dachau, mudou-se para os Estados Unidos aos 17 anos após perder quase toda sua família durante a Segunda Guerra Mundial. Em Nova York, conheceu Julio Andujar, refugiado da Guerra Civil Espanhola, com quem se casou em 1949, aos 18 anos. Separaram-se poucos meses depois, quando Julio foi enviado para a Guerra da Coreia. Ainda em Nova York, Claudia formou-se em Humanidades pelo Hunter College e trabalhou como intérprete da ONU.
Em 1955, Claudia chegou a São Paulo, onde já vivia sua mãe, naturalizando-se brasileira. Começou a viajar pelo Brasil e pela América Latina, fotografando essencialmente para si mesma e como uma forma de estabelecer contato com a população local, já que na época Claudia ainda não dominava a língua portuguesa. Progressivamente, começou a publicar suas fotos em revistas brasileiras e estrangeiras.
“Não falava português, então me comunicava através da fotografia”
Por orientação de seu amigo Darcy Ribeiro, Claudia entrou em contato com índios pela primeira vez em 1958, durante uma visita à Ilha do Bananal, terra dos Karajá. Algumas dessas imagens foram compradas por Edward Steichen, então diretor do Museu de Arte Moderna de Nova York, e depois foram publicadas pela Life. A partir de 1967, começou a colaborar com a revista Realidade, da Editora Abril, junto com seu segundo marido, o fotógrafo norte-americano George Love.
Em 1971, uma edição especial da revista Realidade sobre a Amazônia a conduziu até os Yanomami. No intuito de se aprofundar no entendimento desta cultura, Claudia decidiu então abandonar São Paulo e o fotojornalismo, indo viver entre Roraima e Amazonas em tempo integral. Amparada por uma bolsa de dois anos da Fundação Guggenheim (1971 e 1974) e uma da Fapesp, em 1976.
“Sem dúvida minha fotografia é marcada pelo meu passado. Um passado de guerra, um passado de minorias. Isso é algo que não só me preocupa, mas me perturba. É parte da minha vida. Me interesso muito pela questão da justiça e das minorias que estão tentando se afirmar no mundo, mas se deparam sempre com um dominador que procura apará-las”
Em 1978, após ser enquadrada na lei de Segurança Nacional pelo governo militar e ser expulsa do território indígena pela Funai, retornou a São Paulo e organizou um grupo de estudos em defesa da criação de uma área indígena Yanomami. Este foi o embrião da ONG Comissão pela Criação do Parque Yanomami, CCPY (hoje Comissão Pró-Yanomami).
Ao assumir o ativismo político em defesa da causa Yanomami, Claudia foi diminuindo progressivamente sua atividade fotográfica ao longo da década de 1980, justamente quando a mobilização pela demarcação foi ganhando força. Claudia assumiu então a coordenação da campanha pela demarcação da terra indígena, o que finalmente ocorreu em 1992.
Andujar teve seus trabalhos expostos em mostras como Arte Brasileira: 50 Anos de História no Acervo MAC/USP: 1920-1970, no MAC/USP, 1996; 24ª Bienal Internacional de Arte de São Paulo, na Fundação Bienal, 1998; Coleção Pirelli/MASP de Fotografia, no MASP, 1998; Photo España 99, Festival Internacional de Fotografia, no Museo de la Ciudad, Madri, 1999. Em janeiro de 2005, expôs na Pinacoteca do Estado de São Paulo a leitura mais completa já realizada sobre sua obra, chamada Vulnerabilidade do Ser.
Em outubro de 2015, o Instituto Moreira Salles do Rio de Janeiro apresentou a exposição “Claudia Andujar: no lugar do outro”, mostra de trabalhos pouco conhecidos da primeira parte de sua carreira. Em novembro do mesmo ano, o Instituto Inhotim inaugurou uma galeria permanente dedicada ao trabalho da fotógrafa.