Na casa do cliente: fotografia em domicílio

Fazer da casa do cliente o seu estúdio pode muito bem ser uma opção pela praticidade e economia. Nada de arcar com custos de manutenção de um local para fotografar ou de ter que comprar um caro aparato de iluminação – tudo se resume à sua câmera e um aposento bem servido de luz natural.

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Porém, por óbvio que seja, uma residência não é um estúdio. É provável que quase nenhuma tenha sido projetada prevendo uma sessão de fotos e há toda uma rotina que rege o seu funcionamento ou um absoluto caos: ambientes apertados, pouco iluminados, vizinhos que entram e saem, as crianças que brincam no quarto ao lado, um gato sismado, cachorros… elementos de um cenário bastante desafiador.

Para quem se propõe a registrar “a vida como ela é”, isso talvez não seja problema. É o caso das parceiras de fotografia Viviane Rodrigues e Juh Moraes, que já uns vinte anos praticam o que chamam de fotografia orgânica (leia mais sobre o trabalho delas aqui). Para a dupla que atua em Curitiba (PR), fotografar em domicílio não foi um imperativo econômico.

Fotografia_Organica_juhMOraes_VivianeRodrigues (5)Foi uma opção estética, feita vinte anos atrás e que envolve noções de jornalismo, sociologia do cotidiano, de filosofia da estética, entre outros estudos e práticas que envolvem o conceito de fotografia orgânica, ou seja, uma fotografia que conte mais com o imprevisível, com a espontaneidade e com o preparo técnico do fotógrafo. O conceito nasceu basicamente das reflexões de Viviane Rodrigues, enquanto jornalista e fotógrafa, nos anos 1990”, explica Juh, que há cinco anos aderiu à proposta.

Outro motivo é que elas trabalham, em geral, com fotografia erótica e softcore, o que exige às vezes do cliente uma dose a mais de encorajamento que a segurança do ambiente familiar pode proporcionar. Mas o mesmo princípio, acredita Juh, pode ser aplicado a outros segmentos da fotografia.

Creio que, para nós, as vantagens são grandes na casa do cliente. Ela ou ele ficam confortáveis, dispensamos todo o aparato do estúdio e seus gastos e contamos com nossa própria sensibilidade e técnica, o que nos desafia profissionalmente a cada ensaio”, afirma.

Por outro lado, existem algumas dificuldades. Mas isso ocorre principalmente quando o local escolhido não é a casa do cliente. Exemplo são os ensaios íntimos para casais, que elas fazem há quinze anos. Se a locação escolhida for um quarto de motel, é preciso se adaptar às condições do lugar. “Claro que motéis não foram feitos, em sua maioria, para serem claros, ali impera uma atmosfera demi-teinte, de meia-luz. Com o tempo, você se habitua a levar alguns equipamentos extras para melhorar a luz. Outra questão importante é que aprendemos a tirar proveito dessa iluminação e ter mais liberdade para acionar o botão e produzir imagens mais criativas”, destaca.

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A melhor maneira de se preparar para um ensaio “caseiro”, em sua opinião, é fazer uma visita técnica a casa, no mesmo horário marcado para o ensaio, se possível, para reconhecer as possibilidades de iluminação. “Como isso é quase sempre impossível, temos que contar com a inevitabilidade do cotidiano do cliente, invadir o cenário do ensaio. Telefone, marido, esposa, filhos, cachorro, gato, amiga que veio para dar apoio moral. Amigo que apareceu para ver como é um ensaio. Tentamos, obviamente, promover uma ação mais confortável e, para tanto, é necessária essa flexibilidade. O que nós fazemos então, como trabalhamos com o conceito de fotografia orgânica, onde o natural é mais emocional e verossímil, é tirar proveito da situação que se impõe, o que também é desafiante”, diz.

Fotografia_Organica_juhMOraes_VivianeRodrigues (4)Também é importante, em sua avaliação, promover uma boa entrevista com o cliente, para prepará-lo para o “papel” que vai assumir: “Ela ou ele, ou o casal, serão personagens de uma história que contaremos com nossas imagens e a entrevista anterior nos garante uma visão mais ampla do que são e desejam. Também enviamos referências fotográficas para o cliente antever um pouco de nossa ideia sobre o ensaio”, acrescenta a paranaense, que é formada em moda e em produção editorial multimídia e se encarrega da produção dos ensaios. Viviane aplica seu background de jornalista no sentido de obter um panorama mais íntimo de cada cliente. Do mesmo modo, durante o ensaio, cada qual contribui com seu olhar e abordagem técnica particular – Juh focando com a sua “cinquentinha” e Viviane com uma 75-300mm, na maior parte das vezes.

Como dica final para conduzir bem um ensaio em domicílio, Juh oferece o seguinte conselho: tenha domínio técnico para tirar proveito de todas as formas de luz. “Brincar com o white balance, por exemplo, e com as possibilidades técnicas da câmera”, cita. “Tente manter o ambiente clean para composições limpas. É muito interessante variar nas referências estéticas em um mesmo ambiente. Pequenos objetos ajudam muito na produção de ambientes onde menos é mais. Aproveite os vários cômodos da casa. Experimentação faz parte do trabalho de um fotógrafo. Fórmulas prontas, em um universo de tanta experimentação, só garante o enfado. E estudar sempre e tudo o que envolve a fotografia: luz, sociologia, antropologia, psicologia etc.”

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