11/09: um brasileiro no “olho do furacão”

Foto: J. C. Volotão

O dia 11 de setembro de 2001 marcou a vida de bilhões de pessoas em todo o mundo. Para mim, foi o dia em que minha filha salvou-me a vida. Escrevi o texto abaixo no dia do atentado, em Nova York. Literalmente, no “olho do furacão”. Também fiz centenas de fotos – fui um dos poucos brasileiros a registrar os momentos logo após o ataque. Algumas delas, onze anos depois, ainda são difíceis de olhar…

Foto: J. C. Volotão

Nova York, 11 de setembro de 2001

Tudo começou com um telefonema que recebi, falando que um avião havia batido no World Trade Center e, em segundos, as notícias começaram a chegar, pela televisão e também pelas outras linhas telefônicas. Não era boato: houve um atentado em Nova York!

Peguei meu equipamento para ir correndo ao local, pois sou repórter fotográfico e tinha que registrar o ocorrido. Minha filhinha Bianca, de apenas 1 ano e 6 meses, estava comigo e a babá não tinha chegado ainda.

Arrumei as coisas dela e fui levá-la para a casa da babá, pois não podia perder tempo. Chamei Robson Mello, meu amigo e também parceiro de muitas aventuras. Moro fora de Manhattan, pois gosto de paz, do verde, mas não tinha nenhuma ponte aberta. O que poderia fazer era ir até o Brooklyn e de lá pensar em algo.

Pegamos o jeep, coloquei a carteira da polícia ampliada no vidro da frente e nas laterais, pois seria muito mais fácil e ela servia exatamente para isso. Foram mais de dez sinais vermelhos avançados e muitas barricadas da polícia, contramão… Nessa hora, um dos prédios já tinha caído! Chegamos a subir em calçadas para cortar o engarrafamento, até que alcançamos a ponte Brooklyn Bridge, onde milhares de pessoas vinham em nossa direção nas duas pistas.

Foto: J. C. VolotãoAproveitei para fazer algumas fotos, já que não via nenhum carro em nenhum sentido, somente o meu. Foi quando percebi que seria impossível ir de carro, por causa da multidão. Voltar com o carro perderia muito tempo, pois o rio estava logo abaixo. Abandonamos o carro e corremos para achar um caminho para a beira do rio.

Nisso, o outro prédio também já havia caído, mas, com a preocupação de chegar ao local, não vimos isso acontecer, pois em alguns pontos não dava para ver a ilha de Manhattan. Começamos a chamar os barcos, até que um veio para ver o que estava acontecendo. Pedimos carona até o Pier 17, ofereci dinheiro, mas a resposta foi não.

Depois do terceiro barco, conseguimos chegar na Wall Street. Não tinha quase ninguém, apenas algumas pessoas perdidas e policiais, as lojas abertas e abandonadas, todos estavam saindo pelo norte – e nós entramos pelo sul. Já estava no local, nada tinha cor, estava tudo cinza, tinha que chegar ao ponto do atentado, mas a poeira e a fumaça não deixavam enxergar direito.

Senti-me em uma cidade em guerra, sem muitas condições para me defender, pois não tinha máscara ou outros equipamentos para aquelas condições. Não pensei em nenhum momento que meus amigos poderiam também estar entre os escombros, pois sei que isso poderia atrapalhar o meu trabalho. Tive que ser frio, caso contrário seria melhor ter ficado em casa.

Foto: J. C. Volotão

Foto: J. C. Volotão

Estava correndo riscos também, tinha que ficar atento a tudo. O prédio ao qual cheguei pertinho era o anexo 5, que depois caiu. Tinha muita gente ajudando e todos estavam bem equipados com máscaras, luvas e outros acessórios. Tive que montar os flashes nas câmeras, pois seria impossível fotografar com a poeira e a fumaça aumentando.

Então, o vento mudou e a coisa ficou preocupante. Virou noite, não conseguia respirar direito, enxergava muito pouco. Tossia o tempo todo. O lenço amarrado no rosto de nada adiantava.

Foi naquele momento que vi que os poucos minutos que demorei em arrumar minha filha e deixá-la na babá salvaram minha vida. Muitos dos profissionais da imprensa que chegaram antes morreram soterrados – estavam registrando a saída do pessoal do prédio quando ele caiu.

Registrei o que pude, pois a força que tinha era a da minha profissão, a função de congelar o momento, mas não aguentava mais lutar. Voltei pelo mesmo lugar e consegui outra carona para o outro lado. Por incrível que pareça, o carro estava no mesmo lugar, todo aberto, como 0 deixei.

Corri para casa, dei um beijão na minha filhinha, muito feliz por ter conseguido fazer o trabalho, registrado os fatos, e estar vivo para contar, pois ela salvou minha vida.

Foto: J. C. Volotão

Foto: J. C. Volotão

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