Libertine pela causa “low Photoshop”

Não faz muito tempo, mostramos no Photo Channel o projeto Nu Real, que levanta a bandeira da fotografia de nu ao natural, feita com mulheres ditas “normais” e sem intervenção de pós-produção. A iniciativa não é solitária. Ao contrário, tanto aqui quanto no exterior tem havido uma espécie de volta ao básico na fotografia de nu, em reação aos editoriais de revista e publicidade que expõem o corpo da mulher de um modo flagrantemente irreal, fruto do uso ostensivo de manipulação digital.

Seguindo a linha “naturalista” existe, há um ano, o www.libertine.nu, idealizado pelo publicitário e professor universitário de fotografia e produção de tevê Neto Macedo. Mineiro de Montes Claros, 25 anos de idade, Neto lançou o projeto para dar vazão à sua produção e também para exaltar a fotografia feita sem subterfúgios, valorizando a beleza natural da mulher.

Neto Macedo: “O problema não é modificar a realidade e criar uma fantasia, é criar uma fantasia e dizer que é a realidade” (foto: Gui Soares)

Fotografando há pouco mais de três anos, Neto “debutou” no nu artístico seguindo o caminho usual, que é fotografar a própria namorada: “É minha ‘modelo de testes’ até hoje. Comecei a fotografá-la de brincadeira, a seu pedido, com uma câmera compacta de pilha, sem nenhuma pretensão”, recorda.

Depois disso, começou a procurar outras modelos: “No início, passei por algumas dificuldades. Demora um tempo até você aprender a passar confiança e profissionalismo às potenciais modelos, mas depois de apanhar bastante, consegui duas amigas dispostas a posar. O resultado desse trabalho com elas foi o portfolio utilizado para convidar outras garotas”, explica.

Com o lançamento do Libertine, o garimpo terminou. O site promove um cadastro de voluntárias e, desde o início, a procura tem sido grande. Segundo o idealizador, o número de interessadas já passa de 200. Garotas de todo o Brasil, o que gera uma dificuldade logística, uma vez que Neto Macedo não dispõe de tempo para viajar, optando por fotografar as moças próximas a ele ou que se disponham a ir ao seu encontro.

Em vista da demanda, Neto resolveu convidar outros fotógrafos: “Acho egoísta manter o projeto para mim, tendo tantos talentos da fotografia em nosso país. Acho que o Libertine pode crescer muito mais e ter uma mensagem muito mais forte com um número maior de fotógrafos. Porém, ainda não publiquei nenhum ensaio de fotógrafo convidado. Alguns já fizeram cadastro lá, se dispondo a participar, mas por diversas razões ainda não foi possível acontecer”.

Não há cachê envolvido. “As garotas ganham um DVD com as fotografias, que não considero como pagamento, mas sim como o resultado de um trabalho em conjunto, entre fotógrafo e modelo”, informa o mineiro, que procura desenvolver os ensaios seguindo duas premissas: baixo custo de produção (quando não custo zero) e trabalho em regime colaborativo: “Trabalhar com garotas sem experiência em serem fotografadas é sempre uma surpresa. Não existem regras nem fórmulas. Tento fazê-las participar ao máximo comigo. Gosto quando elas propõem ideias e converso muito, ao mesmo tempo que fotografo sobre coisas que nem sempre estão relacionadas ao ensaio. É uma sessão de conversa e risadas, só que com seriedade”, destaca.

Apesar de propor um contraponto ao uso do retoque em fotos de beleza (ele aplica apenas tratamento de cor e contraste: “A única exceção foi uma modelo, que tem duas cicatrizes muito grandes nos seios, por causa de uma cirurgia malfeita, e isso eu tirei”), Neto não é xiita em relação ao Photoshop. “Acho que ele é uma ferramenta incrível, que só facilita a vida de quem lida com imagens. A grande questão não é o uso do software, mas sim como ele é usado. O problema hoje em dia não é modificar a realidade e criar uma fantasia, é criar uma fantasia e dizer que é a realidade. Isso, principalmente na publicidade e na moda, tem gerado repúdio por parte do público”, acredita, vendo nessa reação um combustível para iniciativas como a sua, que pregam a valorização do corpo feminino tal como ele é.

“O objetivo inicial do Libertine era ser um canal para eu me expressar artisticamente, um espaço para que eu pudesse postar meu trabalho de nu, mas hoje acho que sua função principal é passar essa mensagem de beleza natural, que toda mulher tem sua beleza, que é diferente de outras belezas, dependendo somente dos olhos de quem vê”, afirma.

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3 Comentários

  1. Trabalho incrível, como disse antes, a poesia e arte impressas em imagens de forma sutil e natural, mais não de forma comum, esses garotos tem o poder de inovação, extremamente visível. Parabéns Libertini.