O artista Tavis Leaf Glover, com a intenção esclarecer e ajudar outros iniciantes do mundo da arte, teve a brilhante ideia de desvendar um dos grandes métodos de composição: A Regra dos Terços.
Normalmente, a palavra “regra” tem um significado que pode ser visto como negativo, mas não é esse o objetivo do artigo. Seria apenas uma opção a mais para introduzir em sua percepção artística. Assim, Glover listou ao site PetaPixel 10 mitos sobre a Regra dos Terços, que são:
1 – Ele torna tudo visualmente mais agradável
Para começar, temos que saber o que de fato faz uma imagem visualmente agradável, e não será colocando o seu assunto de acordo com a regra dos terços. Para ser visualmente mais agradável é preciso aplicar técnicas de composição de uma maneira que possa ser facilmente interpretada pelo espectador, sem envolver elementos de distração ou criando confusão pela falta de hierarquia. Como fazemos isso?
Primeiramente, nós precisamos entender como a mente percebe estímulos visuais. Para isso, use a técnica de psicologia Gestalt como a Figura de Base de Relacionamento, para separar o assunto do fundo.
Ou podemos usar a Lei da Continuidade, o que nos permitirá criar um arabesco circular usando vários objetos.
Podemos até usar maior área de contraste para ajudar a direcionar os olhos do nosso espectador para o assunto principal.
2 – Profissionais usam isso
O próximo mito é o uso profissional da regra dos terços. Annie Leibovitz é sem dúvidas uma grande profissional, e uma das fotógrafas mais inspiradoras atualmente. Então, vamos pegar uma de suas fotos e simplesmente alinhá-la à regra da grade dos terços, e ver se ela usou ou não.
Nós podemos ver como as linhas mantel se encaixam perfeitamente com a regra da grade dos terços. Acho que ela queria usá-la…mas como ela posou as modelos? Como ela criou uma ótima composição, quando há apenas linhas horizontais e verticais para guiar? O que se faz em seguida? Como posicionar os braços, pernas, roupas e olhar? É aqui onde introduzimos a simetria dinâmica.
Para que Annie representar adequadamente as modelos, ela usou a simetria dinâmica, que é basicamente um termo chique para sistema de rede.
Simplificando, sistema de rede é algo que podemos utilizar em nossa fotografia para nos ajudar a organizar a nossa composição. Podemos usar as diagonais, verticais, horizontais para nos auxiliar a criar ritmo e unidade em toda imagem. Tanto em pintura, fotografia ou escultura, a simetria dinâmica pode ser usada.
3 – Ela move o olho ao redor da imagem
Isso não poderia estar mais longe da verdade. Colocando o seu assunto em um ponto sem consideração com o conjunto não vai ajudar a criar o movimento dentro de sua composição.
Após aprender outra técnica de psicologia da Gestalt, chamada Lei da Continuidade, descobrimos várias ferramentas que podemos usar para criar o movimento e harmonia, que irá mover o olho ao redor da imagem. O mais visualmente agradável é um Arabesco.
Este é um elemento curvilíneo possível de incorporar em sua arte para criar um movimento circular bonito em toda a imagem. Ao longo dos anos pintores utilizaram esse método em seus trabalhos.
Outra técnica utilizada para criar movimento é chamado de Coincidência. Ela é definida como relações de borda a borda que juntam vários elementos e acabam criando movimentos lado a lado ou de cima para baixo.
Não é uma linha sólida como se pode pensar quando você ouve o termo “linhas principais”. É quebrado, escondido, praticamente um truque de mágica que podemos usar para fechar as lacunas.
Nesta foto de Annie Leibovitz podemos ver as relações de borda a borda que ela cria usando os membros dos modelos.
Também é possível ver no quadro da Mona Lisa de Da Vinci, e nesta composição complexa por Bourguereau.
4 – Deixa o assunto fora do centro
Em primeiro lugar, quem decretou que centralizar é ruim? Quem nos levou a acreditar nisso?
Há uma técnica da psicologia de Gestalt chamada Lei da Simetria, que basicamente significa que a mente humana está sempre tentando encontrar o equilíbrio em estímulos visuais. Então, ao usar a regra dos terços e deixar o assunto descentralizado, será preciso uma contrapartida que ajude a balancear a imagem. Se não houver algo que crie isso, teremos criado um equilíbrio horrível dentro da nossa composição.
Tem um equilíbrio vertical (espaço para respirar), e o equilíbrio horizontal (olhar para as direção), e nós devemos entender como controlar cada um deles para criar uma composição balanceada corretamente.
Aqui está uma foto criada por Tavis Leaf Glover, que possui o tema principal centralizado, mas está devidamente equilibrada, já que o equilíbrio vertical e horizontal foi considerado.
“Levei anos para apagar o dano que a regra dos terços causou nas minhas composições. Eu costumava posicionar o assunto de um lado ou de outro, sem levar em consideração a imagem como um todo”
5 – Base para uma foto bem equilibrada e interessante
Já falamos sobre a Lei da Simetria que abrange o equilíbrio adequado de uma imagem, mas o que ainda não foi mencionado é como a regra dos terços proporciona espaço negativo indesejado. Se colocarmos o assunto em um dos lados sem consideração com o restante da imagem, então não vamos ter uma contrapartida no outro lado da composição, e teremos espaço negativo que desvia a atenção do nosso assunto.
O espaço negativo pode ser adequadamente utilizado para criar um sentimento de isolamento ou solidão, mas usá-lo sem sofisticação é perigoso.
6 – É um excelente ponto de partida para iniciantes
A regra dos terços leva para uma estrada sem saída. “Primeiro, pensei nisso como revolucionário, ostentando meus poderes para os fotógrafos que estavam apenas começando”, diz Tavis.
“Mais tarde me encontrei sem ser capaz de entender como compor adequadamente uma imagem, porque a regra dos terços estava me guiando”
Se os novos artistas começarem com a grade da simetria dinâmica, ao invés da regra dos terços, eles serão capazes de tirar proveito das linhas diagonais, das quais eles podem criar ritmo na imagem, seja posando os modelos, ou por meio da pintura. As diagonais disponíveis dentro do retângulo irão limitar o número de direções que você vai usar, as gamas. Isso irá criar uma composição mais poderosa do que os raios de um pneu de bicicleta.
7 – Os artistas do Renascimento, ou os artistas gregos, criaram a regra dos terços
A regra dos terços foi registrada pela primeira vez em um livro de Smith (aproximadamente em 1797), e se você der uma analisada em sua pintura, perceberá que ele não era exatamente um especialista.
Da Vinci estaria rolando no túmulo se ouvisse alguém dizer que ele usava isso. Pensar na quantidade de estudo, conhecimento e prática que ele colocava em suas composições, e alguém simplificar tudo isso para algo tão simples como a regra dos terços? De jeito nenhum!
Da Vinci, assim como outros artistas, usava a simetria dinâmica, a proporção áurea e outras técnicas de design como arabescos, gama, coincidência, linhas radiais, relação figura-fundo, elipses e caixas.
8 – O olho humano gravita naturalmente para os pontos de intersecção
Seria bom se compor fosse tão fácil. Colocar o seu objeto em uma direção e bum!, você está automaticamente controlando os olhos do espectador. Mas e o fato de que somos atraídos para áreas de grande contraste?
Quando fazemos do nosso assunto a Maior Área de Contraste, olharemos primeiro para isso, independente da posição em que estiver.
Outra coisa que atrai o nosso olhar, é o que costumo chamar de Borda Flicker. Isso refere-se a grandes elementos contrastantes perto da borda, que acabam distraindo o telespectador do assunto.
Criar uma hierarquia de contraste e manter as bordas livres de distrações irá ajudá-lo a controlar a forma como os olhos do seu público se deslocam na composição.
9 – Cortar na regra dos terços depois de fazer uma foto, é uma ótima maneira de salvar uma imagem
Cortar uma imagem mal composta, mal iluminada, não vai salvar nada.
Aprenda técnicas de composição e psicologia Gestalt para que você saiba o que procurar, como solucionar problemas visuais, e obter isso direito na câmera. Não sacrifique pixels para a regra dos terços. Sua criatividade merece o melhor.
10 – Os pontos de energia, ou pontos de ouro, criam tensão
Colocar o assunto em um ponto da regra dos terços não vai criar tensão.
Analisando a técnica de psicologia de Gestalt chamada Lei da Proximidade, veremos como a tensão visual pode ser criada. Por exemplo, essa pintura no teto da Capela Sistina: eles são claramente unificados pela sua proximidade, mas outra coisa para notar é a tensão visual criada pelo fato de que eles estão quase se encostando, mas não completamente. É o momento antes do impacto.
Ou essa fotografia onde um homem está quase alcançando sua esposa prestes a cair. É essa proximidade que cria a tensão.
Ao considerar a Lei da Proximidade, a distância pode criar espaço negativo, que nessa foto, cria uma tensão na sala.
Tavis Leaf Glover é um fotógrafo de fine arte de Honolulu, Havaí. Para conhecer mais sobre o seu trabalho, acesse o site ou Flickr. Ele também é professor na técnica de como aplicar princípios da psicologia de Gestalt à fotografia e arte.
Fonte: PetaPixel