É da natureza humana encontrar algo novo e bonito para, em seguida, usar até gastar e ficar sem graça. As crianças fazem isso com brinquedos e os adultos, com músicas favoritas. E com técnicas fotográficas. A fronteira entre o razoável e o excessivo pode ser difícil de notar quando você está profundamente envolvido no processo criativo, por isso aqui estão algumas orientações rápidas para ajudar a encontrar esse limite.
A intenção aqui não é ser negativo ou suprimir a criatividade, é apenas mostrar o que pode acabar virando excesso. Use todas estas técnicas o quanto você gostar.
- Vinhetas
As vinhetas são o escurecimento (ou iluminação) dos cantos e bordas de uma imagem para enfatizar o assunto no meio do quadro. Ela pode ser causada por características óticas das lentes ou adicionada na pós-produção.
Quando é demais? Quando você adiciona a vinheta em uma foto durante a edição, pode ser difícil ter noção de como perceptível o efeito realmente é. Muitos filtros de vinhetas tendem a adicionar um escurecendo em torno de todo o quadro, deixando uma marca oval no meio que, quando exagerado, pode se assemelhar aos retratos ovais antigos que caíram em desuso há 30 anos. Este efeito também pode sugerir a outros fotógrafos que você não foi cuidadoso com as bordas de sua foto – e está tentando cobrir alguma coisa.
Como usar de forma responsável: Uma maneira de manter as coisas orgânicas é usar a vinheta natural das lentes. Cliques bem abertos podem criar bordas mais escuras, especialmente com lentes mais rápidas. Se você for colocar na pós-produção, tente imitar vinhetas orgânicas.
- Profundidade de campo superficial
É quando um pequeno pedaço da foto está em foco e o resto todo está fora de foco num borrão intenso.
Quando é demais? Se a lente vai até f/1.4, o desejo pode ser clicar só em f/1.4. Afinal, você paga por essa abertura extra. Portanto, seria uma pena não usá-la. No entanto, todo aquele belo bokeh pode obscurecer o fato de que partes importantes de seu assunto não estão em foco. Em f/1.4, uma fotografia normal por ficar estilizada demais. É importante notar também que as lentes são tipicamente menos nítidas ao fotografar com diafragma bem abertos.
Como usar de forma responsável: Sinta-se livre para criar o bokeh, mas é importante considerar o assunto que está sendo fotografado. Se há um bonito borrão no fundo da foto, não vai importar muito o fato de seu objeto principal estar numa confusão de foco, ou um pouco fora. Fotografar com uma abertura baixa para maior profundidade de campo também vai fazer você prestar mais atenção aos seus fundos – o que você deve fazer sempre, de qualquer maneira.
- HDR
O efeito HDR ocorre quando se combina várias imagens da mesma cena com exposições diferentes. Dá a impressão de que a câmera tinha a capacidade de capturar as coisas fora de sua gama dinâmica normal.
Quando é demais? Este é o avô das técnicas fotográficas em exagero. Uma rápida pesquisa no Flickr para “HDR” irá trazer monstruosidades que dão dor nos olhos. Se sua foto está parecendo um jogo de computador do tipo World of Warcraft, então está excessivo.
Como usar de forma responsável: Se você ama o HDR, saiba que o poder real do HDR começa quando ele é feito de forma sutil. Você pode fazer com que uma cena pareça mais como ela é na vida real trazendo detalhes em sombras e destaques que poderiam ser perdidos sem o HDR.
- Pretos elevados e brancos omitidos
Existem duas extremidades para histograma de uma foto e, mantendo o gráfico de distância de cada extremidade, você pode tirar os pretos ou os brancos em uma foto, alterando assim o alcance dinâmico. Isso às vezes oferece um olhar “vintage”. Você também pode simplificar as coisas e chamá-lo “Instagrammy”.
Quando é demais: os pretos elevados estão extremamente populares no momento graças, em grande parte, à prevalência de filtros de emulação de filme como VSCO. Dito isto, há uma linha tênue entre imagens que parecem “estilizadas” e aquelas que parecem indevidamente editadas e expostas. Colocar os pretos lá em cima e os mutar os brancos pode te dar um monte de likes no Facebook, mas há uma chance de que, quando você olhar para trás, ver que essas imagens ficaram extremamente datadas.
Como usar de forma responsável: Descubra seu estilo. Tons pretos elevados são pouco mais fáceis de experimentar, porque muitas pessoas visualizam imagens em telas móveis, o que aumenta o contraste de qualquer maneira, fazendo-o parecer menos chocante. Quando se trata de brancos suaves, no entanto, ele pode fazer que a imagem global pareça escura, o que pode ser menos atraente para os olhos. Se é isso que você quer, ótimo! Se não, é melhor agir com prudência. Não tenha medo de ajustar esses presets e deixar eles como você realmente quer.
- Nitidez
De maneira simplificada, a nitidez faz as bordas dos objetos em uma foto mais acentuadas e nítidas.
Quando é demais? Acrescentar muita nitidez em uma foto pode criar linhas muito estranhas em qualquer lugar onde há uma borda de alto contraste. Você também pode introduzir uma grande quantidade de detalhes desagradáveis em uma imagem se aumentar demais a nitidez. Se a imagem parecer excessivamente granulada ou o sujeito começa ficar com estranhas formas luminosas em torno das bordas, então já é demais.
Como usar de forma responsável: todos nós nos esforçamos para fazer imagens nítidas, por isso a tentação de usar o controle deslizante de nitidez é forte. A estratégia é adicionar muita nitidez intencionalmente e, em seguida, trazer ela de volta, diminuindo. Assim você consegue notar o ponto certo (e não exagerado) do uso da nitidez.
É importante notar que muito raramente a nitidez vai consertar uma imagem que está fora de foco ou que sofreu borrão de movimento. Ela normalmente só piora as coisas. Na foto da galinha acima, a original tinha um suave borrão de movimento e você pode ver que a nitidez não consertou o borrão, mas deixou a foto com uma aparência estranha.
- Claridade
O controle de Claridade afeta o contraste dos meios-tons. Então, em vez de adicionar um ajuste de contraste global, ele só tenta enfatizar as diferenças em áreas de alto contraste, que normalmente representam bordas.
Quando é demais? Claridade soa bem, certo? Por que, afinal, você não iria querer que suas imagens fiquem tão “claras” quanto possível? Mas se você for longe demais vai começar a perceber que a coisa fica um pouco caricatural e as características das pessoas podem começar a ficar duras demais. Também podem parecer um pouco sujas.
Como usar de forma responsável: Ao contrário de nitidez, a claridade não parece ser um ajuste essencial para as imagens. O primeiro passo é realmente identificar as fotos que se beneficiariam com isso. Coisas com um monte de padrões de textura intrincados podem obter uma melhora com um pouco de claridade. Quando as coisas começam a parecer estranhas, é melhor diminuir o uso ou intensidade.
- Lens Flare (“manchas de luz”)
É um “defeito” que ocorre quando a luz entra através das extremidades de uma lente, criando essas pequenas manchas de luz e uma neblina perceptível.
Quando é demais? Algumas lentes fazem flares de uma forma muito mais atraente do que outras. E câmeras de smartphones, por exemplo, muitas vezes têm um flare nada menos que feio. Você sempre vai perder contraste quando introduz o flare, e pode perder detalhes importantes de sua imagem. Uma vez que este efeito é popular entre os fotógrafos de retrato, também é importante usá-lo com moderação durante uma sessão. O modelo pode amar os flares de lente que você fornece, mas também vai querer algumas fotos onde possa ver quem ele realmente é.
Como usar de forma responsável: Se você tem que trabalhar duro para conseguir um flare, é provável que as condições não sejam propícias para isso. Ao invés de obter uma neblina de sonho, você vai ficar com uma imagem plana, desbotada, que mais parece um erro do que uma escolha criativa.
Enquanto as pequenas reflexões podem ficar muito legais no quadro, elas também podem lutar contra o assunto. O flare pode estar na frente do rosto de alguém e estragar uma foto.
- “Arrastar” o obturador
Essa técnica consiste em deixar o obturador da câmera aberto por um longo período, enquanto dispara o flash e cria um sujeito semi-nítido, com trilhas de luz a partir de outras fontes de luz no quadro.
Quando é demais? Esta é uma técnica extremamente popular entre os fotógrafos de shows, muitas vezes por causa da iluminação do palco ser extremamente difícil e colorida. O problema é que muitas vezes não fica muito claro se o fotógrafo quis empregar a técnica ou se foi sem querer. E quando uma sessão fotográfica inteira de um show é assim… Bem, parece um pouco demais.
Como usar de forma responsável: Antes de você pressionar o botão do obturador, olhe para a luz e descubra o que ela vai criar com movimentos de câmera diferentes. Os raios de luz ficaram bons para esta foto acima, mas eles também obscureceram o rosto do músico e perdemos aqui uma grande expressão.
Também é importante considerar a natureza frenética do próprio efeito. Muitas vezes pode fazer imagens parecerem agitadas: o que poderia ser ótimo para um show, mas nem tanto em ambientes mais calmos.
- Fisheye (Olho de peixe)
Lentes grande angulares fisheye produzem distorção nas bordas, enfatizando o centro do quadro e criando um olhar original e intenso.
Quando é demais? A lente olho de peixe é, na verdade, um investimento bastante substancial. Uma vez que você compra uma, naturalmente quer fotografar tudo com ela. O problema é que a aparência distorcida não funciona bem com alguns tipos de fotografia, como retratos.
Como usar de forma responsável: O primeiro passo para usar uma olho de peixe é identificar se o assunto combina com essa abordagem. Elas são bastante usadas em esportes como Skate. O uso nesse tipo de esporte tornou-se menos popular nos últimos anos e, por isso, pode parecer um pouco datado. O melhor uso, realmente, é quando você quer colocar tanto de uma cena quanto possível em um único quadro. Não exagerar a quantidade de fotos no mesmo ângulo também evita de desgastar visualmente o espectador. A foto do frango, por exemplo, é engraçada se houvesse só o animal, mas com a pessoa ali ficou esquisita.
- Tilt-Shift
O Tilt-Shift ocorre com lentes especiais de elementos que inclinam, se deslocam e balançam para criar uma variedade de efeitos visuais nas fotos.
Quando é demais? Este é um assunto delicado, porque você pode fazer um monte de coisas com uma lente tilt-shift. A técnica criativa mais utilizada é inclinar ou oscilar a lente, resultando em um rastro fino de foco que atravessa a imagem em qualquer uma linha vertical ou horizontal. Se o efeito de foco começa a ofuscar o assunto, então é exagero.
Como usar de forma responsável: Basicamente, você tem que prestar atenção nas linhas em seu quadro. Você quer que o efeito de foco pareça proposital. É interessante notar que falso tilt-shift tornou-se muito convincente. Por isso, se você quer ter o crédito de fazer seus efeitos direto na câmera, o tilt-shift pode não ser o caminho a percorrer.
O recado final que fica: se você está fazendo uma coisa demais, de forma exagerada, em (quase) todas as fotos de uma sessão, cuidado: pode estar passando dos limites.
FONTE: POPPHOTO