5 dicas para começar na fotografia analógica
Alguns dos fotógrafos desta última geração já começaram com o digital e não tiveram a oportunidade de viver o prazer e a experiência da fotografia analógica. Sou da geração que teve a sorte de ser a última a conseguir aproveitar dos anos de ouro da fotografia com filme.
Voltar a fotografar com analógico, ainda que apenas por hobby, me fez reviver muitos sentimentos e atitudes que eu tinha esquecido. Nos últimos anos, me dediquei bastante a esse projeto de redescobrir a fotografia, voltando a fotografar com filme nas horas vagas. Também voltei a estudar o processo de revelação e transformei a lavanderia do meu apê em um mini laboratório de revelação de filmes PB.
Separei algumas dicas básicas e coloquei em forma de perguntas para os leitores da iPhoto Channel que estão pensando em buscar uma nova experiência fotográfica!
1 – Se o que vale é a experiência qualquer câmera serve?
Sem frescura, quando o que importa é viver uma experiência a câmera, é indiferente. E na fotografia analógica isso é mais forte ainda, afinal essas fotos não vão ser comercializadas ou expostas no Louvre. O mundo digital nos contaminou com a doença de que o equipamento melhor é o mais caro, e pensamos que vamos fotografar melhor com câmeras melhores! Se isso já é balela no mundo da fotografia digital, quando se fala em analógico é mais balela ainda.
Na verdade a câmera só serve pra correr o filme e escondê-lo da luz, uma vez que a qualidade da fotografia está muito mais relacionada com a qualidade da lente e da emulsão no filme. Porém, quando já temos familiaridade com DSLRs, erramos muito menos nas exposições quando usamos SLRs eletrônicas da mesma marca das nossas digitais. Por exemplo, sou nikonzero (nem sei se é assim que se escreve) , então procuro uma câmera analógica SLR eletrônica da Nikon. Alguns modelos, tirando o fato de não poder ver o resultado instantaneamente, são quase idênticos às digitais principalmente em relação à fotometria, foco, comando nos discos de abertura e velocidade.
2 – É pra copiar, professor?
Simmmmm! Anote tudo! Mesmo as mais sofisticadas câmeras analógicas não imprimem no filme quais as configurações utilizadas, ou seja, não tem EXIF em analógico! Anote condições de luz no local onde fez cada foto, bem como velocidade, abertura e principalmente ISO do filme usado. Assim você terá um comparativo quando pegar as fotos na mão.
3 – Qual o melhor filme para começar?
Sem sombra de dúvida: os mais baratos! Uma coisa que muita gente se engana é que a fotografia analógica é barata, e isso não é verdade! Em média você gasta uns R$ 45 na compra, revelação e ampliação 10×15 de um filme – ou até o dobro disso caso queira escanear suas fotos pra postar nas redes sociais. Agora imagina gastar esse valor e ver que salvou 3 ou 4 fotos apenas (o que não é raro acontecer nos primeiros cliques com analógico). No começo, esqueça os Chromos e o PB, fique mesmo nos filmes mais simples como o Superia da Fuji e o Colorplus 200 da Kodak.
4 – Preciso ampliar todas as fotos de um filme?
Não, não precisa! Uma saída é pedir só para revelar a tira de filme e escanear os fotogramas. Assim você só manda ampliar o que quer. Outra opção é uma prática bem antiga (que eu ainda faço): pedir para fazer um “copião”. O copião é uma foto grande, geralmente 30×40, que contem todas as suas fotos em miniatura numa única ampliação. Dessa forma já dá pra ter uma boa ideia do que prestou ou não, e você vai gastar bem menos podendo escolher só as melhores para serem ampliadas.
5 – Só 36?
É mais do que suficiente! Outro tipo de contaminação do digital é a correria com que as pessoas fotografam. Nesse impulso por disparos insistimos em fotografar, mesmo sabendo que aquela imagem não vai prestar. Cansei de sair de casa com 8 rolos de filme a fim de sentar o dedo, mas voltar com apenas metade de 1 filme exposto. Isso porque a fotografia analógica nos faz contemplar mais, refletir mais; não só em relação ao foco e fotometria, mas também se aquela cena vale a pena ser fotografada.
E o que sempre digo é que um dos maiores prazeres da fotografia analógica é você enquadrar, analisar e, depois de refletir, decidir “não fotografar” por não valer a pena ou por já prever que não ia ficar bacana a exposição.
BÔNUS: Minha experiência
Devido as minhas postagens nas redes sociais, principalmente no Facebook, acabei virando um “consultor” sobre fotografia analógica da galera na cidade onde moro (Londrina/PR). Uma coisa que me espantou bastante foi a quantidade de fotógrafos (alguns até já certo renome na região) que me procuravam perguntando coisas relacionadas à fotografia analógica – e o que muito me impressionou foi que eles não tinham nenhuma ideia como funciona esse tipo de fotografia.
Coisas simples como colocar um filme na câmera eram um mistério para muitos fotógrafos que me procuravam! Então eu sempre me perguntava o que estaria levando essas pessoas a me procurarem com esse proposito. Sem dúvida me convenci que essa busca ia além do grão que os Vsco tenta (mas não consegue) imitar. A grande busca por esse tipo de fotografia não estava no resultado final e sim na experiência, no processo, na poesia da parada!
A limitação dos 36 fotogramas, a espera para ver o resultado, e a expectativa na hora da revelação parecem ser mais importante que a fotografia no final das contas.
Então, como um susto, me veio a ideia de montar um canal no Youtube pra passar um pouquinho dessas informações, sempre mostrando curiosidades e fazendo analogias ao processo digital para que seja de simples compreensão. No fundo mesmo meu objetivo é incentivar as pessoas a buscarem essa forma de fotografar a fim de difundir esse conhecimento, dando à fotografia analógica todo respeito que ela merece, principalmente em uma era onde a produção de imagens é tão desvalorizada.
Espero que tenham gostado das dicas! Para quem tiver mais curiosidade, indico meu canal no Youtube Câmera Velha onde falo apenas sobre este tema. O mais importante é entender que a fotografia analógica não é melhor nem pior, mas sim diferente. E mais relevante do que uma bela imagem é a experiência de contemplar um processo centenário que de certa forma faz parte de toda nossa história. German Lorca diz que “A Caixa de sapatos salvou a história das famílias”.