Melissa Esteves estreou por aqui na semana passada com uma imagem na seção Foto do Dia. Bastou uma olhada no portfolio da moça para percebermos que a qualidade apresentada no clique selecionado não era acidental. Embora fotografe profissionalmente há pouco mais de três anos, a mineira demonstra aptidão para realizar ensaios criativos e de muito bom gosto. Surgiu, assim, a curiosidade em saber um pouco mais sobre essa fotógrafa.
“Sou filha de um artista que também era fotógrafo e cresci em meio a livros de artes, cheiro de papel, de tinta, pincéis e lápis. Assistia meu pai fotografando as pessoas com muita amorosidade e revelando seus trabalhos em um quartinho escuro do seu próprio estúdio/atelier, onde ele também fazia trabalhos de desenho, pintura, arquitetura etc… Era um artista faz tudo, autodidata, surdo, feliz e genial!”, responde Melissa, que é natural de Tombos, município que fica a 5 quilômetros da divisa estadual com o Rio de Janeiro.
Quando Melissa – aliás, Mel – completou quatorze anos, seu pai presenteou-a com uma Yashica Mat-124 G: “Quer aprender a fotografar? Então aprenda com esta câmera”, pediu, passando à filha a câmera que também havia sido a sua primeira.
Mas ela mal teve tempo de apreciar o presente, pois saiu de casa para estudar em Juiz de Fora. Cursou belas artes na UFMG e desenho industrial na UEMG. Trabalhou um curto período como designer gráfica e se apaixonou pela joalheria, trabalhando nesse ramo por quase oito anos. Por conta do emprego, morou em Belo Horizonte, São Paulo e Rio de Janeiro, e considera ter sido bem-sucedida, tendo criado linhas exclusivas para grandes varejistas nacionais e internacionais. “Porém, após a crise econômica mundial que veio a explodir em 2009, e que fez com que muitos fabricantes fechassem suas portas ou esfriassem muito seus investimentos, percebi que era o momento de buscar novos rumos”.
Isso significou retornar à cidade natal e começar na fotografia. “Na verdade, nunca sonhei em me tornar fotógrafa, pois não queria reviver a desvalorização de mercado que via acontecer com meu pai, mesmo sendo ele muitíssimo querido e elogiado como ser humano e artista extraordinário que era. Mas, certo dia, me permiti ser influenciada por um jovem amigo e amante da fotografia, quando acabei comprando a ideia e comprei minha primeira câmera e lente. Desde então, venho me dedicando a essa busca sem fim pela minha expressão na fotografia, que entendo ser a mesma busca infindável de artistas de quaisquer outras modalidades”, filosofa.
Mel considera-se autodidata (nunca fez curso ou workshop de fotografia digital), e conta a seu favor com a curiosidade e a disposição em conhecer e experimentar. “Sinto-me guiada pelo encantamento, seja como fotojornalista de casamentos, famílias ou fotógrafa de retratos femininos variados”, diz, citando as áreas em que tem exercido a sua arte.
A fotógrafa também explicou a concepção por detrás da imagem que chamou a atenção da reportagem (Azul Profundo, abaixo): “Tive um insigth em fotografar a menina no momento em que a vi pela primeira vez e fiz o convite. Fui tomada por uma intensa curiosidade diante de uma cicatriz que ela tinha no rosto”. No entanto, quando finalmente pôde fazer a sessão, percebeu que a modelo havia removido cirurgicamente a marca. Sentiu-se um pouco decepcionada, mas seguiu em frente, partindo para um outro conceito e se aproveitando da expressividade e teatralidade da moça.
A locação foi a Cachoeira de Tombos, atração turística da cidade e a quinta maior cachoeira brasileira em volume de água (embora estivesse seca como nunca na ocasião). “A fotografia foi capturada do alto de um penhasco enquanto eu me equilibrava, clicava e dirigia a modelo que estava na água”, detalha Mel, que se inspirou em uma poesia de Florbela Espanca para batizar seu ensaio (Lágrimas ocultas): “Mas isso não significa que o ensaio tenha sido um momento deprê. Muito pelo contrário, pois a despeito de nossa entrega e concentração, foi um momento que rendeu muitas risadas descontraídas”, garante.