Foto esportiva: quem não arrisca…

2013-05-11-Bras-Aquathlon-Manaus-WAB_4318-Editar
Foto vencedora do concurso: subversão às regras da composição

 Não é um mercado fácil, fotografar esportes no Brasil. Especialmente quando você se dedica a acompanhar modalidades menos conhecidas, cujo público é mais restrito. Há poucas publicações especializadas e menos ainda verba para viajar e seguir os calendários de provas. Isso acaba exigindo do profissional uma dose extra de perseverança, de esforço, bem ao estilo dos personagens que fotografa. A recompensa, às vezes, pode vir de modo inesperado.

Foi o que ocorreu com Wagner Araújo, de 32 anos, fotojornalista e editor da revista eletrônica Mundo Tri, especializada em triathlon. Na primeira quinzena do mês, ele conquistou um prêmio internacional da National Geographic, superando os outros 15 mil participantes com uma imagem de uma prova de aquathlon na praia da Ponta Negra, em Manaus (AM). Detalhe: o concurso era de fotografias de viagem.

“Raramente acontece na National Geographic”, ele salienta, referindo-se ao fato de terem premiado uma imagem de esporte. “Mas é um esporte bem contextualizado. Eu gosto muito da expressão do atleta que está à direita naquela foto, da água, a cor da água do Rio Negro é muito importante para aquela imagem, pelo fato de ser uma água escura. Então, quando eu baixei no Lightroom, vi que era uma imagem muito interessante”, destaca Wagner, que é de Belo Horizonte (MG) e pratica triathlon há uns dez anos.Cinco anos atrás ele criou o Mundo Tri e, como necessitava de imagens muito específicas para ilustrar o portal e não havia muita oferta, assumiu a função de fotógrafo: “Comecei a estudar, fiz vários cursos fora, em Nova York, e foi aí que eu realmente comecei a fotografar profissionalmente”, explica o mineiro, que acaba produzindo conteúdo para outras revistas, nacionais e estrangeiras: “Basicamente, o Mundo Tri também funciona como agência de imagens, principalmente provas como o mundial de Ironman no Havaí, umas provas que são mais complicadas de mandar alguém, a gente fornece imagens”.

2013 Race Across America
Race Across America, prova de ciclismo que atravessa os EUA: “Mudou muito a minha visão”, afirma Wagner

E quase que o destino da foto em questão foi virar página de alguma revista. Por acaso, Wagner viu o site do concurso e, intuindo que possuía uma imagem acima da média, resolveu pagar a inscrição e arriscar. Dan Westergren, diretor de fotografia da National Geographic Traveler e um dos jurados deste ano, disse ter sido fisgado pela “tensão horizontal causada pelo assunto principal em seu caminho para fora da imagem à direita”, acentuando que esse expediente depõe contra as regras clássicas da composição, o que mostra que às vezes é preciso quebrar as regras em favor de uma grande imagem. “Finalmente, a adição dos edifícios altos ao longo da orla a torna mais do que um quadro de esportes; é também um retrato de Manaus”, concluiu.

Nem tudo foi premeditado, especialmente a inclusão dos prédios (“na hora eu realmente não tinha prestado atenção neles”), mas a composição tem a marca de Wagner Araújo: “Sempre gosto de mostrar uma diferença na intensidade dos atletas. E aquele que está ali na frente estava muito mais intenso, mais rápido e agressivo, e posicionando um pouco mais para fora, saindo do frame, mostrava isso”.

2013 Cali World Games - Duathlon World Championship

2013-05-11-Bras-Aquathlon-Manaus-WAB_4245

304197_10200209887548199_1631256135_n
Wagner Araújo: risco faz parte da profissão

O mérito maior, porém, pode ser debitado na conta da atitude do fotógrafo. Enquanto os demais ficaram na areia, Wagner entrou na água, quase derrubou a câmera no rio, mas conseguiu o registro. Para ele, esse esforço é parte da profissão: “Eu sempre subo em árvore, abaixo, entro na lama quando é uma prova off-road, não tenho problemas com relação a isso e as minhas grandes imagens todas foram criadas assim, arriscando mais e procurando algo que não é muito comum”, afirma.

Wagner não fotografa apenas triathlon. Faz provas de ciclismo, atletismo, “alguma coisa de skate” e está se aprofundando no golfe, que é um esporte pelo qual se interessa: “Eu gosto muito dessa ideia de aliar paisagem com esporte, fazer um ‘sportscape’, como eu costumo chamar, acho bem interessante”. Nenhuma modalidade muito popular no país, no entanto. Ele reconhece que o mercado é restrito, muito centrado em coisas como o futebol, porém acredita que haja espaço para atuar e cita as grandes agências e bancos de imagens internacionais, como Reuters e Getty Images: “O importante é insistir no tema, insistir no que você gosta, melhorar a sua fotografia, não só do ponto de vista técnico, mas do ponto de vista artístico. Eu estudo bastante outros fotógrafos do mundo inteiro e todos eles, sem exceção, falam a mesma coisa: no início é sempre difícil, vai ser difícil a vida inteira, mas a persistência é fundamental”.

2013-05-26-IMBR-WAG_6772

Monument Valley (Navajo Historical Park) in Utah  at the 2013 Race Across America, on June 17, 2013.
Foto de Monument Valley, em Utah, durante o Race Across America

WAG_0519

WAA_1755

2013 Vila Velha ITU Triathlon Pan American Cup

Artigos relacionados