“Soy loco por ti America”

Foto: Leonardo Régnier
Foto tirada em Purmamarca, Argentina, em 2003 (foto: Leonardo Régnier)

Publicadas em sua página do Facebook, as fotos chamaram a atenção – em preto e branco, com o granulado característico do filme. Leonardo Régnier é realmente um fotógrafo “old school”, mas não é purista. O advogado catarinense criado no Paraná está empenhado em seu grande projeto fotográfico: documentar toda a América Latina. No último mês de agosto ele esteve no Peru, fazendo alguns retratos andinos com vistas à exposição Pueblo, que será exibida em março em Curitiba (PR).

“Sem nenhuma pressa, venho fotografando o povo, as paisagens e as cidades da América Latina, utilizando os mais variados meios de fotografia. A ideia é, no futuro, publicar um grande livro”, planeja Leonardo, que tem 43 anos de idade e nasceu em Joinville (SC), mas desde os nove anos vive em Curitiba.

Sua relação com a fotografia vem de família. Leonardo desconfia que os “genes” tenham sido transmitidos pela avó, que na década de 1920 manejava uma Kodak Pocket de fole e uma Agfa Isolette – ambas foram parar no acervo do neto. Ele mesmo teve a sua própria câmera aos dez anos, uma Polaroid. Quando adolescente, adquiriu uma russa Zenit 11 e começou seus estudos. “Nessa época, meados dos anos 80, minha tia de Joinville me presenteou com o seu laboratório PB completo (ampliador Durst, bandejas e demais equipamentos). Foi quando eu realmente aprendi o que é fotografia”.

Mas então chegou o momento de entrar na faculdade, cursar direito e ocupar o lugar no escritório da família. O processo tomou mais de quinze anos, entre estudos, especialização e doutoramento, período em que se manteve afastado da fotografia. Depois disso, era hora de voltar: “Hoje permaneço advogando, mas não com o mesmo ímpeto de antes, e em pouco tempo espero poder me dedicar somente à fotografia”, projeta.

Foto: Leonardo Régnier
Lago Titicaca, Peru, 2012 (foto: Leonardo Régnier)

Novamente na “pele” de fotógrafo, Leonardo Régnier se associou ao cineasta Tulio Viaro e, juntos, produziram Pescadores de Tainha, um documentário de três anos sobre uma comunidade pesqueira da Ilha do Mel, no litoral paranaense, que em 2010 virou livro, vídeo e exposição. “Enquanto ele [Tulio] utilizava cinema digital, eu fotografava apenas com filme PB. Nos mesmos moldes desse, devemos começar em janeiro próximo um documentário sobre o Rio Paraná”.

Paralelo a isso, o catarinense faz suas viagens. Na mochila, invariavelmente, vão uns 20 quilos de equipamento. Boa parte, analógico. “Dentre as minhas câmeras de uso, tem uma Rolleiflex de 1954 e uma Zeiss Ikon de 1930. Com elas, sou obrigado a fazer a leitura da luz com um fotômetro de mão e depois ajustar a velocidade e a abertura na câmera. Essa fotografia demora: requer atenção, técnica e tempo. Mas é aí que está parte do prazer que eu busco”, destaca Leonardo, que, como se disse, não é purista. “Tento não pré-conceituar a fotografia convencional digital e hoje também a utilizo, embora eu não me sinta tão confortável com isso. Pra que fique mais fácil a compreensão, é como eu jogar uma partida de futebol na casa do adversário”, compara.

Foto: Leonardo Régnier
Ccorao, Peru, 2012 (foto: Leonardo Régnier)

O mesmo ocorre com a cor. Desde que a cena peça algumas, ela as terá. Porém, a preferência recai no preto e branco. E foi livre de amarras estéticas ou elucubrações sobre tecnologias que Leonardo começou, em 1988, seu projeto América Latina. “Mas o material começou a tomar forma mesmo a partir de 2003. Nesses últimos nove anos eu visitei vários estados das regiões norte, nordeste e centro-oeste do Brasil, percorri (de carro) toda a Patagônia e Terra do Fogo, atravessei várias vezes a Cordilheira dos Andes, estive algumas vezes no Deserto do Atacama, no Peru e na Bolívia, sempre de carro”, detalha.

Leonardo pretendia manter o material inédito, mas os amigos o incentivaram a antecipar sua divulgação. Assim, algumas fotos foram parar no Facebook e a exposição Pueblo foi pensada. Com estreia marcada para o início de março, no Museu Guido Viaro, em Curitiba, terá entre 20 e 25 retratos feitos no altiplano andino.

Foto: Leonardo Régnier
Ccorao, Peru, 2012 (foto: Leonardo Régnier)
Foto: Divulgação
Leonardo Régnier: fotografar com digital é como jogar no campo do adversário

Falando em retrato, o fotógrafo diz que se especializou em “fazer-retratos-de-pessoas-que-não-querem-ser-retratadas”: “Uma coisa é você fotografar o rosto de uma modelo ou de alguém que pagou para fazer um book; outra coisa é você fotografar o rosto de uma pessoa diminuída pelo contexto social, envergonhada ou até humilhada, e que a princípio não quer ser vista na situação em que se encontra”. Para obter esse tipo de foto, ele acredita, é necessário antes conquistar a confiança do fotografado. Durante o Pescadores de Tainha houve tempo até para almoçar com os pescadores, e a relação de confiança se estabeleceu.

“Mas às vezes não existe esse tempo, e você tem apenas uma chance de acertar no retrato. Então as dicas são: respeito, humildade e um pouco de simpatia, mas principalmente respeito. Deve-se evitar fotografar alguém sem antes pedir licença (aprendi isso da maneira mais difícil, quase apanhando) e sempre conversar um pouco antes de apontar a câmera, não importa o assunto, essa conversa serve pra ‘quebrar o gelo’. Fora isso, deve-se ter noção do equipamento certo para cada situação, mas a regra, a princípio, é: quanto menor e mais discreto, melhor. Uma câmera montada com grip, lente 100-300 com parassol e flash na sapata pode ser normal para uma modelo, mas com certeza vai irritar um desconhecido ou afugentar uma pessoa simples”, ensina.

Galeria de fotos de Leonardo Régnier

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