Voar de helicóptero seguramente foi uma das experiências mais legais que já vivi. As paisagens e cidades vistas de cima são super interessantes. Percebemos como somos pequenos e isso é um ponto de vista extremamente estimulante! Ver o mundo em miniatura: uma vez que começamos, não queremos mais parar!
Pensando nisso, resolvi escrever esse texto para passar algumas dicas a quem tiver a oportunidade de fazer um voo, para registrar a paisagem da melhor maneira possível.
1 . Voos Panorâmicos X Voos Privados
Em voos panorâmicos, o roteiro é definido pela empresa que presta o serviço e abrange os principais pontos turísticos da região. Normalmente o voo é compartilhado com outras pessoas e é feito com portas fechadas; a depender do assento escolhido, pode ser que você veja menos do que quem estiver ao lado do piloto. Em voos panorâmicos, tente sempre ir na frente. Caso o voo seja com porta aberta, aproveite e escolha o assento ao lado da porta.
Em um voo privado, temos mais possibilidades para fotografar, porque há maior facilidade para remover a porta e, também, pedir ao piloto que execute algumas manobras. Com frequência, o preço dos voos privados é maior que dos voos panorâmicos, mas os resultados provavelmente serão superiores. Além disso, num voo privado há mais liberdade para definir o roteiro e, com isso, fotografar áreas específicas. Essa liberdade influencia muito no resultado e, por isso, é a minha maneira preferida de voar.
2 . Segurança
Voar de helicóptero é algo sério. Precisamos estar atentos e vigilantes às orientações do piloto, que é o responsável pelo voo e sempre terá razão. Desobedecer a uma ordem pode causar sérios problemas para você e para os outros.
Num voo de helicóptero com portas abertas, existe altíssima chance de pequenos objetos se desprenderem e causarem um acidente. Imagine se, por um descuido, o celular solte da sua mão e atinja o rotor do helicóptero? Os danos podem ser catastróficos. Todos os equipamentos devem estar presos ao seu corpo ou à aeronave. Confira duas vezes antes de iniciar o voo.
3 . Equipamentos utilizados
Uma câmera com uma lente que tenha zoom é suficiente. É importante dispor de uma lente que possua versatilidade, pois nem sempre será possível se aproximar do que se deseja fotografar. Certifique-se de ter um cartão de memória com bastante espaço e uma bateria carregada. Não recomendo trocar bateria ou o cartão de memória no ar, principalmente se estiver com portas abertas. Estes pequenos objetos podem sair da sua mão e voarem para fora da aeronave. Da mesma forma, se a sua câmera tiver para-sol (hood), deixe-o no hangar. Óculos, canetas, carteiras, celular – guarde tudo o que puder. Quando estiver voando aproveite a experiência.
Eu uso duas câmeras, uma Nikon D810 com uma lente 16-35mm (para fotos onde preciso de um ângulo maior) e uma Nikon D810 com uma lente 24-120mm (para fotografar algo mais próximo). Estas duas lentes atendem às distancias focais que preciso para cobrir quase todos os ângulos. Levo duas câmeras para não precisar trocar lentes – mais uma vez, seria um movimento arriscado. Em cada câmera uso 2 cartões de 64 GB cada. É importante usar cartões com velocidade de gravação superior a 95MB/s, caso faça fotos em sequência. Essa quantidade de cartões é suficiente para fazer fotos sem me preocupar com a troca.
Outro equipamento que considero essencial é o GPS. O modelo que uso é o Nikon GPS GP-1A, que marca latitude, longitude, altitude e horário. Com estas informações, posso verificar posteriormente onde as fotos foram tiradas. Uso o módulo “Mapas”, do Adobe Lightroom, para visualizar estes dados.
A depender da posição do helicóptero em relação ao sol, um filtro polarizador pode ajudar. Ele também pode servir para eliminar o reflexo do vidro do helicóptero, mas isso não necessariamente irá funcionar. Sugiro se aproximar ao máximo do vidro para tentar cortar esse reflexo. Eu, particularmente, prefiro não usá-lo, pois é mais uma peça móvel que pode se soltar. Sugiro usar roupas escuras, pois se fizer o voo com porta fechada esta opção pode atenuar os reflexos indesejáveis.
4 . Planejando o voo
Planejar o voo é uma etapa essencial. Caso seja um voo panorâmico, contratado por meio de um tour, é importante verificar em quais pontos o helicóptero vai passar e ver como o sol irá incidir neles. Escolher bem o horário certamente trará um grande impacto nas fotos, que podem ficar bem mais interessantes se o sol estiver a favor.
Para verificar a incidência da luz do sol no local por onde vou passar e o melhor horário para fotografar, costumo usar o aplicativo Photopills no celular ou o TPE no computador. Evito o horário de meio-dia, quando os raios solares estão muito fortes. Tenho obtido melhores resultados no inicio da manhã e perto do final da tarde.
A previsão do tempo é outro aspecto relevante. Tente voar em dias com céu limpo, pois nuvens esparsas podem gerar sombras indesejadas nas fotos. Também observe a neblina; evite voar com baixa visibilidade. Os pilotos sempre saberão como está a visibilidade do dia. Se só for possível voar com neblina, parte dela pode ser corrigida na pós-produção (inclusive o Adobe Lightroom tem uma ferramenta própria para tirar neblina, chamada “Dehaze”, que basicamente dá contraste na imagem).
5 . Escolha do helicóptero
Para fazer um voo fotográfico, recomendo os modelos Robinson R22 e Schweizer 300 CBi. São helicópteros menores, normalmente usados em treinamento de pilotos e patrulha; têm boa performance e baixo custo operacional. O ponto negativo é que ele só comporta um passageiro e, em algumas cidades, existem restrições de sobrevoo com essa aeronave. O custo por hora de voo neste tipo de aeronave é bem mais em conta se comparado com modelos mais robustos.
Os modelos que transportam mais passageiros, tais como o Robinson R44, R66, Esquilo AS350 ou um colibri EC120, são excelentes e, com eles, provavelmente não haverá restrição para fazer voos em zonas urbanas. São os modelos comumente usados para voos panorâmicos, nos quais é possível remover as portas (o que nem sempre será uma opção).
6 . Algumas fotos que fiz
7 . Configurações da câmera
O passo seguinte é ajustar a configuração da câmera para resolver o principal problema técnico da fotografia aérea. A prioridade aqui é a velocidade! Quanto menor o tempo, maior a chance de obtermos fotos nítidas. A câmera pode ser usada no modo manual ou no modo de prioridade de velocidade (“S” nas câmeras Nikon e “Tv” nas câmeras Canon). Se sua máquina for de outro fabricante, é só buscar pelo modo manual ou prioridade de velocidade nela.
Em qualquer destes dois modos, defina a velocidade do obturador entre 1/800 e 1/2000 e o ISO entre 100 e 400 (se o voo for de noite, você pode precisar de valores maiores para este parâmetro). Para o modo manual, determine a abertura do diafragma entre f/4 e f/8, enquanto que no modo de prioridade de velocidade a abertura do diafragma será controlada pela câmera, que vai equilibrá-la para poder compensar e expor corretamente. Não há necessidade de usar valores altos para a abertura do diafragma já que, como o tema a ser fotografado está longe, a profundidade de campo não será um problema e tudo ficará focado.
A ideia aqui é equilibrar a tríade abertura do diafragma/velocidade do obturador/ISO priorizando, sempre, a velocidade. O ajuste dos valores vai depender do local e das condições de luminosidade, tanto para o modo manual quando para o modo de prioridade de velocidade. Se a lente tiver distância focal superior a 200mm, é recomendado usar velocidades ainda menores – por exemplo, 1/1600 –, para garantir a nitidez. Imagine voltar de um voo bem legal com as fotos tremidas?
Lentes com sistema de estabilização de imagem / redução de vibração são bem-vindas, mas o que vai garantir o melhor resultado contra a vibração será o tempo de exposição menor. Evite encostar na fuselagem do helicóptero quando fizer as fotos, visto que a vibração do motor pode interferir na nitidez da foto.
Existem equipamentos para reduzir a vibração, os chamados “Gyro”, que são excelentes para fotografar à noite, pois com eles podemos aumentar o tempo de exposição sem tremer. O problema desses equipamentos é que são extremamente caros, mas a depender da cidade que você esteja é possível alugar um.
Com relação ao foco e ao modo de medição, costumo usar o foco automático AF-S e modo de medição matricial, mas é possível usar o foco manual travando a lente no infinito. Recomendo prender com uma fita a lente porque, com o movimento, o foco pode sair do lugar.
8 . Bônus: Referências
Como comentei no início, fazer fotografias aéreas é uma experiência maravilhosa. Segue abaixo uma lista com trabalhos excelentes de fotografia aérea para você se inspirar.
- Alex Maclean
- Nilton Souza
- Joas Souza
- Jason Hawkes
- George Steinmetz
- Cameron Davidson
- Yann Arthus-Bertrand
Se você tiver alguma dúvida sobre fotografia aérea, deixe um comentário aqui.