O fundo branco agora é da Amazon

Você que está acompanhando o noticiário sobre a Copa do Mundo já deve saber disso: a Fifa obteve o direito de exclusividade sobre o uso, durante o mundial, de algumas frases e palavras, entre elas “pagode”. Se você quiser aplicar o termo em algum trabalho seu, veja se não será preciso pagar algum para a “entidade máxima do futebol”.

O que talvez escapado a você – mas não aos fotógrafos mais antenados – é que outra grande companhia andou, ultimamente, metendo a mão em inusitado terreno alheio. Foi descoberto em meados de maio, pelo blogue DIY Photography, mas a operação já havia sido concluída em março: a Amazon, a gigante das vendas on-line, patenteou o uso do fundo branco.

A notícia não apenas chocou fotógrafos pelo mundo, como os deixou com a pulga atrás da orelha. Fotografar um modelo ou um objeto diante de um fundo branco é uma das tarefas mais comuns da fotografia de estúdio. Catálogos são, invariavelmente, feitos dessa forma.

No processo com o qual obteve a patente, a Amazon incluiu uma detalhada descrição de como deverão ser posicionadas as luzes, o tipo de acessórios e configurações de câmera a serem usados para se obter o seu “arranjo de estúdio”, como a empresa chama a sua nova propriedade intelectual.

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Parte do processo de nove páginas que determina como é o “arranjo de estúdio” da Amazon

Sua justificativa foi o temor de que, no futuro, alguém pudesse ter essa mesma ideia e obrigasse a Amazon a pagar uma fortuna pelo uso das fotos com fundo branco. Porém, se tal argumento é válido, o que impede a companhia de aplicar o mesmo raciocínio a milhares de fotógrafos que fotografam dessa maneira?

Embora bem específico, seu arranjo de estúdio não difere muito das fotos de fundo branco que já circulam por aí, como observou o site Techdirt. No entanto, é pouco provável que alguém tenha problemas com isso, como destaca Leonardo Müller no TecMundo: “É praticamente impossível determinar se alguém violou ou não a patente da Amazon em qualquer imagem — tão difícil quanto alguém se dar ao trabalho de copiar todos os requerimentos da patente, que detalham absolutamente tudo, desde a distância e intensidade de cada flash até a altura dos objetos retratados”.

Mas uma questão importante embutida nesse caso diz respeito à facilidade com que se consegue registrar qualquer coisa nos Estados Unidos. Como reclamou o advogado Daniel Nazer, da Electronic Frontier Fundation, ao site The Register (citado por          Marco Prates no site da revista Exame), o sistema de patentes parece desprovido de bom senso.

“Mais importante do que isso é imaginar que tipo de patentes o governo norte-americano anda aceitando por aí, uma vez que a propriedade intelectual registrada por lá tem validade em uma série de países que fazem parte de um acordo internacional para proteger o conhecimento, incluindo o Brasil”, conjectura Leonardo Müller.

Ou seja, alguém pode estar querendo patentear a técnica do retrato neste exato momento…

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