Rafael Vaz, o fotógrafo sem medo

Rafael Vaz está se tornando uma figurinha fácil nas premiações da Fearless, a associação internacional de fotojornalistas de casamento. Natural de Santos (SP), 24 anos de idade, o fotógrafo praiano já papou quatro prêmios da entidade. Tudo por conta de um jeito de fotografar que foge muito ao comum. E que é mérito de um cara que soube superar uma bela puxada de tapete e a desconfiança materna em favor do projeto pessoal.

Formado em publicidade e propaganda pela Universidade Católica de Santos, Rafael tinha dezesseis anos e fazia estágio em uma empresa com sede nos Estados Unidos. Certo dia, um amigo que morava lá viria visitar o Brasil. Rafael encomendou um notebook e, de última hora, uma câmera. “Aprendi quase tudo sobre fotografia através de fóruns e conheci um grande amigo que me apresentou um fotógrafo profissional”, lembra o santista, que recebeu deste a seguinte proposta: trabalhar durante seis meses como aprendiz; depois começaria a ganhar algum fazendo casamentos.

Ele então decidiu comprar uma câmera profissional. “O mais legal da história é que todo o dinheiro que usei para comprar a câmera foi deixado pelo meu pai quando ele faleceu. Minha mãe sempre foi contra eu ser fotógrafo, ela dizia que eu estava jogando a faculdade no lixo”, revela, destacando que uma das poucas recordações paternas que restam é o álbum de casamento dos pais: “É a melhor recordação que tenho dele e de como nasci. Quero que meus clientes sintam o que eu sinto quando vejo aquelas fotos”, diz, solene.

Rafael Vaz: “Gosto do meu medo” (foto: Laura Garcia)

Passaram-se os seis meses e o chefe concluiu que ele ainda não estava preparado. Tudo bem, pensou Rafa, satisfeito apenas em vestir seu terno e fotografar, não importava se sexta, sábado ou domingo. Acontece que, folheando um jornal, viu um anúncio do seu patrão. As três fotos que ilustravam a publicidade eram do aprendiz.

Rafael resolveu questionar o fotógrafo, que lhe indicou a porta da rua: “Foi um dos piores momentos que vivi. A pressão da minha família para sair da profissão e arrumar um estágio e a minha decepção com tudo aquilo que tinha acontecido. Considerava aquele fotógrafo como um pai para mim. Decidi procurar outros fotógrafos, que me deram oportunidade e principalmente liberdade”, conta o rapaz, que teve como aliado o próprio temperamento.

“Sempre fui tímido, não era um adolescente de sair para balada, então todo dinheiro que ganhava investia em cursos e mais equipamentos. Meu primeiro curso foi um de iluminação avançada de moda, ele me ajudou muito. Eu sabia que bancar um estúdio sem ter casamentos era difícil, então consegui uns clientes de fotografia de moda que me ajudaram a pagar as contas enquanto não tinha casamentos”.

Mas logo os casamentos vieram. No primeiro ano como empresário, em 2010, fez apenas três. No segundo, foram quase 50, média que se manteve até o ano passado. A meta agora é diminuir, até chegar ao número ideal de 35 eventos por ano. “Agora meu projeto é fazer mais ensaios de família, fiz alguns recentemente e gostei muito”, planeja Rafael, que possui estúdio e mantém dois funcionários, um para cuidar da agenda e do marketing e outro para desenvolver o layout dos álbuns.

Com os prêmios da Fearless (ele também ganhou um da Wedding Photojournalist Association) e o quarto lugar no ranking de fotógrafos brasileiros da associação para atestar, Rafael sabe que vive um ótimo momento, ainda mais se levarmos em conta o começo complicado. O êxito, no entanto, não é suficiente para superar a imbatível timidez: “Eu vou ser sempre um fotógrafo com medo”, brinca, admitindo que já deixou de fazer boas fotos por receio de apresentar a ideia aos noivos. Por outro lado, a condição o faz mais observador e discreto durante as cerimônias.

De todo modo, na próxima semana ele terá um belo teste pela frente: será um dos palestrantes da Semana da Fotografia, em Balneário Camboriú (SC), e terá que falar para mais de 500 colegas de profissão. As pernas tremem só de pensar, mas é apenas mais um desafio a que ele se propôs enfrentar. Fotógrafo com medo? “Eu gosto do meu medo, pois ele me faz desafiá-lo. Se eu não tivesse medo, não teria a sensação da conquista, então quero estar sempre tentando vencê-lo”.

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