Sobre estigmas e estereótipos vividos por uma fotojornalista, por Rafaela Martins

Neste mês de março, o iPhoto Channel contará com a participação de grandes fotógrafas brasileiras trazendo a visão de cada uma sobre a mulher no mundo da fotografia. Em comemoração ao Dia Internacional da Mulher, 08/03, trazemos à pauta o papel da mulher hoje na fotografia e as influências disso na sociedade.

O segundo artigo é assinado pela fotografa catarinense Rafaela Martins, fotojornalista há quase 10 anos, que trabalhou nos jornais do Grupo RBS por um longo período e hoje faz parte da agência Mafalda Press. Confira:

“A primeira vez que vi uma fotografia de Sebastião Salgado algo mudou dentro de mim. A foto me despertou um desejo forte de mostrar a verdade do mundo através de uma câmera. Lembro que eram fotos de pessoas morrendo de fome na África. Aquilo me tocou muito e me fez querer mostrar a verdade do mundo ao meu redor, da minha cidade e comunidade onde vivo, pela fotografia. Na época, eu estava no último ano do Ensino Médio. Tinha aquela cobrança de que rumo você tomaria na vida e comecei a pesquisar sobre fotojornalismo. Achei pouco registro a respeito e o único curso mais perto de Blumenau era o de Jornalismo na Univali em Itajaí. Então comei a cursá-lo no ano de 2000.

Fotografia de Rafaela Martins que faz parte da série "Centenários", mostrando pessoas que passaram dos 100 anos de idade
Fotografia de Rafaela Martins que faz parte da série “Centenários”, mostrando pessoas que passaram dos 100 anos de idade

Eu era a única mulher em uma turma de 35 alunos que optou pela área de fotojornalismo. As dificuldades não pararam por aí. Quando eu me formei foi bem difícil entrar no mercado, primeiro porque na época só existia uma grande empresa que dominava no mercado. Não tinha vaga e os fotojornalistas que estavam na ativa ficavam muitos anos na área. Fui morar um tempo em Porto Alegre, lá fiz muitos trabalhos de fotografia e consegui uma boa experiência para em 2007 ingressar como fotojornalista na RBS, onde trabalhei por 8 anos. Hoje trabalho em Florianópolis em uma agência de fotojornalismo, chamada Mafalda Press.

Registro de um casamento realizado dentro da Penitenciária da Canhanduba, em Itajaí/SC | Foto: Rafaela Martins
Registro de um casamento realizado dentro da Penitenciária da Canhanduba, em Itajaí/SC | Foto: Rafaela Martins

As mulheres demoraram para serem aceitas no fotojornalismo, sendo que na maioria das vezes elas eram incubidas de cobrir pautas leves, como casamento, por exemplo. Infelizmente ainda existem poucas mulheres nesta área. Sempre trabalhei cercada de homens e todos os dias eu tive que provar minha capacidade de também fazer futebol, entrar num presídio, participar de uma pauta investigativa, carregar uma lente que pesa uns 5kg e todo o resto do equipamento.

Fotografia que faz parte da reportagem "Negra Blumenau" | Foto: Rafaela Martins
Fotografia que faz parte da reportagem “Negra Blumenau” | Foto: Rafaela Martins

Os homens imperam nessa área. Sinto que pouco mudou. Ainda existe machismo e muitos obstáculos a serem vencidos. Na maioria das vezes, deixei minha vaidade feminina de lado para obter algum respeito no ambiente de trabalho. Acredito que no talento e na força de vontade como fatores que realmente importam nessa profissão. Esses são diferenciais para não desistir e vencer nesta escolha profissional ainda dominada por homens, estigmas e estereótipos.”

Rafa recebendo um carinho inesperado no meio de uma pauta. Note que o tamanduá está com um filhote agarrado em si.
Rafa recebendo um carinho inesperado de um tamanduá no meio de uma pauta, no parque Beto Carrero | Foto: Joana Gall

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Um Comentário

  1. Adorei a Matéria a respeito das mulheres nessa área.
    Realmente é um mercado muito machista, que aos poucos esta sendo modificado.
    Trabalho na área, e sei como as mulheres são competentes e tem força para o fotojornalismo.