Lucca: um pé lá, outro cá

A fotografia de Lucca Messer (só Lucca, ele prefere) é um produto de dois mundos. Dois países, para ser mais preciso. Nascido na Inglaterra, criado no Brasil dos quatro aos treze anos, tendo depois retornado à Europa para estudar, ele voltou para São Paulo no final de 2011. Tem trabalhado aqui desde então, mas planeja voltar ao Velho Mundo.

Lucca tem só 21 anos. Aos dezesseis, largou a escola secundária antes das provas finais em favor da fotografia. Em 2009, entrou na Arts University College Bournemouth (AUCB), no condado de Dorset, litoral sul da Inglaterra. “Entrar no curso de fotografia não foi fácil, pois a competição para estudar lá era imensa. Lembro que durante a entrevista fui honesto e contei a história de ter largado tudo para estudar lá; fui um dos convocados”, conta.

Seguiu-se um ano de estudos intensos. Na metade disso, o rapaz já tinha desenvolvido um portfolio. Com dezoito anos, começou sua experiência profissional fotografando para agências locais. “Fui atrás de quase todas as agências da cidade, literalmente batendo de porta em porta para mostrar o meu trabalho. Ganhei muita experiência durante esse tempo”, acredita. Cinco meses depois, por indicação de um professor, fotografou um editorial para a revista da Mercedes Benz.

Lucca: é preciso dar chance a novos talentos 

Sem perceber, Lucca direcionou seu foco para a moda. Assistiu a muitos fotógrafos dessa área, tendo inclusive trabalhado para Mario Testino no Rio de Janeiro. “Devo dizer que isso aconteceu naturalmente. Não consigo explicar, mas sempre fotografei pessoas, desde o princípio gostei de criar imagens e não capturá-las. A mágica de criar uma história em uma cena sempre me atraiu muito. Com isso vem a necessidade de trabalhar com uma equipe, que também é sempre um desafio que me atrai”, explica.

Para ele, há uma diferença marcante entre o mercado europeu e o brasileiro: “Por ser um país com uma grande divisão de classes, [aqui] as marcas e suas campanhas são mais focadas em grupos de consumidor. Nisso vêm uma certa restrição de orçamento e menos atenção com qualidade de imagem para a venda do produto. Obviamente, orçamento não tem a ver com qualidade de resultado, mas é difícil ver um meio termo de qualidade por aqui. Algumas campanhas são muito boas, outras péssimas”, aponta.

Por outro lado, ele vê o país com potencial de crescimento na área, por conta dos novos talentos que surgem amparados pelo aparecimento de novas marcas. “Para isso, deve existir uma confiança e um pensamento de cabeça aberta para que ambos consigam desenvolver e criar uma identidade visual própria. Outra coisa que falta é essa confiança no artista emergente. Infelizmente, isso limita a possibilidade de reconhecimento de novos profissionais que podem ter muito a oferecer”, opina.

Ao falar sobre o próprio trabalho, Lucca não vê um olhar “gringo” ou “nativo” naquilo que faz. Crê na fusão de elementos, fruto da vivência no exterior e da predisposição em aceitar novas ideias. Uma característica, porém, ele assume: “Gosto de cores vibrantes e tento talvez criar um certo drama com a iluminação. Luz é sem dúvida o meu foco na criação de uma imagem. Para mim é essencial visualizar e entender a projeção de luz de qualquer fonte, seja natural ou artificial”.

No fim do ano, ele pretende retornar a Londres. Nos planos está um mestrado em fotografia. “Estou trabalhando em um projeto em parceria para analisar a reação emocional e física de modelos depois de ter contatos sensoriais. O estudo questiona como mensagens subliminares e a manipulação de alguns de nossos sentidos, durante um ensaio fotográfico ou durante qualquer direção artística, podem ser mais eficazes do que a direção verbal entre fotógrafo e talento. Se o projeto for aceito, retornarei a estudar por mais um ano”, projeta.

 

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