A importância da mulher negra para a formação social brasileira
Buscando desvelar a importância da mulher negra para a formação social brasileira, as pesquisadoras e artistas Isabel Löfgren e Patricia Gouvêa organizaram a exposição Mãe Preta, que ressignifica arquivos do período da escravidão para contar uma outra versão da história, na qual as negras escravizadas são protagonistas.
“É uma proposta de revisitar os arquivos da escravidão, muito conhecidos e vistos, mas que dependendo da forma como são apresentados, podem sugerir interpretações superficiais sobre as complexas relações das mães negras escravizadas em relação ao filhos brancos de seus senhores e a luta pela manutenção da vida de seus próprios filhos”, explica Patricia Gouvêa.
Para as artistas, a mostra evidencia uma das histórias mais dolorosas da humanidade: a das mães pretas, as amas de leite geradas pela escravidão por necessidade do leite materno, alimento imprescindível para a sobrevivência dos bebês da Casa Grande.
Se por um lado essa necessidade gerou relações afetuosas entre os bebês brancos e as amas negras, por outro privou as mães negras do contato e do zelo com os seus próprios filhos. A exposição Mãe Preta vem dedicar seu olhar, prioritariamente, às mães negras e suas relações com seus filhos de sangue, mas também à relação entre as amas e os filhos brancos dos senhores.
Dividida em oito séries, a exposição possui instalações, colagens e intervenções em gravuras e fotografias de importantes nomes como Marc Ferrez, Debret, Rugendas, Henschel, Guillobel e Christiano Junior, artistas viajantes e precursores da fotografia. Cada um desses recortes busca uma ressignificação da maneira pela qual a mulher negra foi, e é, representada na sociedade e evidencia que a história nada mais é do que uma construção, feita por aqueles que detêm o poder.
De acordo com Patricia Gouvêa, a exposição é um movimento para buscar a reflexão de forma contundente e delicada sobre uma questão ocultada na sociedade: a situação das mulheres negras mães.
“Nem eu nem a Isabel somos negras, então não temos e nunca sofreremos a mesma experiência do racismo e da violência que as mulheres negras. Mas nossa experiência com a maternidade nos aproxima um pouco. Como artistas e como seres humanos, podemos usar dessa prerrogativa para falar dessas questões”, explica Patricia Gouvêa.
Inédita em Belo Horizonte, a mostra chega para ocupar um espaço muito diferente de sua primeira exibição no Rio de Janeiro, no Instituto de Pesquisa e Memória Pretos Novos, que fica no Sítio Arqueológico do Cemitério dos Pretos Novos, onde milhares de africanos foram enterrados à flor da terra no século XIX. Ela será no Palácio das Artes (Av. Afonso Pena, 1537 – Centro – Belo Horizonte/MG) e tem abertura dia 12 de maio, com visitação até 13 de agosto e entrada gratuita. “No Palácio das Artes, um ambiente novo, a exposição deve tomar novos ares, ter uma dimensão diferente. Vai ser muito interessante perceber como ela afeta o público”, diz Patrícia Gouvêa.
Fonte: Eli Rocha