Casamento com sotaque lusitano

Portugal, com sua suntuosa arquitetura barroca e moderna, oferece um cenário perfeito para ensaios de noivas. Miguel Araújo, de 44 anos, fotógrafo lusitano de casamentos, leva essa condição como marca de trabalho. Ele se aproveita do valioso background disponível para compor imagens requintadas, ricas em detalhes, precisas na justaposição do clássico com o contemporâneo. O resultado, porém, não é mérito exclusivo da harmonização dos planos, mas do uso que Miguel faz de outra vertente fotográfica: a moda.

“Já quando eu gravava, olhava para as capas das revistas e me perguntava o porquê dos fotógrafos de casamento não conseguirem fazer fotos iguais às das revistas. Por isso, essa foi a minha primeira influência, seguida da minha paixão pela composição de linhas, que faz com que as minhas fotografias tenham sempre harmonia”, explica o cidadão de Barroselas, vila portuguesa do distrito de Viana do Castelo, região norte do país.

Miguel começou a cobrir casamentos como cinegrafista e exerceu essa função durante algum tempo. A mudança para a imagem estática se deu a partir da presença de Sarah Araújo, 30, brasileira de João Pessoa (PB). Os dois estão juntos há quase nove anos e desde 2007 administram a Evofotógrafos, empresa de foto e vídeo social que executa uma média de 90 cerimônias por ano e tem dez profissionais na equipe. Embora ofereça os dois serviços, seu produto principal é a fotografia, pois é mais valorizado (o pacote sai a partir de 2 mil euros – cerca de R$ 5.600).

Sarah e Miguel: transição do vídeo para a fotografia

Sarah não tem só função administrativa no negócio, mas papel importante na manutenção da estética fotográfica do marido, pois é responsável pela pós-produção das imagens. Sua tarefa é recuperar detalhes que a captura não conseguiu evidenciar, conferindo maior dramaticidade às cenas. “Tento aplicar o máximo de beleza e glamour para que as noivas se revejam naquele dia com a perfeição a qual sonharam a vida inteira, pois o retoque nem sempre se trata de tirar ou aplicar coisas, e sim de revelar beleza aos olhos de quem não a consegue enxergar”, explica a retoucher.

Embora tenham feito alguns casamentos na Espanha e na França (e estejam ávidos por um convite para vir ao Brasil), o trabalho do casal se restringe mais a Portugal. É um mercado que, apesar das particularidades culturais que influenciam na dinâmica de trabalho (“um fotógrafo aqui trabalha em média 15 a 20 horas em um casamento, e dividimos por partes: casa do noivo, casa da noiva, cerimônia, festa”, exemplifica Miguel), enfrenta os mesmos desafios que os demais colegas, todos em função principalmente da maior oferta de câmeras no comércio.

Exemplo da “mão” de Sarah, conferindo maior drama à cena

“Hoje, por possuir uma máquina digital, qualquer um se acha capaz de ser um fotógrafo de casamento, entrando no mercado com baixos preços e criando a chamada ‘concorrência’”, observa Miguel, que faz eco aos demais fotógrafos estabelecidos quando o assunto é apontar caminhos aos aspirantes sérios: “Eu costumo dizer, para quem faz a fotografia das alianças na água, que o barateiro também a faz. E se queremos ter mercado e não sermos afetados pela concorrência, temos de sair da nossa zona de conforto e fazer algo distinto, diferente. Nós não somos apenas fotógrafos, somos artistas, e como tal o nosso trabalho tem que ser respeitado e valorizado”, defende o premiado fotógrafo, com distinções pela Associação de Fotógrafos de Portugal e grau de mestre conferido por essa entidade e pela Federação Europeia de Fotógrafos.

Sobre a fotografia social praticada no Brasil, ele reconhece ter pouco a dizer. “Na verdade, não tenho muito conhecimento sobre a fotografia de casamento no Brasil, mas tive uma ótima impressão através do Everton Rosa, um fotógrafo que me chamou muito a atenção por sua arte e por ser também um empreendedor. Me identifico muito com ele!”, cita.

 

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