Social: a equação de Rafael Karelisky

Foto de Rafael premiada no concurso da associação internacional Fearless Photographers

Rafael Karelisky, 26, é um cara que “enche o saco” muito rápido das coisas. Ele mesmo diz isso. Formado em design gráfico e com mestrado na área, o paulistano ficou pouco tempo na profissão. Resolveu migrar para a fotografia, que era uma opção quando ele entrou na faculdade. Foi fazer casamentos. Uma escolha improvável, mas que está dando certo. Afinal, Rafa não tem muita paciência, e o casamento impõe demasiada rotina… Mas funciona porque ele achou a equação certa.

Rafa consegue renovar seu tesão pelo trabalho por causa de alguns detalhes. Primeiro, sua cobertura é feita a seis mãos. O fotógrafo faz questão de trazer os noivos para dentro do processo, de dar espaço para que participem e se envolvam naquilo que será feito. É curioso, porque ele também reconhece ser um sujeito centralizador. Porém, encontrou na parceria com seus clientes o denominador para que o casamento alimente seu desejo de expressão. Para isso, exige em seus contratos liberdade absoluta para criar. E seus casais correspondem, o que acaba virando uma grande diversão.

Tudo isso resulta que, ao contrário do que lhe sugeriu o autor deste texto, para ele casamento não é tudo igual. Era quando ele começou, um pouco antes de estabelecer sua própria marca. Na época, fazia 80 casamentos por ano, uma loucura. “Não sabia nem o nome dos noivos”, admite. Hoje em dia não pega mais do que trinta. Nesse ritmo, tem a possibilidade de conhecer a fundo seus clientes, de saber coisas que, lá no dia do “sim”, irão resultar em fotos muito particulares. E ainda sobra tempo para cuidar da burocracia – mas disso ele deve se aborrecer em breve.

“Para quem vê de fora, casamento parece tudo igual. Para o convidado e o casal, não é”, argumenta. E nisso está outro aspecto importante da sua abordagem: ao compor, ele procura ver as coisas com o olhar de dentro e, assim, enxergar de modo diferente. “Por exemplo, na entrada da noiva, eu quero que a foto tenha o que a noiva viu e o que ela não ficou sabendo”, explica. Para clarear, Rafa cita uma foto na qual concentrou o foco no olhar do avô, capturando a entrada da noiva sob o ponto de vista desse personagem. “Consigo isso pouquíssimas vezes, mas é o que eu quero”.

Apesar de falar de uma imagem clássica, o fotógrafo é avesso a clichês. Foto de aliança, nem pensar! Noivos correndo e chutando ondas do mar? Um horror! “Que casal faz uma coisa dessas?”, questiona. Rafa quer verdade nas fotos, prefere fotografar seus noivos comendo sanduíche na feirinha da Liberdade, como fazem todo dia. Para ele, verdade vende.

Rafael: verdade vende (foto: autorretrato)

“A ideia geral é esta: eu me deixo surpreender pelo casal. Eu vou de peito aberto”, afirma. Então, ouça o que ele diz: rasgue aquele check-list, aquela relação das fotos obrigatórias. “Assim, você vai para o casamento da pior forma possível, porque não vai ver nada diferente disso. É um cabresto”. Melhor ir e ver o que vai acontecer.

Mas, é claro, amanhã ele poderá estar dizendo exatamente o contrário. Rafael é inconstante. Para 2013, seu mantra é “seja mais paciente”. Em dezembro, ele participou de um workshop no interior de Minas com Fer Juarist e Daniel Aguilar, fotógrafos mexicanos de casamento que são como heróis para ele. Deles ouviu: “Fique calmo”. A experiência virou sua cabeça, demoliu seu purismo, o fez rever o portfolio: “Estou cropando sem dó”, garante. Percebeu também que é preciso clicar mais, porém em menos situações. Concentração, foco e paciência, eis a receita.

De tudo isso resta uma certeza, expressa no retorno das noivas, agora grávidas, querendo retomar o álbum de fotografias. “É sinal de que você fez tudo certinho”, diz, com modéstia. Sinal também de que a liberdade de criação, a participação extensiva dos noivos e uma variável enorme de possibilidades rende uma bela equação.

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