Outubro também tinge de rosa a fotografia

O mês de outubro ganhou no mundo uma cor peculiar. É o mês rosa, sinalizando a campanha internacional de conscientização dos riscos do câncer de mama e de incentivo à prevenção e diagnóstico precoce da doença. O cuidado se justifica: trata-se do tipo de câncer mais comum entre as mulheres (também atinge homens, mas em escala infinitamente menor). No Brasil, são diagnosticados 50 mil novos casos por ano. Como geralmente o diagnóstico é tardio, é a causa principal de morte entre as brasileiras.

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Scar Project, de David Jay: “Exercício de consciência, esperança, reflexão e cura”

Para quem teve a doença e enfrentou o longo processo de cura, ainda terá que conviver com as marcas. Olhar-se no espelho passará a ser uma dolorosa rotina. A sobrevivente se sentirá ferida principalmente em sua feminilidade. Uma realidade que a fotografia não poderia ignorar.

Em que pese o fato de que, no Brasil por exemplo, talvez o contingente de fotógrafas seja maior que o de fotógrafos (não há dados para corroborar isso) e o assunto seja de extremo interesse, pois é preciso que todas se cuidem, abordar o tema por meio da fotografia tem sido uma forma de conscientizar – e também de “curar”.

Um exemplo de como a doença tem sido retratada pelas câmeras é o projeto Scar, do norte-americano David Jay. Fotógrafo de moda, ele se envolveu com a questão após uma amiga próxima ter sido diagnosticada, aos 32 anos de idade. Jay fotografa mulheres que convivem com o câncer, mostrando o que, ele acredita, a maioria das campanhas procura esconder: a mutilação nos seios em função da retirada das mamas (mastectomia). “Eu não vou mostrar metade da história – que tudo vai ficar bem e essas meninas têm câncer de mama, mas irão continuar com suas vidas – por que esse não é o caso”, argumentou o fotógrafo, que, por outro lado, vê o trabalho como “um exercício de consciência, esperança, reflexão e cura”.

Recuperar a autoestima também caminha nessa direção. E foi dessa maneira que o trabalho de Gina Stocco, fotógrafa que realiza ensaios sensuais em São Caetano do Sul, no ABC Paulista, aliviou o fardo de Eliane Franco, 41. Ela posou para um ensaio sensual em meio ao tratamento da doença.

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Eliane Franco posou para Gina Stocco após a mastectomia: “Descobri que mesmo sem uma mama eu posso ser uma mulher sensual”

Eliane foi diagnosticada em março deste ano, após protelar quase meio ano a consulta médica. Encaminhada ao Hospital Pérola Byington, em São Paulo, a biópsia indicou câncer de Paget. “Abriu-se um buraco em minha frente, me senti mal, meu corpo estremeceu e eu parecia não acreditar”, escreveu Eliane no depoimento publicado na página da fotógrafa (leia aqui).

Um novo exame apontou outro tipo de câncer, o Carcinoma ductal invasivo, de grau três. Eliane foi operada dia 15 de maio e foi necessário proceder a retirada da mama direita. Dia 5 de junho, em casa, ela recebeu a visita de uma equipe de televisão, que passou a acompanhar sua recuperação. A equipe a levou ao estúdio de Gina Stocco, para uma sessão fotográfica.

“Foi um dos momentos mágicos e maravilhosos que pude passar. Pude descobrir que realmente estou viva. Descobri que mesmo sem uma mama eu posso ser uma mulher sensual e que a vida realmente começa aos 40”, escreveu, agradecida, Eliane.

“Foi emocionante poder resgatar algo dela bonito num momento tão difícil”, contou a fotógrafa, que havia fotografado outra cliente em situação parecida – Rosana Vieira se recuperava de uma leucemia e posou com a marca característica do tratamento: estava completamente careca. “Me emocionei pelo fato de que seria o segundo ensaio e numa situção dessas. Hoje Eliane está recuperada e sempre me fala que o ensaio ajudou na recuperação dela e isso não tem preço”, afirma Gina.

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